domingo, 30 de junho de 2013

Junho foi mês de…

… voltar a casa. De sentir que não há apenas um mas vários lugares onde pertencemos ao longo do tempo. De receber amigos. De ser mimada. De jantares inesperados e por isso mesmo insuperáveis. De bairros enfeitados de cor e da alegria das gentes da terra. De sangria e febras no pão, que as sardinhas não entram comigo. De voz esganiçada a cantar as marchas. De olhos marejados de lágrimas de tanto rir. De bailaricos pela noite fora. De Lisboa que se entranha a cada arraial. De caminhadas pelo campo. De Parabéns cantados a várias vozes mas com um só sentimento. Da união de destinos do H. e da J. De ânsia pelo Sol que tardou. De desejo de recomeço. De vontade de (con)viver.

sábado, 29 de junho de 2013

Ainda sou do tempo em que o Perna de Pau sabia a morango verdadeiro e não a uma nhanha agelatinada como agora.

Muito, muito antes da moda das Havaianas chegar a Portugal (à minha aldeola, pelo menos), existiam uns chinelos de dedo azuis, com umas riscas no meio da sola tipo arco-íris. Todos os Verões, comprovando que crescera, tinha direito a um par novo, que comprava na mercearia do costume. Era isso e o belo do Mini-Milk ou aqueloutro gelado cujo nome ignoro com sabor a banana. E, meninos, era feliz. Oh se era!
 
Entretanto a minha tia [atolambadinha que dói], a descer da Scotter, de chinelos, pregou uma tamanha panada num pedregulho que até a unha do dedo grande lhe saltou. Comecei então a preferir sapatecas fechadas. Só porque sim.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Parabéns P., tu que tanto gostas de celebrar a vida.

A P. fez anos há mais de uma dúzia de dias. Era suposto ter tido direito a post personalizado, mas eu andava cinzentona e as pessoas, as minhas pessoas, merecem-me apenas o melhor. Ainda por cima a P., que já teve o pior de mim. Ficou para depois. E agora ando aqui com uma data de coisas para dizer sobre ela, que vão desde a admiração pelo talento e pela dedicação à sua arte, até ao respeito que lhe tenho pelo profissionalismo e empenho. Mas é sobretudo a alegria de a saber ali, aqui tão perto se necessário for, tão feliz e realizada. Depois de tropeções, de dias enevoados como o camandro, regados a água que era chuva e lágrimas.
E, como me escasseie o talento para o dizer melhor, declaro apenas que a gratidão é das minhas virtudes preferidas. E à P. estou-lhe grata. Pelas horas roubadas, pelo refúgio, pela compreensão. E até por coisas que ela nem sabe que fez por mim, mas que fez, estando apenas e acreditando em mim quando eu mesma não o fazia.
P., que nos seja dado viver por muitos anos e que a caminhada que ainda temos pela frente seja como a deste ano: tão plena de amor e de amizade.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Ao primo D.

No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada,
Uns por verem rir os outros
E os outros sem ser por nada.

No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada...


No comboio descendente
Vinham todos à janela,
Uns calados para os outros
E os outros a dar-lhes trela.

No comboio descendente
Da Cruz Quebrada a Palmela...


No comboio descendente
Mas que grande reinação:
Uns dormindo, outros com sono,
E os outros nem sim nem não. 
No comboio descendente
De Palmela a Portimão...


Fernando Pessoa

13-11-1926


Como diria o Gil Vicente, esse grande pândego, muito folguei em ter tido a sua companhia nestes dias que tão rápido passaram. Obrigada pela serenidade, pelas gargalhadas e, sobretudo, pelo sarcasmo tão do nosso apreço.
 
 

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Coisas com que não posso nem à lei da bala #1

Migas é uma açorda! Se queremos referir-nos a alguém do nosso círculo de amizades usemos "AMIGA/O". Poupai-me à bimbalhada da "miguice".

terça-feira, 25 de junho de 2013

Apetece-me a Ásia. Em vez disso fico-me pela valente da azia.

