sábado, 31 de agosto de 2013

Aforismos cá dos meus.

A leitura está para mim como a lasanha para o Garfield. Não é que consuma doses massivas (antes fosse!) mas detesto, odeio, abomino que me interrompam quando estou a ler. Fico piurça!

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Sherlock de trazer por casa.

Volta e meia os meus dias ganham outro colorido pela mão de pessoas que nem conheço e que acham por bem partilhar comigo as suas divinais teorias.
 
«Eu esitve a pensar, menina, e olhe que para os fogos começarem a horas tão impróprias, aquilo só pode ser obra dos terroristas. Que eles estão em todo o lado, não é só na América!» Como diz a D. a questão das horas impróprias deve-se, certamente, ao jet-lag.
 
«Porque eles estão sempre a dizer na Televisão que aquilo é obra de pessoas que são doentes mentais. Ora, não hão-de ser todos doentes mentais. Eu cá não sou. A menina também não é, pois não?» Quanto a ele não sei, mas no que me diz respeito ainda está por confirmar e aguardo o resultado dos exames médicos.
 
«Eu até disse ao Senhor Comandante dos Bombeiros: vocês não têm mais remédio que não pegar nos carros, nos camiões e irem os Bombeiros todos deste país, manifestar-se para a frente da Assembleia da República! Mas o Senhor Comandante disse-me que nesta altura, com tanto para fazer, não se podem pôr com essas coisas. E as pessoas, das aldeias e assim, até podem levar a mal não, é
 
Como dizia a minha avozinha: cada cabeça sua sentença. Eu tenho para mim que este senhor a comandar os destinos do país durante um par de dias era coisa para não resolver nada, mas que animava a malta garanto que animava. Só eu e Deus é que sabemos a dor que se me pôs no externo ao tentar controlar as gargalhadas sonoras que a conversa do senhor me merecia.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O Tio Mateus.

A neura que me causava, senhores!, eu a querer ver TV e ele a ressonar, tipo caterpillar em trabalhos de desaterro. A fingir um tropeção lá lhe batíamos no ombro. Outras vezes, brincadeira de meninos, atirava-lhe com o chapéu. Acordava. Era ainda pior! As perguntas: Quem é este que está na televisão?, O que é aquilo que acabam de mostrar? Eu a atirar olhares que eram dardos certeiros aos meus pais que nada faziam para aliviar o meu sofrimento. Depois aquela mania de se sentar mesmo em cima da lareira, privando-nos parcialmente do calorzinho que emanava das chamas e ainda perguntando porque tínhamos nós calor se ele estava tão quentinho. E, às duas por três, aí o tínhamos, novamente a ressonar. Quem se não o Tio Mateus? Com o tempo amadurecemos ambos. Ele a caminho do "outono do patriarca" (como no livro do Márquez), eu a caminho da Primavera florida da juventude. Aprendi a desfrutar das conversas, a gostar da companhia, a achar graça às perguntas de uma pessoa com parca instrução. Contou-me que um dia, cansado de andar de mota para aqui e para ali «a fazer negócio», decidiu que estava na hora de tirar a carta de carro. Do dizer ao fazer foi um tirinho e mal se deu conta estava de abalada para Lisboa. A capital deslumbrou-o com o fervilhar de vida nas ruas, com os carros nas avenidas, com as moças bem vestidas e os senhores arranjados com quem se cruzou. Teve a primeira aula. Regressou a casa no dia seguinte. «Que a confusão era muita, que era só carros a cruzar de um lado e de outro, que não se podia dormir na Pensão com tanto carro toda a noite a fazer barulho nas ruas...» Imagino o bulício que deveria ser Lisboa nos anos quarenta. Uma Nova Iorque, pela descrição! Suponho que ter tido um acidente no primeiro dia de instrução nada tenha a ver com o facto de ter antecipado o regresso. No dia em que me contou isso, nos dias que se seguiram e me relatou tantos outros episódios que me arrancaram sorrisos e até gargalhadas, creio que entendi finalmente que as pessoas, todas as pessoas, têm em si riquezas imensas, histórias várias, sentimentos, tudo partilhável. E percebi que a impaciência que me causava aquela presença, outrora imposta e agora desejada, se justificava pela minha meninice. Da mesma forma que, suponho, muitas vezes o devo ter irritado, incomodado com as minhas brincadeiras de miúda.
 
