sexta-feira, 30 de maio de 2014

Pequenas grandes maravilhas deste "jardim à beira-mar plantado". #1

Ovos moles de Aveiro.
 
 
Nota: Além da recomendação de não guardar no frio a caixa deveria ainda conter, em letras gigantes, o aviso de que é impossível comer só um e podem até ser viciantes. Assim como as tripas. Ai as tripas...

terça-feira, 27 de maio de 2014

Eu só não consigo estar em todo o lado ao mesmo tempo. Mas sou como o Outro: sei de tudo!

Seja bem-vinda sô dona L. ao restrito número de tolinhos que ao engano ainda vem aqui parar a pensar que por estas bandas se aprende alguma coisa. Para que conste a pessoa que alimenta aqui o estaminé não é necessariamente a mesma que lhe deixa a casa e a vida em fanicos quando calha de passar a visitá-las pessoalmente. Ninguém tem como provar sequer que conhece a autora das perólas aqui debitadas. Em todo o caso, tem você toda a razão, escreve bem a miúda. E deve ser, a avaliar pelos relatos, uma joiinha de moça, um primor de menina. Confirma?
Tome lá um beijinho repenicado. Faço muito gosto em a receber nesta humilde casa. Faça favor de entrar, sente-se confortavelmente, puxe da mantinha para aquecer os tornozelos e desfrute. Por enquanto ainda é de graça. ;-)

segunda-feira, 26 de maio de 2014

O dia em que o M. sonhou por mim.

 
 