Enquanto anda tudo numa lufa-lufa a tratar das férias, à procura da viagem mais barata, da diária mais em conta, dos destinos mais in, eu limito-me a marcar passo porque nem sequer sei quando vou poder marcar férias. Até poderia dizer que é por indisponibilidade horária (vulgo, falta de pilim) que não me ponho a magicar com outras paragens. Mas a verdade é que, depois de hoje me cruzar com uns mochileiros show di bola, temo que se chegar a ir já não volte. E nem importa muito aonde, desde que seja para oriente. Sempre para oriente. [Suspiro profundo!]

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Não é karma. Não é destino. Sou eu e pronto.

Se não me desgrenhei nem desatei a chorar este fim-de-semana perante a tamanha desgraça fashionista que me sucedeu, asseguro-vos desde já que será tarde que o farei e apenas por motivos de força maior. Mas mesmo assim maior de mais grande, mesmo.
Sábado foi dia de casamento de amigos. Sexta à noite - que eu é tudo assim às pressas e em cima da hora - a experimentar a saia que iria usar, dou-me conta que a desgraçada teima em encravar ali por altura das ancas. Ora, eu lambazona confessa, tive até o cuidado de me portar bem à mesa nas semanas prévias e, verdade seja dita, não estou com umas trancas a la Jennifer ou a la Beyoncé que justificassem tamanho desfasamento nas medidas! Vai de telefonar para a modista para ver o que se pode fazer já que a culpa foi dela por ter cosido o forro à medida do elástico. Pode parecer despiciendo mas este pormenor faz toda a diferença: o elástico estica, o cetim nem por isso. Nos entretantos, já dez marmanjões me aguardam na sede da Junta, esperando o início da Assembleia, enquanto eu, stressada, ando a conduzir que nem uma maluca de um lado para o outro. Três horas depois, muita ida e muita volta, eis que a saia me assenta que nem uma luva. Forro devidamente arranjado, problema resolvido.
Tarde seguinte. Vestir o top revela-se uma autêntica recriação do "E tudo o vento levou", quando a Nanny tenta ataviar a Scarlett com um corpete minúsculo para a desgraçada ficar com uma cinturinha de vespa... anoréctica e subnutrida! O verniz das unhas da S. num fanico de tanto puxar o fecho, a R. a bufar de tanto repuxar o tecido, eu à beira do desmaio com falta de ar e a desconfiar de uma costela anormalmente saliente. Mais puxão menos puxão, a coisa deu-se. Aliás, o que deu foi mesmo o filho de uma grandessíssima meretriz do fecho que, ao primeiro desvio da postura parece-que-comi-um-garfo-e-estou-mais-direita-do-que-um-poste, encomendou a sua alma ao criador. Ainda nem sequer tínhamos entrado na Igreja! A custo repetiu-se a operação de encarceramento e, tentanto mexer apenas a cabeça, lá segui - sabe Deus como! - até ao altar para fazer uma leitura. Nas "bancadas", atentas ao meu respirar compassado, a S. e a R., perdidas de riso a imaginar que era uma questão de tempo até alguma coisa sair dali disparada. Lá se aguentou e ainda não foi desta que o padre se deslumbrou com umas "margaridas" dignas desse nome. Mas como estava destinado a não correr bem e não, pimbas, o fecho fanicou pela terceira vez. Corrida até à loja de chineses mais próxima, écharpe comprada para disfarçar as costas desnudadas, vestido suplente na mala e ala para o copo-de-água. Valem-me nestas alturas de provação as almas caridosas que, muito esporadicamente, me cruzam o caminho e que entre um retoque e outro lá conseguiram solucionar o que parecia irremediável. A gota de água não foi a gamba, nem a postinha de bacalhau, nem a batatinha assada que desgustei durante o jantar. Não foi por ter comido que nem uma perdida que aquele último esticão se deu. Foi um abraço que fez finalmente disparar o fecho de vez. Corrida até ao carro, vestido trocado mesmo ali, à beira da estrada (que bem que isto agora soou), e toca a aproveitar o resto da noite que o baile ainda só agora começou. Ai, espera. Para corolário do disparatado dia, eis que me esqueci de levar sapatos confortáveis. A alternativa? Umas sandálias perdidas na mala do carro que, apesar de serem compensadas e levezinhas, não são nenhumas pantufas. Resultado óbvio: quando finalmente dei com os costados na minha caminha até a ponta das unhas me doiam. Mas tirado isso acho que (me) correu tudo maravilhosamente. Mal posso esperar pelo próximo. Estou tentada a esforçar-me para acrescentar um detalhe tipo gesso ou assim. Cuido que era capaz de compor a toilette...

sábado, 22 de junho de 2013

Já não estás, mas ainda és.