Era um homem forte, de aspecto rude, dos que a gente não vê pisar a soleira da Igreja mas de quem intui que em privado vai acertando as suas contas com Deus. Com um coração bom que deixava entrever de quando em vez, em raras ocasiões. Sei, pelo meu pai e tios, que era na casa dele que encontravam sempre a gaveta do pão cheia de fatias à espera dos miúdos esganados de fome, que pela Páscoa lá lhes tinha umas botas novas e pelo Natal as laranjas costumeiras. Dele contava-me o pai que sempre fora brioso, que gostava de andar arranjado, de usar fato em ocasiões especiais. Anos mais tarde, quando doente, o pai fazia questão de o escanhoar, como se ter a barba feita e apresentar-se aprumado lhe conferisse mais dignidade na doença. Gostava da mãe como de uma filha que nunca teve e de mim e da mana como se netas fôssemos. Quando estive na Faculdade, a cada abalada despedia-se em tom despachado, como quem não dá confiança. Mas não arredava pé lá de casa enquanto a mãe não lhe dissesse que já tínhamos chegado a casa e que a viagem correra bem.
 
Morreu. Inesperadamente. Os sobrinhos levaram o caixão em ombros e quando o desceram à terra creio que vi o meu pai chorar pela primeira vez em público, dizendo ao meu tio: «Era como o meu pai». E eu chorei também porque percebi o quanto era querido por alguns de nós, como se parecia impor nas nossas vidas quando afinal esteve sempre naturalmente lá. As primeiras memórias que tenho de mim, de todos é com ele também, ainda na cozinha de cima, sentado em frente à TV, com aquele grosso casaco que me lembro de lhe ter conhecido toda a vida a cobrir-lhe os ombros e... a ressonar. Que nervos me causava então, interrompendo com aquela chinfrineira a novela das nove. Como poderia eu saber que nunca comprou uma televisão para a casa dele porque essa era a forma de estar mais vezes connosco, a sua família, de tomar conta de nós, sempre vigilante, sempre atento, no seu jeito de ser curioso; que essa era a forma de estar connosco, que éramos mais jovens e tínhamos coisas para lhe ensinar e com quem podia rememorar carolices dos seus tempos de juventude?
Há-de estar a fazer anos que nos deixou. Quando for a casa eu e o pai já combinámos ir tratar-lhe da sepultura. Não faz sentido que um homem brioso como o senhor esteja lá naquele aparato, desarranjado. Saiba que me causou vários ataques nervosos, mas sempre que, como hoje, me lembro de si, - e olhe que são muitas as vezes - tenho imensas saudades suas, ti'Mateus. E até de tudo o que não teve tempo de me contar.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Família: uma Gaiola ou um Ninho?

 

O melhor d’ A Gaiola Dourada não são as interpretações maravilhosas de um punhado de actores soberbos, de onde se destaca a Rita Blanco.
O melhor d’ A Gaiola Dourada não é estarem lá escarrapachadinhos de modo divertido todos os estereótipos e todos os preconceitos que teimamos em cultivar em relação aos emigrantes.
O melhor d’ A Gaiola Dourada não são os cenários exagerados, onde abundam as Nossas Senhoras de Fátima e os Pastorinhos, os emblemas do Benfas e as bandeiras nacionais, bem ao jeito da «ditadura do General Alcazar» - Fado, Futebol e Fátima.
O melhor d’ A Gaiola Dourada não é o argumento que joga com a língua, divertido, sensível, que emociona e diverte, que põe a nu fragilidades das relações e da condição humana.
O melhor d’ A Gaiola Dourada é ver na tela a minha própria família. Reconhecer na personagem da Rita e do Joaquim os meus próprios pais: altruístas, trabalhadores, esforçados, com uma vida construída a pulso. Ver na personagem da Maria um pouco de mim mesma: espaventosa e desbocada. Ter um déjà vu na cena das almoçaradas de família, rebuliçosas, barulhentas, de mesa farta e com toda a gente a falar alto e ao mesmo tempo. Talvez por isso - por o melhor d’ A Gaiola Dourada ser um pouco o retrato  estereotipado e exagerado de mim e dos meus, das formas enviesadas de gostarmos e de tomarmos conta uns dos outros e por isso me ter deixado a pensar no verdadeiro sentido de se ter e se ser uma família - saí da sala de cinema de sorriso nos lábios. C’est si bon!


sábado, 24 de agosto de 2013

Lar, doce lar.

