quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Bom senso às colheradas como se fosse óleo de fígado de bacalhau!

Eu sei que não entendo nada disto mas quer-me parecer que a mãe daquele rapazito suspeito de ter ateado sete incêndios na Covilhã vir dizer publicamente, numa entrevista em que aparece a fumar, que "põe as mãos no lume por ele" não ajuda muito na defesa do cachopo. Aliás, só vem confirmar a tendência familiar para brincadeiras perigosas com as labaredas!

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Ah, a boa e velha escravatura!

Uma pessoa acorda cedo para fazer uns exercícios que deixem este rabo gelatinoso um nadinha mais consistente, esforça-se por ter juízo à mesa, faz ouvidos moucos aos apelos dos folhados que olham para si a implorar uma dentada... Uma pessoa chega ao escritório e seu querido chefe teve a brilhante ideia de comprar croissants para o pequeno-almoço. Ainda por cima dos bons! Não há condições! Que é feito dos patrões tiranos e velhacos?

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Eu ainda sou do tempo em que...

Um dia destes, sentada na paragem de autocarro, à espera, reparo num dos carros parados na fila de trânsito. Nos encostos da cabeça dos bancos dianteiros estão presos uns elásticos e umas protecções que, sei, servem para encaixar iPads e afins. A primeira ideia que me vem à cabeça é o enjoada que eu, florzinha de estufa, iria ficar, a ver um filme em andamento. Depois, mais a sério, pensei na alienação que isso constitui. Pais à frente, rádio ligado, crianças atrás, fones nos ouvidos, filme no iPad, zero diálogo... [Generalizo, bem sei!]

Lembro-me de fazer viagens inteiras a ler, com a mana a desassossegar-me - prática ainda hoje muito do seu agrado. Lembro-me de fazer viagens inteiras a fingir que éramos locutoras de uma estação de rádio, quando íamos com os tios a Fátima e os kms demoravam mais do que hoje a percorrer, em estradas que pareciam intermináveis. Lembro-me de fazer viagens inteiras com o A. a perguntar "O que é aquilo?", "Para que serve aquilo?", "Porquê, porquê?, com a curiosidade natural dos miúdos que descobrem o mundo e questionam tudo. Lembro-me de fazer viagens inteiras com os primos A. e R. a jogar ao "Quem quer ser Milionário?", a dizer as capitais do mundo inteiro, a discutir geografia à mistura com futebol e cinema. Ainda sou do tempo em que os (meus) pais me ouviam mais e (me) tentavam calar menos para não incomodar, em que me davam livros para me distrair e de caminho me cultivar, em vez de me espetarem um tablet na mão para me sossegarem. Sobre isso, sobre essa emergência das novas tecnologia nas novas vidas desde tenra idade, nomeadamente no ensino, li um destes dias, num blogue, entre outras considerações, as seguintes afirmações do filósofo Alain Finkielkraut:
«Por que razão se deseja suprimir o método clássico, em que o mestre fala? Porque há smartphones? Não precisam de aprender porque têm todo o conhecimento ao alcance da mão? De modo nenhum, pois se não fizerem esforço para ouvir e aprender nada sabem. Não vejo porque razão devemos adaptar o ensino às novas tecnologias. Bem ao contrário, as novas tecnologias obrigam-nos a manter o ensino como sempre foi. Li há pouco que os dirigentes de grandes empresas tecnológicas como Yahoo e Facebook matriculam os seus filhos em escolas totalmente isoladas (da modernidade), sem computadores. Com quadros negros, giz e livros, estantes cheias de livros que se podem manusear. Esses já compreenderam
 
Cada um educará os seus petizes como bem entender e eu não tenho nada a ver com isso, obviamente. Mas graças a Deus eu ainda sou do tempo em que se jogava à macaca na rua, em que a TV era para ver em casa e com horas marcadas, em que a primeira coisa que fazia ao pegar num livro era deliciar-me com o seu incomparável cheiro, em que podia sujar as mãos de terra, em que esfolava os joelhos por cair de bicicleta no monte (isso ainda hoje me acontece), em que podia fazer viagens inteiras a falar (e Deus sabe como eu consigo falar sem parar) em vez de estar agarrada a um zingarelho eletrónico. Para isso bem me basta agora ter crescido e não me livrar de sair à rua sem duas ou três coisas destas atrás de mim.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Armar aos cágados e ficar toda esmurradinha é... bem!