Muito depois de saíres de casa o teu cheiro ainda pairava no ar. Às vezes imobilizava-me à entrada de uma divisão porque sentia no ar a tua impossível presença ali. Aliás, tu ainda estavas ali, nas tuas coisas deixadas ao acaso, nos teus gestos que a minha memória teimava em evocar, no eco inexistente da tua voz que por vezes julgava ouvir. Longe de me atormentar, a tua presença amenizava as saudades de não te poder ver. Há mais pessoas a usar o teu perfume, a vestir roupas como as tuas, a comer nos mesmos sítios que nós, a ouvir as mesas músicas e a ler os mesmos livros, mas ninguém diz o meu nome como tu o fazias. Contudo, como li recentemente algures, as saudades são preciosas de mais para as desperdiçar em memórias. Fomos felizes enquanto nos foi dado viver no mesmo tempo e no mesmo espaço, e isso é tudo o que importa.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Pareceu-me até ouvir um "Vá lá ver, é tudo a 5€, ó freguesa!"

Há quem veja na majestosidade do Taj Mahal, na beleza do rosto do Brad Pitt, na singularidade de um golo, na perfeição do corpo da Bar Rafaeli ou até mesmo nos meus lindos olhos a prova de que Deus existe. Há quem pasme, justamente, perante paisagens a perder de vista. Já eu tive recentemente a prova de que o Inferno também é coisa para ser real. Entrei numa certa H&M. Não consigo dizer mais nada sobre a dilacerante experiência por que me foi dado passar. Ainda estou fortemente medicada.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Da minha janela vejo o mar. Apetece-me o que está para lá dele.

Uma pessoa gosta da vidinha que leva. Tem de fazer por gostar ou então procurar mudar o que está menos bem. Uma pessoa esforça-se por se adaptar. Tem até a sensação que sim, que são mais os dias em que anda nas nuvens porque o coração se fez leve. Até ao dia - porque esse filho de uma grande meretriz acaba sempre por chegar - em que uns fedelhos amorosos se abeiram de nós, passamos uma tarde de regabofe a ensinar umas coisas aos miúdos e pimbas, no dia seguinte os espaços até onde agora nos sentíamos bem voltam a ser claustrofóbicos. E aquelas vozinhas que desde há tantos anos teimam em zunir aos ouvidinhos voltam a clamar por liberdade. O que raisdiabos estou eu aqui a fazer? Hoje os pés são de chumbo porque o coração voltou a estar carregado de lágrimas.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Digo-vos eu que o Noé era tudo menos parvo!

Brian Adams, meu menino, o teu verão de '69 deve ter sido uma pândega, que deve. Acredito que that summer seemed to last forever, de facto. A tal ponto que, em calhando, el Verano se esgotou todo nos idos sessenta. Porque no ano da graça de 2013, em meados de Junho, chegar à porta de casa e constatar que chove tanto que  usar a palavra dilúvio é um eufemismo e, por isso mesmo, ter de voltar atrás para descalçar a sandaloca e me ataviar com a bela da botifarra é, só assim de repente, uma grande porra!

Qual é o cúmulo do azar?

 
Se não fosse trágico era cómico (tão, mas tão fucking cómico).
 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Alerta máximo: corro o risco de se vir a constatar que afinal sou um coração molengas!

Não sei que desarranjo gravíssimo sofreram estas hormonas que me habitam que agora deu-me para isto: fico de lagrimazita no olho com as criancinhas doentes, quase se me pára o coração com as histórias sofridas dos velhinhos, dei por mim a emocionar-me com as pessoas que recebem contactos dos seus entes queridos via além e um dia destes esbocei um sorriso quando vi uma noiva. Ou estou a chocar alguma ou ando a ver TLC em demasia! Ao que uma pessoa chega, credo!

domingo, 16 de junho de 2013

Receita para a desgraça.