Pode ser um espaço, uma pessoa, uma música, um livro, um quadro, um filme, uma frase, um gesto. Sentir-se em casa é esquecer-se de tudo e saber-se feliz quando se chega a um lugar, quando se abraça uma pessoa, quando se ouve uma música, quando se lê um livro, quando se contempla um quadro, quando se vê um filme, quando nos dedicam uma frase, quando têm um gesto para connosco.
Sentir-se em casa e pleno/a pode ser muitas coisas diferentes. E sabemos quando A encontrámos porque ecoa no nosso coração e nos preenche. 
 
 
 

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Post carregadinho de statements que têm tudo para gerar polémica e me condenar às caldeiras de Pêro Botelho!

Às vezes gostava de ser uma daquelas pessoas de ideias arreigadas e de ideais ainda mais vincados. Daquelas que apostam tudo no vermelho mesmo que a probabilidade seja sair preto. Das que estão de um dos lados da barricada e não cedem milímetros ao inimigo seja a que preço for. Mas conheço bem os perigos do fundamentalismo. E, por norma, sei que a tolerância mais facilmente se pratica se formos capazes de nos colocar no lugar dos outros. Em várias matérias eu sou das que se senta no muro e desfruta do melhor dos dois espectáculos. É o caso das Touradas. Sentadinha em casa, no remanso do lar, sou dada a apreciar a lide dos forcados. Gosto dos piquenos ali, de peitaça feita, a encarar de frente o bicharoco. Depois, a páginas tantas aquilo enfastia-me porque bem vistas as coisas parece-me que são apenas uns cavaleiros a espicaçar o animal. Mudo de canal e vou à minha vidinha sem sequer me lembrar mais do bicho nem dos homens.

Eu tenho amigos aficcionados, daqueles que vibram, que dominam a terminologia tauromáquica e que consideram a tourada um espectáculo nobre. E também tenho uma irmã e um cunhado que só de se falar nisso mudam de cor, afiam as farpas e dá discussão (saudável) na certa. Convivo bem com pessoas que adoram e com pessoas que detestam. Eu tenho a minha convicção, acato as alheias, vivo com aquela com que me sinto melhor. Não entro sequer em discussões dessa natureza porque não me consigo posicionar nem contra nem a favor.
 
Ontem tive a oportunidade de ir a uma tourada digna desse nome, em espaço próprio, ao vivo e a cores, ainda por cima em lugar VIP. Eu sempre dissera que "a gente não devemos morrer estúpidos" e que gostava de um dia poder experimentar assistir a um espectáculo tauromáquico. E a Maria lá foi ver como a coisa se processa.
À porta do espaço um grupo de manifestantes armaram a chinfrineira típica. No entanto, deixo a nota, ninguém foi achicalhado e foi tudo pacífico. Entretanto hoje li alguns blogs, por curiosidade, e deixai que vos diga que há muito defensor dos animais que fica a dever muito à educação! Uma vez lá dentro percebi um bocadinho melhor aquilo que me tinham dito da "mística". Peço perdão pela fraca comparação mas já estive em alguns santuários, até na Catedral (o meu pai fez questão!) e o que senti ali foi um bocadinho o que senti nos outros locais míticos: quer se acredite ou não há uma aura, um ambiente, um respeito pelos que acreditam e se entregam. Não importa se é por motivos religiosos, desportistas ou tradicionais. A abnegação, a entrega a uma causa sempre me mereceram respeito. E foi com essa postura que ontem pisei aquele recinto. Que mais não fosse porque ao ver um bicho que é uma autêntica bizarma a apenas meia dúzia de metros de mim, ainda que protegida por uma barreira, sente-se obrigatoriamente respeito. Depois o silêncio antes de cada pega: o nosso, da audiência, em expectativa; o deles, homens destemidos, a encarar o touro. Impactante é o mínimo que se pode dizer daqueles instantes. 
 
Quanto ao sofrimento do animal prefiro não me alongar em detalhes e considerações que sei não recolherão unanimidade. Dado que não sou uma pessoa animaleira, pese embora seja incapaz de tolerar maus tratos a animais, ver o toiro com as farpas espetadas não me repugna por aí além [sim, já tenho as malas aviadas para me pôr a caminho do Inferno]. Ainda por cima ontem pude confirmar (e bem perto) que os touros não derramam aquele mar de sangue que os defensores dos direitos dos animais denunciam. Eu já ouvi vacas a parir, já as vi sofrer enquanto lhes cortam os cornos e posso afiançar que ontem nenhum dos animais esteve em momento algum em sofrimento profundo. Mas entendo que haja quem considere uma prática bárbara. E até assumo que assim seja, mas mais por ser gratuita e menos pela violência em causa.
 