Ontem, já noite, trepei a uma árvore. O porquê agora não interessa para nada. O que importa aqui é que eu tenho vertigens e uma vez encarrapitada na dita cuja vi a vidinha a andar para trás por não saber como descer. Lá me agarrei a um galho com unhas e dentes e a modos que me deixei escorregar por ali abaixo, enquanto a J. se contorcia de riso em vez de me ajudar, fazendo questão de salientar que parecia uma lagartixa. Saí ilesa desta aventura palerma. Quase, vá, que o braci...nho esquerdo ficou sem pele em alguns sítios e por alturas do cotovelo ostenta uma bela de uma queimadura causada pela fricção.
Hoje, não contente com esta coisa de andar a desafiar a morte (sim, sou exagerada!), comi umas lulas que, soube depois, estavam estragadas. Até agora só sinto uma leve azia, mas talvez não me livre de uma purga à maneira.
E pronto, é isto a minha vida: sempre no fio da navalha, a enfrentar o perigo como gente grande.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Disso de se estar sozinho sem se sentir só.

Temos pois que cada caso é um caso e cada um é como cada qual e por aí fora. Todo um chorrilho de frases feitas. Mas no fim, bem, no final de contas, ou bem que estamos sós ou bem que não estamos. E eu acredito que uma pessoa que não sabe estar sozinha nunca pode estar verdadeiramente com alguém nem ser feliz com os outros. É igualmente uma frase feita, mas que me faz sentido. Eu sou, por natureza, muito independente. Gosto do meu espaço. Lido mal com intromissões nos meus assuntos pessoais. Não sou de prestar contas a ninguém. Gosto de pôr e dispor do meu tempo, da minha energia e das minhas coisas como bem me dá na real gana. Sou, por tudo isto, muitas vezes, injusta com os que me rodeiam. Traço barreiras demasiado firmes e não gosto que as pisem de ânimo leve. Confundo, exageramente, preocupações alheias com ingerências. Tento, aos poucos, corrigir isso. E, no entanto, quanto mais o tempo passa mais me dou conta de que esta condição de estar sozinho nada tem a ver com o estar ou sentir-se só. Giro o meu tempo em função das coisas que gosto de fazer e das pessoas com quem gosto de estar. Mas quando não sucede que os astros se alinhem e eu consiga conciliar tudo procuro adaptar-me. Foi assim quando mudei de casa, de cidade, de emprego. Procurei fazer amigos, encaixar-me noutros padrões de vida, sem alterar demasiado os meus. Às vezes as pequenas mudanças são mais significativas do que as grandes alterações. É uma questão de lidar com o que nos acontece e aceitar aquilo que não podemos alterar. Desperdicei demasiados dias da minha vida a ponderar os "e se", a alimentar arrependimentos. O truque é olhar em frente e tentar tirar partido das cartas que nos saem em sorte: nem sempre fazemos jogadas vencedoras, mas vamos a jogo. 
 
Quando digo "estar sozinho" não me refiro a estar solteiro ou a viver sozinho. Refiro-me a passar tempo sozinho, connosco apenas. Estar sozinho é assimm, mal comparado, como ser freelancer. Exige uma trabalheira descomunal. Exige foco. Exige determinação. Ter de acordar para ir trabalhar fora de casa custa. Mas acordar quando se sabe que se pode trabalhar a partir de casa custa muito mais. Ter horários fixos custa mas conseguir resistir à tentação de não ter horários e poder ficar na cama ou a ver TV mais uns minutos custa muito mais. Conviver com alguém custa mas sentir-se bem sem ter de estar acompanhado permanentemente (para algumas pessoas) custa muito mais. Eu sei disso. Vivo sozinha. Durante algum tempo, não muito, temia que os espaços mortos do meu dia me pudessem ser demasiado pesados. Não são. Pela minha natureza individualista. Mas também porque tento manter-me ocupada e sobretudo porque aprendi a gostar de pensar, de me organizar mentalmente, de estar comigo, de desfrutar dos meu espaço e tempo.
 