Os amigos já cá estavam. Os primos fizeram o "sacrifício" de aparecer. Um telefonema. Jantar marcado. E outro. E outro. O resto? O resto é feito de noite iluminada pelas lanternas coloridas, pelas fitas emaranhadas que atravessam de janela a janela, pelo cheiro a sardinha assada, pelo fumo que se entranha mas no qual ninguém repara, pelas ruas em confusão, pelas pessoas que convergem para os becos e  bairros, por pregões lançados por vozes pujantes, por matronas bem providas de carnes que se abanam escadarias acima, pelo cheiro a farturas e a churros, por casais que se abraçam, por raparigas lindas que dançam embaladas pelas marchas, por copos que tilintam (ok, tilintar se calhar é de mais que nestes dias é tudo de plastique e upa upa) em brindes infindáveis, por gargantas roucas de cantarolar até de madrugada, por risadas partilhadas, por regressos a casa quando o dia começa a clarear, por um trautear que fica no ouvido e não mais me abandona(rá). Lisboa, que linda que ela é!
 
 
* A bem da verdade deveria dizer que é também dores de cabeça, sonos trocados, corpos moídos, pés esfalfadinhos. Mas que sa lixe. Isso são apenas pormenores.

sábado, 15 de junho de 2013

"É deixa-las poisar", como diz o meu pai.

Adoro, mas adoro de morte, as pessoas que se queixam e reclamam do trabalho e é vê-las suspirar «ai que canseira», «ai que maçada» mas são incapazes de repartir tarefas porque, como se sabe, uma pessoa hoje em dia para mostrar serviço não tem de o fazer basta que pareça que o fez. Por experiência (que nisto das bitches desta vida já sou das calejadas) sei que, usualmente, são as mesmas criaturinhas que em nos distraindo vamos dar com elas a revoltear os papéis alheios e a meter o bedelho em tudo quanto é assunto que não lhes diz respeito. Só para que conste gentalha dessa merece-me assim, tipo, zero respeito.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Tal & Qual #4

«Ter família é condição essencial para ser feliz. Mas ter demasiadamente uma família é algo de que temos que nos libertar. Tem que haver um laço que se corta, mas que nos deixa estar na rede familiar, protetora... É uma raiz que tem que se casar com uma asa, fazer-nos voar
Mia Couto

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Há gente que está precisada de um valente coice na moleirinha para ver se atina!

Como li agora há dias num blogue, tê-los no sítio é enfrentar uma onda de 30 metros, não é andar a passear-se com um lencinho vermelho à frente de um toiro. E a conversa sobre touradas e afins fica por aqui porque não estou para esgrimir argumentos. Não gosto sobretudo da espanhola, com o cavaleiro a espicaçar o touro, sentado no seu cavalinho todo protegido por uma armadura. Aprecio as fatiotas todas bem amanhadinhas, não o nego. E aquela postura galante dos toureiros. Acredito até que no entendimento deles o touro nasceu mesmo para cumprir esse propósito de morrer na arena, numa batalha justa entre homem e besta. E os destemidos forcados merecem-me respeito. Muito. Mas isso não implica que eu tenha de pensar da mesma forma, de gostar de touradas e de lhe reconhecer fundamento. E, embora uma andorinha não faça a Primavera, o que dizer de um toureiro que se digna postar no FB fotos destas e ainda argumenta que «os cães só estão a ladrar à vaca»? Onde está a nobreza deste acto e a defesa da dignidade do animal pujante que nasceu para morrer na arena, senhor-chico-esperto-toureiro-de-uma-figa?

Nem tudo é mau. O autocarro estava francamente mais arejado.

Diz que hoje é feriado. Para alguns, vá. E a conversa fica por aqui para evitar desarranjar ainda mais o sistema nervoso.
 

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Sou tipo a Maria Antonieta: não tenho pão, como bolos!