Se adorei? Não. Se me arrepiei em alguns momentos? Sim. Se me entusiasmei com as pegas? Imenso. No entanto, como diria o Afonso da Maia foi uma «má estreia, péssima estreia». O primeiro grupo de forcados teve uma pega difícil, o forcado foi pisado pelo touro e ficou inanimado por longos minutos. A violência daqueles segundos impressionou-me deveras. Os restantes companheiros, visivelmente afectados, continuaram como puderam. A audiência murmurava entre dentes e rememorava acontecimentos trágicos semelhantes. A minha vontade foi sair de imediato dali. Não lido bem com a ideia de que "the show must go on" quando um deles pode ter o futuro comprometido por uma lesão vertebral irreversível. Acerca disso, nos blogs que referi anteriormente, pude ler críticas que apontavam dedos aos organizadores e que usavam como argumento as lesões de um forcado contraídas no ano anterior, quase defendendo o rapaz, quando na altura estavam em campos opostos da batalha. Caríssimos, ontem um desses rapazes esteve lá, para receber uma merecida homenagem, e creio que isso é mais do que simbólico e diz muito das convicções daquela gente. Podemos concordar ou não, mas devemos-lhe respeito. Afinal de contas, não esqueçamos que os motivos que originaram o aparecimento dos Grupos de Forcados se prendem com a defesa do Rei, com a valentia dos homens que se batiam contra os animais para defender uma pessoa.
 
Se quero voltar lá? Tão cedo não! Se sou a favor de touradas? Não sou contra. E tiro o meu barrete aos Forcados. É uma daquelas coisas que não se explica. Sente-se. E ontem, a intensidade que se vivia nas barreiras foi das coisas mais fortes que já senti.
 
 
 

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Dicionarizar #2

Se há coisa de que gosto é das expressões semi-inventadas ou caídas em desuso mas frequentes entre a família. Há termos que são absolutamente nossos, maioritariamente da autoria de papai e funcionam que é uma maravilha porque todos (incluindo os amigos) sabemos o que significam. Apesar de ser um linguajar próprio e comum entre nós, há sempre expressões novas e quem me consiga fazer engasgar de riso enquanto almoço, como sucedeu no domingo passado.
 
Mamãe: Sabes o fulano X, aquele da terra Y?
Titio: Hmmm... gosto pouco. É dos que tem três pelo no cu como as rãs!!
 
 
 
TRADUÇÃO: O fulano X deve dar-se a ares porque ter três pelos no cu como as rãs é sinal de sobranceria. Por esta ordem de ideias fiquei a pensar quantos pelos no cu, salvo seja, terá a rã do Mourinho...

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Tal & Qual #5

«Mais importa a serventia que as coisas têm do que o nome que lhes damos

José Saramago
O Ano da Morte de Ricardo Reis

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Uma boa notícia por dia, nem sabe o bem que lhe fazia. #1

"Australiana volta à vida depois de passar 42 minutos clinicamente morta."
 
E porque nem tudo são notícias de bombistas e atentados e incêndios florestais descontrolados; porque há gente maravilhosa a trabalhar no durinho para melhorar a vida dos outros, o relato do espectacular salvamento aqui.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Se as críticas rendessem Portugal saía da crise em dois tempos.

Por motivos superiores - como certos festejos que exigem a minha total atenção e me deixam prostradinha por dias e dias - não tive o (des)prazer de assistir atempadamente à entrevista ao outro moço que é amigo da Pamela e nada em dinheiro. Mas como na net se armou um sururu do tamanho do Grand Canyon inteirei-me rapidamente da confusão que se instalou. De todos os lados e de ainda mais algum soltaram-se vozes estridentes a apelar ao enforcamento da senhora, à chacina em praça pública. Por mim, tudo bem. Adoro um bom massacre! E se é para falar mal esperem por mim que sou um talento nato. Acontece que, e agora mais a sério, caímos no mesmo erro em que, enquanto povo unido que somos, teimamos em incorrer repetidamente: generalizamos e embandeiramos em arco. Das duas uma: ou havia por aí muito ódio escondido contra a Juditinha ou então está tudo a ver se cai nas boas graças do milionário. Se a entrevista foi um asco, despropositada, com ataques infundados, sim senhor, manifestemos desagrado. Se, eventualmente até temos o dom da escrita e somos dados à laracha, façamos um post scriptum a achincalhar o modelito da senhora. Agora, atacarem a vida pessoal da Judite, o casamento, a figura, pondo em causa todo o seu percurso profissional só porque somos dados a papar grupos já são outros quinhentos. O rapaz respondeu à altura. Ela retractou-se e admitiu todas as falhas que lhe foram apontadas. Ninguém ficou mais informado mas muitos certamente ficaram mais ressabiados por verem que há quem tenha mais dinheiro que eu sei lá o quê. Um mau momento televisivo. Não passou disso. Portanto escusais de vir já com as forquilhas em riste a caçar a bruxa que ao parecer defender os pobres acabou por dar a ideia de atacar o desgraçadinho do milionário.
Pelo sim pelo não eu estou a organizar um sindicato que zele pelos direitos dos pedintes e vagabundos. Estou ansiosa para saber quem, depois da Pepa, da Jonet e da Judite, vai ser o próximo alvo dos fiéis escudeiros dos pobrezinhos. 