 
Eu sou uma "neveraholic" da pior espécie! Tenho uma tendência inata para dizer «Não gosto!, Não me apetece!, Não consigo!» Contrariar essa propensão dá uma trabalheira tremenda, crede-me. Porque embora acabe sempre por alinhar, à primeira olhadela tudo me parece uma canseira! Maneiras que, quando há uns meses, comecei a dar as primeiras voltinhas de bike, as expressões que o desgraçado do companheiro de (des)venturas mais ouvia eram: «Não consigo descer isso!», «Nunca vou conseguir subir aquilo!», «Deus me livre sequer de tentar passar além!». E ele, um Senhor que é um poço de paciência, a insistir, que não, que conseguia, que tentasse e logo se via como corria. E vai daí eu, que também não gosto de fazer as coisas pela metade, descia, subia e passava. Mas como inteligência é coisa que pouco me assiste demorei até entender que sim, que o diacho do homem tinha razão. Deixai-me falar-vos do tal culpado destes incentivos. O M. é um homem como já não se fazem. Um cavalheiro. Boa gente. Só por isso já merece toda a consideração. E depois o M., vistas bem as coisas, é uma das pessoas com um coração mais bondoso e altruísta que conheço. Quem tem uma bicicleta gosta dela como de um animal de estimação, como um filho. Uma bicicleta não se empresta a ninguém a não ser a alguém em quem confiemos cegamente. Ninguém a trata melhor do que nós! O M., sem me conhecer de lado nenhum, sem nunca me ter visto mais gorda (sim F. já fui mais gorda, já todos sabem disso), emprestou-me não uma mas todas as bicicletas dele enquanto eu não tive nenhuma. E foi com elas que o santo homem, embuído de uma infinita paciência, foi insistindo para que eu experimentasse esta descida, aquela subida, aquele drop, aqueloutro single. Finalmente em Janeiro tive a minha própria e começou outro desafio: adaptar-me a um tamanho novo, a um estilo de pedalar diferente. Desanimadinha com as primeiras voltas por ficar a meio de subidas que antes fazia e que agora exigiam um esforço tremendo, segui o conselho dele - sábio como sempre - de trabalhar a cadência. Duas semanas de experiência, a dar umas voltinhas para treinar a tal da cadência, só para tirar as teimas et voilà: eis-me a subir em explosão. Mais uma prova superada. Nada como experimentar para perceber que em calhando até sou capaz. Depois foram as descidas. As pedras já eu as desço tranquilamente, sempre a desfrutar. Mas as descidas inclinadas metem respeito nas entradas. Parece que vamos cair no vazio. Pedi-lhe que fizesse uns trilhos específicos comigo. Mais uma vez foi inexcedível em companheirismo e em aconselhamento. Desbloqueei esse medo com duas ou três passagens por uma certa descida e pronto. Seguiram-me as pontes e o medo dos trilhos estreitos. Depois de ontem percebo agora que o problema que se segue são as curvas. É a próxima meta: trabalhar as curvas para não sair disparada nas descidas. Tudo isto para dizer o quê? Para explicar que se fosse guiar-me apenas pela minha cabeça provavelmente dava umas voltas pelo bairro e ficava-me por aí porque nunca me apetece, nunca quero, nunca vou conseguir. Mas depois madrugo, "forço-me" a ir e o M. "obriga-me" a fazer o resto. Ontem saí das últimas posições da partida de uma prova. Gastei inicialmente demasiada energia a ultrapassar outros participantes e a ganhar lugares. Tinha metido na cabeça que não seria a última. Só não queria ser a última. Portanto lá fui eu, a tentar fazer o melhor que conseguisse. Mas não tenho a experiência necessária: não sei lidar com multidões, não sei ainda gerir a alimentação e a hidratação, não pressiono quem vai à minha frente, não tenho ambição suficiente para me dar aquele empurrão final. Só eu e quem tem vertigens sabe o esforço mental que foi passar as pontes todas sem me dar um fanico. Mas fi-las. E as descidas íngremes também. Não só porque eu achasse sempre que ia conseguir, mas também porque o M. ia ali mesmo ao lado ou atrás sempre a deitar aquele olhar como que a dizer: «Atreve-te sequer a pensar que não consegues e vais ver o que te faço!». No final, ainda sem saber a classificação, estava feliz por ter noção que tinha feito o melhor que consigo e que me divertira muito. Em conversa com amigos eu disse que o mérito de ter sequer terminado era dele porque se tiver um problema mecânico conto com a ajuda dele, porque em alguns estradões me deu roda, porque é outra fruta ter quem nos dê água ou reforços quando os nossos acabam. E isso, parecendo que não, são 50% de uma prova, porque a mente conta tanto ou mais do que o corpo. Ele respondeu que não, que as pernas foram as minhas, que quem desceu fui eu, que quem subiu fui eu. Sim, meu caro, fui, de facto. Mas quem há uns meses esperou por mim quando eu ainda não andava um caracol (ainda não ando, mas pronto) foste tu; quem me obrigou a experimentar quando eu teimava em passar ao lado das coisas  foste tu; quem continuava a puxar quando eu estava KO e prestes a deitar-me a descansar na valeta eras tu. Ontem fui eu que pedalei e dei o meu melhor é verdade. Mas quem acreditou sempre, sobretudo quando eu duvido, foste e és tu e por isso a classificação de ontem (que vale o que vale!) é tua também. Obrigada M. Nunca mais vou dizer nunca!


* Podemos transpor isto para todas as esferas da vida, com outras pessoas e noutras circunstâncias. O essencial mantém-se: a força que nos vem do poder de acreditar é imensa. E nem sempre a fonte somos nós, mas sim os outros, os que sonham por nós os sonhos que achamos impossíveis de alcançar.
 

terça-feira, 20 de maio de 2014

Longa vida, Gabo!


Fico sempre amofinada – egoisticamente, diga-se – quando um de Vós, um dos iluminados, desses que nasceram para ser grandes e imortais, sobretudo pelas letras, se vai. Quando soube da notícia estava em casa, por mero acaso. Parei diante da estante e percebi que não terei oportunidade de comprar nenhum novo, acabaram-se os lançamentos. De agora em diante será uma revisitação. Ando a matar saudades tuas. E tem sabido tão bem.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Post em permanente actualização, assim me chegue o tempo e a paciência para analisar mais pelingrafias.

De tanto se dar com a tia Maya o fofinho do Cláudio Ramos meteu na cabeça que no Circo é que está bem. Vai começar a ganhar a vida como mágico, é? Ai, espere, querido, já agora faça-nos um favor: aproveite e vá experimentar os super-poderes da capinha ali para a zona da Ponte 25 de Abril.
 