Na impossibilidade de deitar mão a um daqueles produtinhos maravilhosos que se vêem nos filmes (daqueles que os médicos legistas usam para esfregar a narigueta quando vão autopsiar algum defunto) e tendo em conta que o conselho do JN para barrar o nariz com pasta dos dentes me pareceu (como direi...?) estúpido, ocorreu-me - num daqueles rasgos de inteligência que me distinguem do comum dos mortais, tipo vós - aspergir a cara com perfume (do bom, imagine-se o desperdício!). O propósito era  evitar os odores alheios e o consequente vómito no autocarro das oito menos dez, que tem por costume ir atafulhadinho e, sobretudo, porque há uma bisarma que teima em se pespegar ao meu lado, ignorando o facto de eu só apreciar companhia de pessoas que têm por hábito tomar aquele banhinho diário da praxe. Podia ter corrido pior. Só acertei com os borrifos num dos olhos. Ainda vejo bem do outro.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

O Governo até as quadras nos estraga!

Viva o Santo António viva o São João
Viva o dez de Junho e a restauração
Viva até São Bento se nos arranjar
Muitos feriados para festejar
 
A «restauração» a que se refere o verso é a dos restaurantes ou a da Independência? É que este último feriado já era. Embora o Freitas Amaral o rememore afirmando que se sente "aprisionado" como aquando da crise de 1383...
Quanto ao Santo António só é "viva" para alguns, porque outros diz que trabalham como se não fosse feriado já que parece que o Governo está ao serviço do país e não apenas da cidade. Embrulha!

domingo, 9 de junho de 2013

Não me importava nada de ser amada assim.

Numa altura em que a polémica em torno da homossexualidade, o casamento e a adopção por parte de casais gays assume contornos que a mim me parecem excessivamente radicais e intolerantes, não resisto a publicar um excerto da entrevista de Anabela Mota Ribeiro a Richard Zimler e Alexandre Quintanilha. Se conseguirem descobrir neste amor alguma diferença por se tratar de duas pessoas do mesmo sexo, agradeço que ma façam notar. Eu, pela parte que me toca, fico feliz por saber que há gente capaz de amar com esta plenitude. Quantos de nós têm um amor assim?
 
Insisto na longevidade da vossa relação, depois da turbulência dos primeiros anos. O mais difícil numa relação, independentemente da orientação sexual dos cônjuges, é estarem tanto tempo juntos, e bem. Por isso as pessoas perguntam: “Qual é o segredo?”
RZ – Temos um bocadinho de sorte, e foi um bocadinho de trabalho. Em qualquer relação que é um verdadeiro casamento (e há casamentos que não são casamentos, são duas pessoas a viver juntas), existe a pessoa A, a pessoa B e o casamento. Há três seres vivos numa relação, e tem que se ter muito cuidado com o terceiro ser vivo: o próprio casamento. Tem que se valorizar, polir, prestar atenção, senão a relação vai acabar. Os dois estamos muito conscientes disso. Apaixonarmo-nos por uma pessoa é muito fácil (com algumas pessoas que conheço acontece de duas em duas semanas). Mas é preciso aprender a respeitar o outro. Para o Alexandre era mais natural, tinha dois pais muito respeitosos. Eu não tinha isso. Os meus pais diziam coisas um ao outro que eu não diria ao inimigo mais feio do mundo, coisas reles. Apaixonar-me por ele era super fácil, mas respeitar a sua opinião, a sua maneira de ser, as coisas que ele dizia e com as quais não concordava, as coisas que ele fez e que não compreendi, levou-me anos.

AQ – Não acredito que haja relações duradouras se cada uma das pessoas não tem a sua própria vida construída. Quando o Richard está a escrever (já sei, porque escreveu vários livros), está de tal maneira obcecado com a escrita que eu sou uma espécie de audiência. E quando estou muito ocupado e ando muito cansado, ele sabe que estou a fazer qualquer coisa que para mim é importante. Nessas alturas temos muito respeito para não exigir mais do outro. Isto aprende-se. Quando a pessoa começa a sentir uma verdadeira realização pessoal com a realização do outro, quando deixa de haver aquela necessidade egocêntrica – “preciso que me dês mais atenção porque estou inseguro” – isso é que é uma relação conseguida.
 
[...]
 