domingo, 18 de agosto de 2013

Manual de sobrevivência às festas do Agosto na terrinha.

Quais gnus, andorinhas ou avecs, chegado Agosto, inevitavelmente, o grupinho da maltosa ruma à santa terrinha para a desgraça colectiva. Desde as mesas fartas e bem regadas, às solas gastas nos bailaricos, passando pelo internamento colectivo na ala de transplantes hepáticos, as Festas são, todas elas, caso de sério estudo antropológico. Mas como me falte o tempo para tal investigação e dado que o soro no braço não facilita a redacção limito-me a algumas regras básicas para sobreviver a esses dias tenebrosos.
  • Se calhas de ser professora e por acaso as desnudadas dancenetes que se abanicam no palco forem tuas alunas, dado que também elas te viram a ser transportada de carro com os pés fora do vidro visivelmente animada e já sem sede, aplica-se a milenar regra de que "o que acontece in VM stays in VM".
  • Há, invariavelmente, entre o público quem cante efectivamente melhor do que aquela ave rara agarrada ao microgaitas em altos berros. E, na volta, está disposto a desfiar o repertório Tony-Carreiriano à borliú e em versão afinadinha. 
  • A única ocasião em que não pareceremos rebarbadas por pedirmos que a vedeta nos assine o colo ebúrneo (no caso das restantes amigas é bem moreno, que eu sou a única copo-de-leite) ou que faça um filho a uma de nós (com quem por acaso a vedeta até vive) é se essa criatura, imbuída de grande espírito altruísta (também conhecido entre nós por Sagres), achar por bem subir ao palco e deleitar-nos com uma voz de rouxinol. 
  • Se um senhor de idade mas com ar respeitável te perguntar "a menina dança?" por menos que te apeteça, acede ao pedido. E se porventura o tal senhor fizer questão de dançar bem agarradinho enche-te de paciência e pensa que, a avaliar pela idade, há décadas que não deve ter oportunidade de sentir um busto decente que não lhe dê pelo umbigo. 
  • Havendo um cromo que não deslarga e ronda o osso à espera de nos vencer por exaustão só há uma coisa a fazer: dependendo do tamanho do marmanjo ou lhe aviamos uma porrada com a mala ou o liquidamos com um: "filhinho, tu não terias dinheiro que chegue para me pagar e de graça nem o cão trabalha". A cara aparvalhada com que ficam dá um toque final perfeito ao episódio.
  • Há sempre um bêbedo, com borbulhas na cara, menos dez dentes do que as outras pessoas, de pipo saliente, a dançar de modo frenético e que, inevitavelmente, acha que é boa ideia convidar-te para dançar. É atirar-lhe logo com um "Je comprends pas ce que vous me dites, monsieur" ou, em caso de maior impaciência uma versão mais breve: "Antes dá-la aos pássaros, carééédu!"

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

"Se perguntarem por mim, digam que voei."

Andorinha
As andorinhas são um grupo de aves passeriformes da família Hirundinidae.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.



 
 
Ir. E voltar. Sempre. Porque nos está no sangue. Porque o apelo que flui pelas nossas veias é mais forte do que qualquer outro chamamento.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

With love, from Timor!