 
Esta senhora das duas três: ou tem uma prótese marota que tem vida própria ou tem as pernas como as das Barbies, daquelas que se desmontam. Aquele pezinho direito ali naquela posição é coisa para medalha olímpica em acrobacia!

  
 
Não é fácil mas, "às duas por três", há quem consiga deixar-me sem palavras! Se o alfinete calha de estar dois centímetros mais acima poderia dar-se o caso de a senhora ficar descomposta, mas assim, com tudo tão bem conjugado - a pluma, a racha (posso dizer racha ou é pouco chique?), a meia vermelha, a pantufa - está um brinquinho. Como sempre, aliás!
 

  
Da nobreza do material, ao estampado, passando pelo modelito... eu não arrisco de olhos fechados mas estava capaz de dizer que esta senhora comprou esta vestimenta naquelas lojas (tipo a que vi ontem) que vendem simultaneamente "material de papelaria, roupa infantil, lingerie e diversos" (tipo a que vi ontem), e que, invariavelmente, têm o nome da proprietária cuja graça vem a ser Claudi-qualquer-coisa, Vanessa-qualquer-coisa, Caty-qualquer-coisa (tipo a que vi ontem e que se chamava PatriClaudia).

 
 
Psiut, miúda! Ligaram da Colômbia. A Miss 1982 quer o vestido de volta no final da festa.

 
 
Se calhar aquela espécie de laço está a mais, mas as rosáceas, a cor, o corte... im-pe-cá-vel! É que se fartou de vender a tal da loja!
 
 
 
E estou eu a pensar gastar balúrdios num curso para aprender a costurar? Dai-me metro e meio de pano, uma agulha e um carrinho de linha e aposto que consigo alguma coisa mais elaborada do que este lençol rasgado ao meio que parece a camisa de noite da Liz Taylor na fase em que botou corpo!



A Cláudia Vieira, com um corpanzil daqueles em que tudo fica bem, desvairou e "não viu boas nem más", deu uma de púdica, e ataviou-se com a minha camilha da mesa da braseira? [Sim, sim, é muito bonito e mimimi. Tivera eu aquelas ossadas e era mesmo este o vestido que escolhia. Dá Deus nozes...]
 
 
 
Com o alto patrocínio do Campo Pequeno que agradece a publicidade! Ouhhh! Ouhhh! Eh touro lindo!!!
 
 
 
And the winner is... are, aliás, porque "ambos os dois" estão um primor! Fiquei com náuseas do bafo a vinho tinto do senhor!
 

 
 

sábado, 17 de maio de 2014

"A arte de ser feliz"

 
 
 

Houve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,
e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Ás vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles

quinta-feira, 15 de maio de 2014

"Lisboa que Amanhece"


«Não sei se dura sempre esse teu beijo
Ou apenas o que resta desta noite
O vento, enfim, parou
Já mal o vejo
Por sobre o Tejo
E já tudo pode ser
Tudo aquilo que parece
Na Lisboa que amanhece»
 
 
 
Créditos fotográficos: Carmen Urbano 

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Este post não tem nada a ver com futebol...

 
 

Corações ao alto.
Papai, cunhadinho, Torres, Filipe e casal Menoita: fait attention à pressão arterial.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

O dia em que eu fiz as pazes com a morte

À S. que está de coração vazio.