RZ – Estávamos a falar das razões pelas quais era possível manter uma relação durante tanto tempo, e só queria acrescentar que o Alexandre é o meu melhor amigo. Não posso imaginar viver 34 anos com uma pessoa que não fosse o meu mais profundo e mais importante amigo. Adoro passar dias inteiros com ele. Preciso de passar muito tempo sozinho, mas posso passar esse tempo com ele. Eu sozinho ou eu com ele é a mesma coisa. Ele esteve doente, há cinco anos, com pneumonia, e teve de ficar em casa três meses. Estava deitado e eu, como Florence Nightingale, ou Dr. House, estava aqui todos os dias. Era como uma lua-de-mel. Passava 24 horas por dia com ele, e era espectacular. Não há nada que não lhe possa dizer, não sinto qualquer limitação.
 

A entrevista, que vale mesmo a pena ler na íntegra, aqui.

sábado, 8 de junho de 2013

(De)Mérito

"Cada um tem o que merece” é assim, de repente, a máxima que mais urticária me causa. Sobretudo porque é usada maioritariamente, se não exclusivamente, num sentido pejorativo, como quem roga uma praga. Por mais voltas que dê à questão – deve ser um problema meu, certamente – não consigo entender a teoria sobre a qual assenta esta ideia de que as coisas que ocorrem na vida de cada um dependem inteiramente do que cada um faz por merecer. Já nem me alongo no esmiuçar de factos como a origem das doenças ou a morte de um filho. Fico-me mesmo por coisas de menor monta, quase corriqueiras, como seja ver alguém ser promovido sem mérito ou levar com uma valente cagadela de pomba logo pela manhã. Não concebo isso de cada um ter o que merece. Se cada um tivesse o que merece a D. ainda estava connosco. Se cada um tivesse o que merece muita gente tinha verrugas comichosas no rabo de tanto desejar o mal alheio. Se cada um tivesse o que merece de cada vez que nos lançam um olhar invejoso essa pessoa levava logo ali com um gato morto no focinho.
Se cada um tivesse o que merece, quem diabos decidiria o que cada um merece? É que para mim a minha mãe, incansável trabalhadora desde que se conhece como gente, há muito teria direito ao seu merecido descanso e a dias de SPA infindáveis; a minha avó não teria dores e não se iria apagando devagarinho diante dos nossos olhos até que reste apenas uma sombra da pessoa que foi; a J. não estaria em constante vigília médica e os palermas dos milionários investiriam mais em pesquisa farmacêutica; o ALA já tinha um Nobel lá em casa e o Johnny já tinha um Oscar na prateleira; eu saberia falar fluentemente Alemão, Árabe e Mandarim sem esforço algum e já conheceria meio mundo. Acontece que nós não temos só o que merecemos. Às vezes, temos mais do que merecemos: são esses dias que contam, essas as pessoas que nos devem acompanhar, essas as sensações que reservamos para as usar como combustível para aquecer o coração nos dias em que o mundo parece fugir debaixo dos nossos pés. Com sorte isso sucede mais vezes do que aquelas em que temos bastante menos do que aquilo a que achamos que temos direito e que nos atropelam e comprimem o peito de dor sufocada.


 
Só fica por explicar por que cargas d’água é que se cada um tem o que merece o garboso príncipe da Suécia está de casamento marcado sem ser comigo?!


sexta-feira, 7 de junho de 2013

Por mais que lambamos as feridas só com tempo elas cicatrizam.