O Bruno, não vamos estar com rodeios (mas já exagerando, como é meu apanágio), era o tipo de miúdo por quem não dava nada. Educado, asseadinho, boa gente, honesto, mas mais interessado em futeboladas e miúdas giras do que em se agarrar aos livros. E, a menos que se viesse a tornar num Ronaldo - feito difícil de alcançar dado o reconhecido gosto pela MinE e pela rambóia -, eu cá temia que aos entrarmos nos trintas o Bruno andasse por aí a espalhar magia mas sem rumo traçado. Mas como "muito se engana quem cuida", as contas saíram-me furadas. Não só deu em estudar seriamente como teve a desfaçatez de acabar o mestrado ainda antes de mim. (E que orgulhosa fiquei de ti, miúdo!)Pior: tornou-se um profissional daqueles com que dá gosto trabalhar. A pessoa, essa, continuou como antes. Minto, como antes não. Melhorou, se cabe. Amigo de todas as horas, atento e carinhoso, de sorriso fácil e de trato incomparável. Não é por ser meu amigo que o digo, mas o Bruno (e os seus outros milhentos amigos bem o podem atestar) tem um coração grande, enorme, gigante e é uma pessoa como já não se fazem.
 
Não, o Bruno não está com os pés para a cova. Alerto para o facto porque a raça lusa é dada a louvores pós-mortem, a elogios tardios a quem já não os pode apreciar. É precisamente por o Bruno atravessar uma das melhores fases da vida dele que dele falo hoje.
 
Quiseram as voltas e contravoltas da vida que o rapazolas fosse parar a Timor. Emigrante forçado pelas circunstâncias nacionais e, sobretudo, pelo coração, partiu em busca de oportunidades. Partiu para poder estar ao lado da mulher com quem escolheu partilhar a vida. Partiu para fazer a diferença na vida de outros. E tem-no feito tão bem. Se tem! Basta ver as fotos em que regista o passar dos dias e com que vai mitigando as saudades que por cá deixou; basta ler os emails que envia e que deixam transparecer a felicidade e o entusiasmo que por lá vivem. Mas que também espelham as dificuldades que enfrenta. Que falam das contrariedades do dia-a-dia, da falta de meios com que trabalham, da parca instrução das crianças. A essas crianças, para além do carinho que nutre por elas, une-o um amor maior, essa linguagem universal que é o Futebol. O Bruno é um maníaco do futebol e parte do seu trabalho tem-no desenvolvido nesse sentido. Na semana passad falou-me de umas ideias que tem, de uns projectos novos que anda a cozinhar em fogo lento para ocupar as férias da criançada, sempre do ponto de vista lúdico-didáctico. Mas a seu tempo será ele mesmo quem nos falará publicamente disso, em espaço apropriado. Até lá, e já que ele não pede nada a ninguém, peço eu por ele(s). Fica-vos o meu apelo para que possamos reunir material para enviar para o Bruno, que alimente os seus projectos, que faça a diferença (por pequena que seja) na vida daquelas crianças: t-shirts, chuteiras, sapatilhas, meias, calções, bolas, apitos, bonés... livros.
Aos/Às interessados/as em colaborar é favor deixar as coisinhas comigo para posterior envio. Ele garante registo fotográfico que certifique a entrega de tudo a quem de direito.

Rapazito, como há muitos anos atrás a história repete-se: as futeboladas ficam para ele, das papeladas trato eu. ;)






Acho que não se vê muito bem mas a miúda tem uma faca na mão...



Fotos by Bruno.
  

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Tu eras tudo o que sei de bondade.

Quando esteve doente o Lobo disse que "a morte é uma puta e a uma puta não se dá confiança". Sei o quis dizer com isso mas nunca o tinha sentido, entendido com os sentidos. Depois Tu começas-te a morrer-me, percebi que Te íamos perder e decidi que a doença que te levou, a essa sim, a grandessíssima filha de uma meretriz, não daria confiança. Been there done that. E levou-me muitos anos a curar essa ferida. Por isso, quando morreste recusei-me a deixar que a tristeza que há tanto tempo pressentia me invadisse. Estavam todos destroçados e eu - eu nisso sou uma cópia da mãe, duríssima na queda - não tive mais remédio senão aguentar as pontas, tratar disto e daquilo. E eu sei que disse a todos, para os tranquilizar, para me tranquilizar, que tinhas partido em paz, contas feitas com Deus - se dívidas houvesse, mais do que saldadas com a entrega que tiveste em vida. E isso de facto acalma-me. Compreendo, aceito até (se tal sentimento cabe na perda dos que amamos) o fim de um ciclo: A ordem natural das coisas. Mas sabes, nunca cheguei a tirar aquela foto que sempre te quis tirar, às tuas mãos, Tu que quase as escondias porque se deformavam a cada dia, essas mãos de que sempre me recordarei abertas, à nossa espera, diligentes, carinhosas, postas em prece. Não voltarei a ouvir a Tua voz e hoje, minha querida, hoje a puta da tristeza vence. Porque me dei conta que não vais estar quando chegar a casa, não Te verei mais, não te ouvirei dizer o meu nome. Por fim aquela dor. Profunda. Por fim alguma coisa que estalou no meu peito. Quem diria que também temos diques por dentro. 

sábado, 10 de agosto de 2013

Voltar sempre aonde se foi feliz. #2

Às vezes o que faz falta é mudar de margem, ter outra perspectiva, redireccionar sentidos. Mudam as cores, muda a direcção do vento, muda a dimensão. E finalmente faz sentido. Siga viagem!

