quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Oh Elsaaa!!!

Disseste-me ali, entre uma pedalada e outra - sei exactamente onde: havia raízes por todo o lado e subíamos com esforço - que estavas a pensar tatuar-te. "Resiliência" era o que deverias escrever a tinta na tua pele. Para te lembrares de todos os dias em que foste buscar forças dentro de ti e a tua mente comandou um corpo que teima em te limitar. Não os sonhos! Esses nada nem ninguém tos limita. Não pedes muito. Apenas mais força e resistência para continuares a vencer esta luta desigual.
Resiliente é o que tens sido nas noites de insónia e de dor. Nas manhãs passadas a pedalar cheia de dores. Nos dias em que te mexes apenas com o poder da mente porque todas as articulações parecem doer-te ao mínimo gesto.
Aprendeste a contornar a tua circunstância. Confessas-me que há dias de desespero, em que choras de dor e de raiva. Raiva por estares presa a um corpo que não funciona como deveria. Admites a desesperança, a depressão e a impotência. No dia seguinte estás lá, à hora combinada, como se nada fosse, como se não te doessem todos os ossos do corpo. Sem desculpas. Resiliência és tu! E por isso vamos tendo dias felizes. Dias bons, em que custa menos, em que dói menos. Dias em que embora o difícil não se torne fácil tu consegues que seja exequível.
Resiliente. Profissionalmente. Pessoalmente. Desportivamente. Ensinas-me todos os dias que não há nada que não consigamos fazer, que não há limitações para além das que nós criamos na nossa mente. Podemos ter de fazer as coisas de maneira diferente, com ritmos próprios. Podemos nem sempre arriscar tudo mas sabemos que damos o nosso melhor.
Às vezes penso em ti, em como estarás hoje e tenho pena. Não de ti. Mas da tua circunstância. E depois vejo-te enquanto te esgueiras a alta velocidade por entre as árvores. Avalio a tua cara de sofrimento quando acabamos de subir e sinto orgulho de ti e dessa força imensa que te move e que se chama Vontade. Contemplo o teu sorriso no final das descidas e sei, porque o sinto, que te divertiste  e foste feliz. Não importa se foram apenas instantes.
Resiliente também por me aturares. Por te juntares ao coro de queixumes e lamúrias incessantes com que vamos chagando o nosso M. Por já me teres percebido e saberes que em dias de neura é deixá-la ir e não dizer nada.
Dizes-me que não tens a minha força de vontade, que não consegues fazer sozinha, que não tens motivação. Saberás tu, E.L., que a verdadeira inspiração dos que te rodeiam és tu, resiliência em estado puro, mulher coragem, destemida e valente? Outras haverá com mais títulos e medalhas a provarem-no. A ti bastam-te os amigos e as pessoas que te querem bem e que hoje, neste dia especial, comemoram contigo mais um ano; comemoram, como eu, o ter-te na minha vida, já tatuada num cantinho especial onde moram os que fazem parte de mim. Parabéns L. Amo você!
 
 

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

MMXIV

   
    
     MMXIV
     Foi tempo para celebrar a Vida!
 
     Houve dias sem Futuro.
Dias de sombra. Dias em que o frio que se sentia lá fora era menos gélido do que o arrepio que nos tolhia os sentidos. Dias de queda vertiginosa no precipício da dúvida e do medo. ...
     Houve dias de Esperança renovada.
Dias pautados pelo calor dos abraços. E dos sorrisos. E da partilha. E da cumplicidade. E da alegria. E da união.
     Houve dias em que correram Lágrimas.
Lágrimas azedas de tristeza e dor. Lágrimas doces de alívio e de gratidão.
     Houve dias em que pareceu imPossível.
Dias em que não apeteceu continuar. Dias em que carregámos às costas o peso nada insustentável do mundo e do nosso ser.
     Houve dias de Superação.
Dias para aprender lições. Dias para nos conhecermos no limite. Dias de entrega. Dias de quedas. Dias para nos reerguermos. Dias de conquistas.
     Houve dias para reEncontros. Dias para parar, respirar e sentir. Dias em que magoámos e fomos magoados. Dias para nos deixarmos invadir pela serenidade. Dias em que voltámos a acreditar.
     