Quando há uns meses atrás, mesmo nas vésperas de Natal (que isto se é para fazer mossa é à séria), me surripiaram pela calada da noite a minha auto-prenda, deixando-me de uma assentada sem passatempo e com a carteira bastante mais leve, houve quem não entendesse, por um lado, o meu abatimento, e, por outro, a doideira que me tinha dado para andar assim a gastar tostões desvairadamente. A resposta para ambas as inquietações alheias era, afinal, bem simples. O futuro! O que estava em causa era o futuro, construído em cada presente. Desde que me comprometera comigo e com o desígnio de treinar não falhei um dia, madrugando, apanhando frio, escorregando, enchendo-me de nódoas negras a cada tentativa de conseguir. Com a paciência e o companheirismo infinitos e incondicionais do B. enchi-me de novos projectos, preenchi os dias de novas cores, novas sensações, novos lugares e novas pessoas. Cada dia era diferente e em cada um deles havia a promessa de um futuro melhor porque o que importava era que amanhã estaria mais forte, mais ágil, mais compenetrada (d)neste vício que se entranha e iria poder acompanhar o P. nos passeios dele, para me mostrar todos o sítios lindos por onde tem andado e que conheço apenas pelas fotos que me traz. E, do nada, numa manhã, tudo isso sumiu. Como "o que não tem remédio, remediado está", relativizemos: era melhor do que ter partido as duas perninhas (já me chega o bracinho torto), que ser notificada para pagar uma batelada de IRS, ou mesmo que O cão (aquele demónio em forma canídea) me tivesse afinfado uma valente mordidela numa nalga (não parecendo sempre desfeia a embalagem e sabe Deus que defeitos já eu tenho que cheguem!). Vistas bem as coisas, podia ganhar dinheiro para outra e voltar a "iniciar-me" nestas andanças. Os dias passaram, a minha vida profissional tomou outro rumo, nunca mais tive oportunidade de voltar ao ritmo anterior. Dizia-me há dias e o P., com aquela candura que só ele tem, que se tivesse sido com ele lhe tinha dado uma coisinha má, e que, dadas as circunstâncias, ainda por cima estando a iniciar-me (nisto das paixões não há fogo como o dos primeiros tempos) fui muito forte seguindo em frente como se nada fosse. Por mais raiva que tivesse da injustiça de que tinha sido alvo, admiti uma quota parte de responsabilidade no acontecido (ninguém me manda ser uma crente inocente) e decidi encerrar o caso, indo à minha vidinha. Um destes dias tirei o equipamento do saco onde o guardara - na altura cheia de rancor contra alguém que nem sei quem é -, para tentar uma voltinha. E, sem que nada o fizesse prever, fiquei ali, pasmada, os olhos rasos de água, as lágrimas de tristeza que não chorei na altura finalmente a desencravarem-se do peito. Sim, o que me roubaram naquele dia foi o Futuro.
 
Depois de dois anos de incertezas e zigue-zagues, aos tropeções nos dias, cheguei a um trabalho completamente improvável, a uma cidade que me dizia tão pouco,   mas onde tenho sido imensamente acarinhada e de que estou a aprender a gostar, um dia após o outro, com as suas particularidades e, sobretudo, pelas oportunidades. Não sei se por gostar mais de cá estar do que esperava, se por ter menos saudades de casa do que imaginei, fui-me deixando ficar. Agora que finalmente voltei a casa senti uma sensação estranha de claustrofobia, como se cada rosto que vou reconhecendo evocasse o passado e se cada rua voltasse a ser palmilhada com a sensação de então, do amanhã incerto. Não há nada de novo ali e a promessa do recomeço, seja ele qual for, é semente que não encontra onde germinar.
 
Há mágoas cuja profundidade só nos é dada conhecer muito tempo depois, mesmo quando já as julgamos cicatrizadas. Quando nos fecham uma porta, quando nos roubam alguma coisa de que gostamos muito, esse momento não se cristaliza e os efeitos não terminam ali, nesse instante, porque só se diluem com o tempo. Os ecos de algumas dores ficam a ressoar nos dias, por muito tempo, até que achemos um amor novo que preencha o lugar deixado por uma paixão antiga, até que encontremos o nosso lugar e deixe de fazer sentido perguntar "Porquê?". Nesse dia, quando o passado "já foi" e deixa de nos perseguir no futuro, aceitamos finalmente as cartas que nos saíram e voltamos a ir a jogo. Posso ainda não estar preparada para esquecer todos os dias que perdi, todos os sítios onde não fui, todas as pessoas com quem a minha vida não se cruzou mas, pelo sim pelo não, não vá esse dia chegar de surpresa e eu ficar apeada, já ando a namorar a próxima.
 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Podia habituar-me a esta vidinha...