Quando olho para trás, hoje, à distância de tantos anos, percebo o quão miúda era naqueles dias. A capa e batina conferiam o ar pomposo e pedante. Por dentro, ainda hoje, uma menina que se sabe grande mas se sente pequenina, muito mais pequena do que o seu metro e meio mal medido. Quando olho para trás, hoje, à distância de tantos anos, percebo que era medo. Sorria, fazia por ter palavras de conforto, preenchia os espaços vazios com conversas de circunstância, dividia a atenção pelas camas do lado. Mas era medo o que sentia. Não pena, por elas que se debatiam com desânimo, numa luta desigual contra o maldito cancro. Era medo. Medo de que um dia desse de caras com uma delas morta. Pensava muitas vezes qual seria o dia em que ao chegar teria de lidar com isso. E no fundo, lá no fundinho, a esperança, nem sempre vã, de que às vezes também ganhamos batalhas a essa «p#t@ a quem não se pode dar confiança» (como diz o ALA).
Quando olho para trás, hoje, à distância de tantos anos, percebo que foi raiva o que senti naquela manhã em que me ligaram. Acordei cedo para fazer a viagem. Depois de tantos anos chegara o dia de nos despedirmos e aceitara isso como uma circunstância natural da vida. Da morte, aliás. Mas não estava preparada coisíssima nenhuma. Não aceitara nada o fim coisíssima nenhuma. E por muitos anos depois o que antes era medo deu lugar à raiva de não termos tido numa vida que afinal foi longa – quando comparada com as sentenças que te leram tantas vezes – tempo para uns minutos finais. E andei ali a mastigar anos a fio – vestida de negro por fora, ainda mais sombria por dentro – essa raiva e esse desespero de achar que não tinha feito o suficiente. Saía sempre a pensar que poderia ter ficado mais tempo, ou ter ido mais cedo, ou não ter falhado nenhuma visita, ou ter sido mais atenciosa… e no final fiquei a remoer o facto de não ter podido dizer que embora nasçamos e morramos sozinhos, eu estava ali. Quando olho para trás, hoje, à distância de tantos anos, percebo o quão miúda era naqueles dias. E por muitos anos essa sensação de injustiça não mais me abandonou. Chateei-me com Deus, com a morte, com a vida, com os médicos, comigo, contigo, com o mundo.
Entretanto morreu, inesperadamente, o tio Mateus. E embora não o soubesse então, apesar do desaparecimento dele me ter de imediato custado muito, hoje sinto-lhe imenso a falta. É como se avançasse na leitura de um livro e se de repente me lembrasse de uma frase bonita e a quisesse reler mas as páginas que estão para trás tivessem sumido e não fosse possível olhar para elas nunca mais. Perdi outras pessoas. E a Avó adoeceu. No dia em que foi hospitalizada a minha alma desabou. Percebi a finitude. Tive novamente medo. Os dias (anos, na verdade) que se seguiram foram de preparação. De aceitação da ordem natural das coisas. De interiorizar o melhor, de aproveitar ao máximo cada segundo com ela, de a viver. Porque a morte era iminente. E quando finalmente chegou o dia – não aquele em que morreste Avó, mas aqueloutro em que me despedi de ti – soube que não mais sorririas para mim e a tua voz ficou a ecoar-me por dentro. Pensava nisso todos os dias, para te perpetuar em mim. A recordar cada pequeno pormenor da tua fisionomia, cada gesto peculiar, cada expressão tão tua. E quando me surpreendo a fazer um esforço para me recordar do tom exacto com que dizias algumas coisas fico aflita, sabendo que com o tempo algumas delas se vão diluir até não restarem mais do que fiapos da tua existência na minha memória, quando também eu já for velhinha e as recordações me parecerem demasiado distantes para terem um dia sido realidade.
Quando olho para trás, hoje, à distância de tantos anos, percebo que esta é uma caminhada que se faz a solo. O nosso crescimento, a aceitação da nossa realidade frágil não é uma aprendizagem fácil. Leva tempo. Pacificarmo-nos com a morte implica a certeza de que as pessoas que fazem parte de nós continuarão connosco. Implica a certeza de que somos mais fortes do que julgamos. Implica a certeza de que aguentamos sempre mais dor do que a julgávamos suportar. Implica assumir, com o coração estilhaçado, que a tua Avó, S., não conhecerá os teus filhos, não lhes acariciará os cabelos como fez contigo quando eras miúda, não lhes dará colo. Implica aceitar isso, engolindo as lágrimas que te sufocam. Porque chegará um dia – para mim chegou – em que ao lembrar-me dela, deles, sorrio sozinha e sinto-me grata por tudo o que me deram e me foram. Pacificarmo-nos com a morte é bem simples afinal. Cuidamos que sentiremos irremediavelmente a falta dos que mais amamos e tememos não conseguir sobreviver para lá desse dia. Mas na verdade quanto mais amamos as nossas pessoas mais elas se gravarão em nós e por mais anos ficarão connosco.  

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Vi eu com estes dois olhinhos! #6

 
«As meninas da ribeira do Sado é que é
Lavram na terra com as unhas dos pés [...]»