...
     MMXV
     365 dias para Sermos.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Bem-vindo seja quem vem por bem.

Assim que transpomos a porta, ali onde o chão de cimento termina, a madeira range sob os nossos pés. No Verão sentas-te junto à janela para aproveitar a luz natural enquanto cerzes umas meias ou pregas um botão. Já vês mal e, apesar de não sabemos como, ainda és tu que enfias a agulha. Atrapalham-te os dedos mais que os olhos. Os ossos a deformarem-se. Se for Inverno vou encontrar-te sentada à lareira, senhora e dona do lume, das panelas e da vida da cozinha. Ao destapá-las há sempre alguma coisa de que gostamos: batatas de caldeirada com bacalhau, fígado guisado, arroz de feijão. No armário atrás de ti sei que nunca se acabam as batatas panadas em ovo e salsa. E papas de arolo sobre as quais eu gostava de espalhar uma camada de açúcar. Em minha casa também há batatas cozidas. E azeite. E azeitonas. Então porque é que não sabem ao que sabiam as que tu torravas e regavas com um fio de azeite da almotolia? No Verão quente da minha infância, de um calor que já não há, refrescavas-nos as tardes com Brasa muito doce. Ou groselha caseira, espremida das bagas que apanhávamos nas Barrocas. Vejo-te sentada sobre as pernas ao fundo das escadas, quase na rua, de ciranda a baloiçar-te nos dedos enquanto peneiras o grão. O pó das vagens empregna-se-te na pele, acentua-te a tosse seca. Pareces-me mais velha e pequenina quando te lembro assim. Quando as tuas forças já eram apenas uma réstia e continuavas a viver apenas movida a Amor. Um corpo frágil a albergar um coração tão grande. Ontem, por ironias do destino, havia mais um lugar à mesa porque alguém se enganou a contar os comensais. E também no sofá onde te aninhávamos à lareira. Não nos nossos corações onde o teu lugar jamais será ocupado. Ontem fizeste-me uma falta terrível. Tu que entendias tão bem as minhas fúrias e os meus silêncios. Haverias de me chamar baixo e perguntar o que tinha. E haverias de ficar, como eu, de olhos rasos. Temias a mudança, como eu, mas nem por isso deixaste alguma vez de nos empurrar para fora do ninho. Hoje, num dia que pode ser o primeiro de tantos de uma outra vida, olha por nós Avó. 

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Vi eu com estes dois olhinhos! #13


Não fosse dar-se o caso de cair um nevão e tal ou de uma pessoa se distrair e perder-se no meio do nevoeiro, zimbas, o melhor é ataviar o pai e a cria de fluorescente! Depois admiram-se que eu circule de óculos de sol nas superfícies comerciais.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Vi eu com estes dois olhinhos! #12


Alguém sabe onde posso comprar igual? Estou precisada de mudar. Só tenho collants pretos e vai-se a ver o que está a dar é o estampado!
 

* J.P., com as retinas doridas e a alma em fanicos ainda conseguiu sacar do tlm para registar o momento.

sábado, 13 de dezembro de 2014

Dicionarizar #10



* Com o alto patrocínio do P.P.M., um fiel seguidor, cá dos nossos, que descobriu este atentado!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Amamentar é como usar leggings: não é para serem usadas por todas nem em todo o lado!