Se há coisa que a mim me aborrece terrivelmente é a desconsideração de chegar a casa depois de um dia pavoroso e ter à minha espera (só) um copo de vinho. E pão de alho estaladiço (ADORO). E cogumelos recheados. E batata doce assada (ADORO). E rolo de carne. E para acabar com a festa, como se não bastasse o menu tão fraquinho, massagens nos pezitos.
Agora vou só ali procurar uma casa nova, com um elevador suficientemente espaçoso para os Bombeiros me poderem tirar de casa sem recurso a uma grua quando já nem conseguir rebolar para fora da cama.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Tal & Qual #3

«Mas estava sol lá fora, era maio e, com tanta luz no mundo, a vida fervia de promessas. Só não entendia quais porque, dentro dela, novembro durava o ano inteiro e o que recebia do pai não chegava para ligar o calorífero. Porém aí a gente põe uma mantinha nos joelhos e aguenta. Não temos aguentado até agora?»

A.L.A. in "Visão"

terça-feira, 4 de junho de 2013

Eu ainda sou do tempo em que andar nestas figuras era moda! Careduuu!

E ainda a propósito da labreguice, não podia faltar esta foto que me traz à memória os saudosos tempos em que a minha irmã passava horas frente ao espelho e gastava litros e litros de laca para ficar com uma popa deste calibre.
 
 
 
 

Labreguinhos que dói!

São cada vez mais tenebrosos os caminhos que teimo em percorrer pela net fora. E, não raras vezes, deparo-me com cenários dantescos e que constituem por si só um hino ao mau gosto e ao horror. Sobretudo quando derivam de um processo desencadeado pelo imaginário. Mesmo como eu gosto!
Topei com esta preciosidade e como sou vossa amiga não quis deixar de partilhar. Estão ou não estão uma autêntica obra de arte estes famosos em versão gente do burgo, vulgo, povo?


 
 
 
 
 
 
 
 
Em sinal de boa vontade e poder de encaixe, eis a cereja no topo do bolo.
 
 
(Johnnyzinho, sabes bem que me custou mais a mim do que a ti. Mas não levas a mal, pois não, fofinho?)
 
 
 
 
 

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Não fosse eu uma criatura temente a Deus e já tinhas levado com uma cuspidela valente nessas pestanas postiças!

Filhinha, arrebita as orelhas e presta atenção que eu estou como dizia a outra: «I shall say this only once» (que saudades tenho do "Allô, Allô!"). Até vou explicar devagarinho para magoar menos. É má política a gente, em querendo dar vistas e ser saliente, apostar no lambe-botismos e espaventices tão desnecessárias quanto ridículas. É preferível investir numa Copa D. Sempre serve para mais qualquer coisinha e pode ser que te safes melhor. Não tens de quê. Desta vez foi de graça!

Tenho uma colega tão croma que quase se justifica criar uma rubrica só para ela!

 Temos novo ódio de estimação. Graças a Deus! Começava a pensar que estava a adoecer!


domingo, 2 de junho de 2013

Era o livrinho de reclamações, fazendo favor!

A mim o Verão tanto se me dá como se me deu. Nem sequer sou dada a lagartices, vulgo esparramadelas ao sol, já que, tendo sido agraciada com uma tez alva que só ela, o mais certo é apanhar uma alergia ou um escaldão de ficar a parecer uma lagosta com varicela. Mas esta patifaria de este ano não termos Verão também é esculhambar! Que eu, como disse, nem sou de sol. Agora, estragarem-me os meus meses preferidos e os termómetros darem em subir em Setembro e em Outubro não admito. Estou triste. Que a mim, sou franca, quem me tira o Outuno, as cores amarelecidas, as tardes fresquinhas e o ventinho suave tira-me tudo!

sábado, 1 de junho de 2013

Vi eu com estes dois olhinhos! #2

À consideração do J. N. a quem certamente este outfit tão ao estilo do grande Bonga deve causar inveja da miudinha.


 
(Lamentavelmente o achincalhamento fica aquém do desejado porque sou uma fotógrafa tão talentosa que não se consegue perceber a qualidade mixuruca do tecidinho atigrezado. Sem mencionar que o rapaz está bastante favorecido com o retoque que lhe fiz!)