 

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

E o drogado é ele?

Eu não tenho bem a certeza mas se calha as microalgas não eram assim tão inofensivas. Os resultados começam a fazer-se sentir... Diz que o Johnny Depp foi avistado na Malveira a carregar troncos em tronco nu e mais tarde na praia da Adraga com chapéu pontiagudo e bigode comprido. Faz sentido! Até porque com o frio que já se começa a sentir, e sendo ele moço prevenido, deve estar a apetrechar o chateaux para passar o Inverno enquanto ensaia para actuar como mariachi nos festivais de Verão. Depois ainda mandam bocas sobre os aditivos que o rapaz toma?? 

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Se uma pobre alma não pode ir à praia, há coleguinhas que trazem a praia até nós.

Uma pessoa madruga, toma o seu banhinho a preceito, procura às pressas no armário um outfit para se enfarpelar à maneira e eis que, sem que nada o fizesse prever, dá por si a pensar que, em calhando, tem de demitir a criadagem. Que se a roupa deu em encolher a ela se deve, certamente por não saber usar o pugrama da machine de lavar! Depois de uma luta inglória uma pessoa lá se consegue meter numas calças de ganga que devem ter deixado de servir há trinta gelados atrás e faz-se à vida, que a papelada do escritório não se avia sozinha. E é só quando, chegada ao estaminé trabalhil, se depara com este cenário dantesco que uma pessoa percebe finalmente que talvez não se trate de um encolhimento têxtil mas antes de um alargamento carnal. Que Deus tenha pena da minha alma porque o corpo começa a não ter salvação!
 
 
 
 
 
P.S.: Que eu, fait-attention, até nem aprecio. Mas não ia fazer uma desfeita destas à maltosa que tão bem me trata, num é verdade?

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Também eu poderia ter sido convidada para continuar "Os Maias", mas dá-se o caso que eu acho que eles já são perfeitos tal como foram escritos.

«Depois Carlos, outra vez sério, deu a sua teoria da vida, a teoria definitiva que ele deduzira da experiência e que agora o governava. Era o fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada recear... Não se abandonar a uma esperança - nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves. E, nesta placidez, deixar esse pedaço de matéria organizada, que se chama o Eu, ir-se deteriorando e decompondo até reentrar e se perder no infinito Universo... Sobretudo não ter apetites. E, mais que tudo, não ter contrariedades.
Ega, em suma, concordava. Do que ele principalmente se convencera, nesses estreitos anos de vida, era da inutilidade do todo o esforço. Não valia a pena dar um passo para alcançar coisa alguma na terra - porque tudo se resolve, como já ensinara o sábio do Eclesiastes, em desilusão e poeira
 
Os Maias, Cap. XVIII

 
Dei-me conta ontem que é mesmo verdade aquilo que se diz sobre as coisas mais surpreendentes da vida sucederem quando estamos distraídos. E também é verdade que as maiores lições chegam de onde/quem menos se espera. Se para o Eça (pela boca das suas personagens) nada há nesta vida que valha a pena o esforço, já eu, depois de atentar nas palavras do Sheldon (Big Bang Theory), conclui que tudo na vida de resume ao poder de encaixe. Já o Carlitos - cá beijinho Maia querido - aflora esse ponto de vista, ali quando afirma que não se deve ter apetites e menos ainda contrariedades. É que, vistas bem as coisas, grandes depressões se arranjam por compararmos a vida real com a idealizada, a que vivemos com a que poderia ser ou ter sido, e, em última instância, a nossa e a dos outros. Esta última ideia pelos vistos até é uma teoria que tem um nome impronunciável em alemão. E não poderia estar mais certa. Tudo depende do grau de aceitação ou negação, de conseguirmos ou não lidar com as frustrações, as contrariedades e até mesmo com a felicidade. Porque (também) há quem tenha medo de ser feliz e não desfrute do momento com receio do que a vida lhe poderá cobrar em troca dessa alegria.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Dormir na forma.