Não é sempre, mas de quando em vez, mormente quando o calorzinho assim o pede, somos meninos para depois de uma passeata de BTT alapar no sítio do costume, a lambuzar-nos com umas certas tostas que são divinais. Ataviados de lycra e empoeirados ou enlameados (consoante a estação do ano) sentamo-nos na esplanada. Comemos, bebemos, conversamos, convivemos. Nas mesas ao lado outros grupos fazem o mesmo. Calhou que num destes dias a mesa do lado foi ocupada por uma família e um par de amigos da dita. A senhora que hoje aqui me traz botava um corpinho jeitoso. Só por si isso atiça-me logo a má língua. [Sim, sou uma verrinosa e desculpar-me-eis, mas falar mal todos falamos, ao menos eu tenho o bom senso de o fazer de forma discreta e nada ofensiva, creio]. Vai que a dita senhora decide que bem bem é começar a dieta no ano que vem e nos entretantos ir avolumando com uns gelados. Até aqui tudo ok. Cada um sabe de si e o Serviço Nacional de Saúde saberá de todos. Acresce que a referida senhora, do nada, saca da mama direita (para que vejais como me marcou a cena até esses pormenores decorei), deita o seu mais-novo e vai de lhe dar de mamar ali. A peitaça da senhora era assim um encontro entre a da Kim Kardashian e a da Pamela Anderson: um tamanho de alto lá com ela que até eu fiquei de olho à banda, quanto mais os moços que me acompanhavam. Pasmámos de imediato. Na esplanada. Enquanto se lambuzava (uso o verbo com toda a propriedade porque comia mesmo sem maneiras) com o gelado, a senhora amamentou o seu filhote. A páginas tantas a criança já não comia, brincava com a mama, choramingava, e a senhora ali, toda contente, com o peito de fora continuava a comer o seu gelado e a gargalhar alto. Fomos, dirão alguns, uns tolinhos: amamentar é um acto natural que não deve suscitar qualquer admiração. E se assim é onde reside aqui o insólito ou o estranho, o correcto ou incorrecto da situação? Pois que eu acho bem: se a Mulher quer amamentar e pode, faça-o à sua real vontade. Mas vamos lá ver: há situações e situações e há locais e locais. E, sobretudo, há formas e formas de o fazer.
 
Neste momento o mundo blogosférico está em guerra. Esta fofucha, que até tem piada e tudo, cometeu  o "erro" de criticar a malta que decide alimentar em público os seus filhos sem recato algum. E foi um vai-que-te-avias, de mães de varapau em mão, a atacar a moça, argumentando que é um acto natural e que não vêem qual o mal de o fazer em público, e que as pessoa se ofendem com pouco, e que é uma falta de respeito pedir que as pessoas se tapem enquanto o fazem. Vamos lá ver aqui uma coisa: aqueloutra senhora de que vos falo ali em cima teve, certamente, uma postura bem diferente da que deu origem ao post da Leididi e ao meu e a outros tantos. "Hotel obriga mãe a tapar-se com um pano para amamentar bebé" Nas fotos podemos ver a senhora, numa postura bastante mais recatada do que a da esplanada, que insistia em ter aquele mamaçal todo exposto, sem cuidado algum. Estão ambas no seu direito, tal como o Hotel. Mais uma vez não se peca tanto pelo conteúdo e muito mais pela forma.
 
Sumariamente: não tenho nada contra mães, menos ainda contra mães amamentadeiras. Mas a modos que nestas coisas acho que não custa usar o bom senso, perceber os contextos e, embora o ar seja de todos e cada um faça o que quer, procurar respeitar os outros. Por mim aplicamos a regra das leggings: existem, podem ser usadas, mas não é por todas nem em todo o lado. Qual é a necessidade de me obrigarem a ver rabos encelulitados até mais não? Da mesmo forma as mamas das mamãs que amamentam poderiam ser mais resguardadas. É que por cada injustiçada que se comporta como deve ser em público temos outras tantas que não têm noção e que simplesmente fazem de um acto ímpar entre mãe e filho um momento completamente insólito e vulgar!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O presépio.

Sou assumidamente nataleira. Gosto da ceia, das reuniões de família, das luzinhas, das decorações, das musiquetas. Oh, o que eu gosto das musiquetas. Um mês antes já eu ando a trautear músicas de Natal, tornando-me (ainda mais) insuportável para quem comigo convive. Gosto do Natal. Foi durante anos, aliás, a minha quadra favorita. Tendo dito isto, assumo que na minha casa não há um único indício da época festiva que se avizinha. Nem árvore, nem presépio, nem luzes, nem coroas. Nada. Entretenho-me muitas vezes a namorar as montras, a magicar na compra deste e daquele adorno. Volto sempre para casa de mãos vazias. Ainda não é a hora.
 
