Em primeiro lugar porque no meu tempo andar à porrada no recreio se chamava andar à porrada no recreio. Para além disso éramos, apesar de ruins como todas as crianças, ingénuos, meninos da aldeia sem qualquer maldade e nunca me lembro de nenhum colega me ter ofendido por aí além, física ou psiquicamente. Maneiras que naqueles gloriosos tempos em que me foi dado ser criança as coisas tinham o nome que tinham, resolviam-se com uma chapada providencial aplicada por mamãe na hora certa e a hiperactividade não carecia de medicação e tão só daquele olhar fulminante do meu pai.
Acresce a tudo isso que tive uns progenitores que, desde cedo, trataram de me preparar para as agruras da vida. Papai, por exemplo, sempre fez questão de me relembrar que apesar de todos os predicados que me foram gentilmente atribuídos pelo Criador, para o resto da vida teria de conviver com o facto de ter umas orelhas do tamanho de um pires ou de uma folha de alface. Ipsis verbis. Querido que é o senhor, hein? Não, não sou uma Dumba, não tenho orelhas exageradamente grandes ou salientes. Aludo muitas vezes a esse facto em tom de brincadeira, mas não é por isso que apanho poucas vezes o cabelo. Na verdade não o uso o cabelo atado mais vezes porque salienta ainda mais o meu já de si compridérrimo nariz. Ódiante. Não obstante a maldade que a constatação crua de papai implicava, longe de ter feito com que crescesse complexada (nadinha!), ensinou-me uma valiosa lição: se o meu próprio pai me diz que tenho umas orelhas de alto-lá-com-elas, que mossa me faria que um meia leca me viesse cuspir essa verdade nas fuças em pleno recreio? A resposta imediata para quem se atrevesse a realçar tal facto era-me óbvia: "E só reparaste agora? Não vás tratar esses olhos, não, oh pitosga!"
Acresce a tudo isso que tive uns progenitores que, desde cedo, trataram de me preparar para as agruras da vida. Papai, por exemplo, sempre fez questão de me relembrar que apesar de todos os predicados que me foram gentilmente atribuídos pelo Criador, para o resto da vida teria de conviver com o facto de ter umas orelhas do tamanho de um pires ou de uma folha de alface. Ipsis verbis. Querido que é o senhor, hein? Não, não sou uma Dumba, não tenho orelhas exageradamente grandes ou salientes. Aludo muitas vezes a esse facto em tom de brincadeira, mas não é por isso que apanho poucas vezes o cabelo. Na verdade não o uso o cabelo atado mais vezes porque salienta ainda mais o meu já de si compridérrimo nariz. Ódiante. Não obstante a maldade que a constatação crua de papai implicava, longe de ter feito com que crescesse complexada (nadinha!), ensinou-me uma valiosa lição: se o meu próprio pai me diz que tenho umas orelhas de alto-lá-com-elas, que mossa me faria que um meia leca me viesse cuspir essa verdade nas fuças em pleno recreio? A resposta imediata para quem se atrevesse a realçar tal facto era-me óbvia: "E só reparaste agora? Não vás tratar esses olhos, não, oh pitosga!"
Posto isto: eu sei que amais os vossos filhinhos e que é vossa obrigação apoiá-los nas suas ambições e persecução de sonhos e tudo e tudo, mas atentai nisto: quando os miúdos acham que cantam bem mas na verdade soam a gatos a ser esfolados vivos não devíeis permitir (quanto mais encorajar) a sua participação em programas televisivos. Se - melhor dito: quando - no dia seguinte forem achincalhados na escola não se tratará de bullying mas tão só e apenas de constatações a que os miúdos poderiam evitar ter-se exposto se calhassem de terem pais idiotas e sarcásticos como os meus.
Sem comentários:
Enviar um comentário