O meu primo P., uma jóia de miúdo, costuma dizer que em Portugal as pessoas têm medo que se descubra que não fazem nada. Diz ele que se calha de haver uma hora morta no trabalho, em que não acontece nada e resta esperar, é menino para se estrebuchar ao comprido, a lanzar enquanto a acção não recomeça. E sem problemas com o hipotético aparecimento súbito de um chefe. Desde que cumpra quando é chamado a fazer o que lhe compete! De facto, não raras vezes as pessoas têm tendência a mexer aflitivamente em papéis, a revirar a secretária se calha de aparecer alguém de repente. Para dar a ideia de que sim, de que ali se trabalha. Trabalha-se, e muito. Porque as pessoas têm medo que alguém perceba que na verdade não fazem nada. E, nesse caso, descobririam também que elas, as tais pessoas, são dispensáveis e afinal não fazem ali grande falta.
 
Nas relações passa-se um bocadinho a mesma coisa. Temos medo que a outra pessoa descubra que não fazemos assim tanta falta, que não precisa assim tanto de nós, que a engrenagem afinal continua a mexer mesmo quando nós - que nos julgamos peça essencial - faltamos. A grande questão é: enquanto alguns fingem apenas fazer alguma coisa para ir mantendo a situação, cheios de medo mas esperançosos de nunca virem a ser descobertos, outros há que têm a coragem, a vontade de fazer de facto e não se limitam a fingir. "Dormem na forma" quando assim tem de ser, sem hipocrisias nem fingimentos, mas quando são chamados a fazer o que lhes compete, cumprem!

domingo, 4 de agosto de 2013

Há pessoas que no período pós-almoço só falam escocês...

Segue-se o relato fiel de um diálogo ouvido de "relance" no autocarro:*
 
- Ui, nem calcula como ele tem estado! O rapaz anda-me para ali a vomitar vai para mais de cinco dias. Ele que até a tropa fez, pôs-se-me naquele estado e ninguém sabe porquê.
 
- Olhe, a gente somos como os iogurtes: depois de tirados do frio, andamos com eles nos sacos e coiso, e quando os pomos outra vez no frio já estão estragados.
 
 
Oiiii??? Com que água é que as senhoras acompanham o almocinho, mesmo?
 
 
 
* Sim, eu sei que "de relance" é um olhar rápido!

sábado, 3 de agosto de 2013

Vi eu com estes dois olhinhos! #3

Eu admito que alguém, inspirado quiçá no Spartacus & Ca., tenha a infeliz ideia de desenhar umas sapatecas destas. Admito até que, tendo alguém concebido a dita sapateca, haja quem lhe dê corpo e as ponha à venda, a pensar no Carnaval das alminhas que, porventura, queiram mascarar-se de Xena. Que haja quem as compre e saia à rua neste aparato já me ultrapassa por completo. Co-rrrroooorrrr!!!
 
 
 

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Nisto dos enlaces quando não vai a bem vai a mal: candidato-me a madrinha do Principezinho.

Estive aqui a fazer umas contas de cabeça e cheguei à conclusão que a Inglaterra está em dívida - mas das grandes! - para connosco, Portugalinho à beira-mar espatifado. Vejamos: o Mourinho, que é só o melhor treinador do mundo, salvou o Chelsea e deu um ânimo novo a um campeonato que foi liderado pelos séculos dos séculos pelo Sir Múmia Ferguson. O Horta Osório é um génio com a dinheirama alheia (podia fazer o mesmo com as contas do seu próprio país, já agora) e evitou a morte mais do que anunciada do Loyds. Não esqueçamos que a mania de se empiteirarem com o chá das cinco foi a desgraçada da Catarininha de Bragança, falidos que estávamos de malbaratar os dinheiros das índias e dos brazis e sem mais dote que não as folhitas de chá, que lha incutiu. Calha a moça nunca ter sido recambiada para terras de Sua Majestade e ainda hoje só se tratavam a cerveja e a Gin.
Ora, por esta ordem de ideias, e já que não sobra ninguém decente naquela família com quem me amancebar, parece-me mais do que lógico e justo que nos retribuam todas as boas obras até hoje por nós praticadas mediante o convite para ser madrinha do petiz. Sempre e quando os padrinhos sejam da realeza que ainda resta por casar por esta Europa fora... que para pobrezinhos já eu tenho muitos por perto.