Desde que me conheço por gente em casa havia sempre presépio. E árvore. Verdadeira. Um pinheiro verdadeiro. O meu preferido era o de casa da Avó, com pinhas e Pais-Natais de chocolate. Que me perdoe a tia T., que sempre prezou pelo aprimorado das suas decorações, mas o da Avó era o da Avó. Aquela simplicidade deixou saudades. Tal como a dos presépios, que até banda filarmónica tinham!
Não me recordo - era o que mais me faltava, também! - de todos os presépios, nem de todos os Natais. Vagamente, que seja, consigo rememorar bastantes. Lembro-me de um em particular. Do último presépio que fiz. Desde então nunca mais foi a hora.

O pai tem-se por habilidoso. Que o é! E quando mete uma ideia na cabeça põe mãos à obra. Eu e ele fazíamos o presépio no jardim. A gruta onde o Menino haveria de nascer, com um empedrado cuidado. O entorno campestre, com o musgo, as silvas. Animais espalhados por aqui e por ali. Lembro-me particularmente da escada minúscula que fez com pauzinhos para as galinhas se empoleirarem no andar cimeiro do estábulo. Nunca se ouviu dizer que a Sagrada Família tenha ceado canja ou ovos estrelados, mas no nosso presépio havia galinhas. Um galo madrugador, que fosse!

A essa hora, a uns kms de nós, um choque frontal entre dois veículos mudava para sempre a vida de um grupo de pessoas, entre as quais, muito indiretamente nos viemos a incluir. Uma cara desfeita, uma perna amputada, e outros tantos efeitos colaterais que só viemos a sentir meses depois.
A essa hora tocou o telefone. O presépio ficou como estava. A meio caminho entre a obra-prima (não sei se já disse que o pai é habilidoso) e um simples amontoado de pedras e de verduras. Não me lembro de como foi esse Natal. Não tenho ideia sequer. Eu, que sei de cor a página, a linha, onde li determinada frase, tenho esta tendência - alguns dirão mecanismo de defesa - de esquecer determinados episódios. Arquivado nalguma gaveta da memória está esse Natal. Lembro-me sim do telefonema. Como para sempre me hei-de lembrar daquele outro, ao início da manhã, que me arrancou o chão dos pés e me deixou por muitos anos numa luta interna permamente.

Ouvi dizer a alguém que na sequência de episódios dramáticos, daqueles que exigem que congreguemos todas as forças e energias que nem sabemos ter, o nosso corpo, pelas reacções hormonais e outras desencadeadas pelos picos de stress, desenvolve determinadas patologias. Meses depois, passadas as agruras iniciais do rescaldo do acidente, queixaste-te de uma terrível dor de cabeça. De uma pontada. Pelos antecedentes familiares, pela carga genética que todos transportastes, sabias sem que precisassem de to confirmar que era esse o princípio do fim. E foi. Carregaste durante alguns meses, estoicamente, às costas o peso de toda a tragédia. Foste o pilar inabalável da família. Começou então o teu calvário particular,  a vida que me dizias vezes sem conta "não ser vida".

Olho para as árvores bonitinhas, engalanadas com bolas e fitas, nas montras da cidade. Já por várias vezes estive tentada a comprá-las. Mas volto sempre para casa de mãos vazias. Ainda não é a hora. Ainda não me apetece despedir de ti. Ainda não é este ano que te vou arquivar nalguma gaveta da memória. Já apaguei o número do telemóvel do meu cartão. Um passo de cada vez. Para o ano. Para o ano eu e o pai fazemos um presépio no jardim. Afinal de contas eu adoro o Natal. Só não me apetece estar a construir memórias assentes em pilares de outras tão tristes. Quando o souber como o fazer sem que me doa haveremos de fazer o presépio mais lindo da aldeia.