Quando comecei a andar de bicicleta de uma forma mais assídua custava-me horrores sair de casa sozinha. Porque fazia vento, porque as médias que conseguia eram vergonhosas, porque tinha medo dos carros, porque ir sozinha é um aborrecimento. Ainda por cima porque não tinha (e continuo a não ter) objectivos competitivos ou quaisquer outros demasiado rígidos. Hoje consigo treinar - mesmo em casa, com o TRX ou como seja - a qualquer hora. E sozinha. Aliás, habituei-me de tal forma e estou de tal modo regrada para me focar que há dias em que prefiro até ir andar sozinha. E dou por mim, nos passeios colectivos, em alguns momentos, a ir sozinha também, na minha vidinha, atrás ou à frente do grupo, mas raramente em manada. Gosto do meu espaço, não sei se já tinha dito. Um destes dias aconteceu até ser interpelada por um rapaz que me disse que indo em grupo, aos pares que seja, se torna mais fácil, alguém te dá roda. Ao que respondi: a minha roda sou eu, o meu ritmo sou eu que o marco, o meu esforço sou eu que o giro. Era o que mais me faltava ir sempre pendurada e dependente da vontade, força ou motivação alheia.

Eu não sou uma pessoa do desporto. Nunca fui. E essa faceta da minha vida é, aliás, muito recente. Nem sempre (embora quase sempre) tiro enorme prazer do que estou a fazer. Alguns dias sofro mesmo. Mas mantenho-me focada no "depois", nos resultados que quero ter daqui por algum tempo. No bem que me vou sentir quando esvaziar a cabeça. No gozo que me vai dar da próxima vez já conseguir fazer tudo sem paragens e com melhores tempos. Na sensação de leveza por ter dado tudo e ter cumprido o plano. Sem direito a medalhas nem taças. Apenas com a certeza de que já tive dias horríveis na minha vida e já me angustiei sem saber onde estaria no dia seguinte. Mas se consegui fazer determinadas coisas não há impossíveis. Espero, mas com fé, mesmo, que quando esses dias menos bons voltarem (porque eles voltam sempre) me consiga lembrar disto e da força interior e da determinação que já tive um dia e de que sou capaz de mais coisas do que alguma vez imaginei tanto física quanto psiquicamente.
 
Sim, estou sozinha, mas há muito tempo que não me sentia tão pouco só. Estou com as pessoas quando quero e posso estar, quando elas me dão o prazer da sua companhia e me concedem um pouco do seu tempo e da sua paciência. Apenas porque quero. Porque gosto delas. Não porque tenho medo de estar sozinha ou porque me é mais prático em termos económicos ou porque é socialmente correcto.  E não há absolutamente nada no mundo que pague o gostinho de saber que me valho a mim mesma e que me sou uma óptima companhia. [Ainda que nem sequer saiba mudar uma câmara de ar ou estrelar um ovo. Mas eu cá me desenrasco, não se apoquentem. Se consertei a persiana não há-de ser um furo ou um fillet mignon que me hão-de afligir.]
 
 
 

domingo, 10 de agosto de 2014

A vida acontece.

Os semáforos costumavam estar fechados por causa das obras. As pessoas habituaram-se a que os carros parem para as deixar passar. Os semáforos foram entretanto reactivados. Os carros passam a grande velocidade, fiados de que as pessoas esperarão. A senhora talvez não tenha reparado no sinal vermelho a proibir-lhe a marcha. O condutor talvez tenha feito confiança no sinal verde a dar-lhe passagem. Nem um nem outro travaram a tempo. Ela foi retirada, já cadáver, debaixo do eléctrico. Acaba de morrer uma pessoa na rua da frente.
 
Cai a noite. Um carro pára na rotunda. Lá de dentro sai uma mulher vestida com um sari lindo, azul turquesa. É uma noiva. Esperam-na um grupo de pessoas também com trajes típicos. Abraçam-se. Sorriem. Começam a tocar uns batuques e seguem rua afora, cantando e dançando. Celebra-se o Amor na rua aqui ao lado.
 

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O Perfume.

Há quem tenhas músicas proibidas. Lugares aonde não se quer voltar. Porque lhes lembra alguém.  Porque foram felizes aí. Porque têm medo de recordar, de voltar ao passado, de avivar memórias.
Eu tenho um perfume que me lembra de ti. Não o teu. O meu. Um que escolheste para mim. Um cuja fórmula me explicaste. Um que dizias ser a minha cara. Um perfume quase raro, peculiar.
Há dias peguei no frasco, abri-o, aspirei fundo e ao que parece, segundo a pessoa que estava comigo, pôs-me «um sorriso bom na cara». Comprei-o. Não porque me lembre de ti. Mas porque me traz à memória aqueles dias bons, felizes. Porque me recorda a pessoa que eu era. Contigo. Hoje, sem ti, faz sentido continuar a usá-lo. Continua a ser raro, peculiar. Como eu!

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Letras.

Algumas pessoas têm a amabilidade de gostar do que escrevo. Algumas sugerem até que aposte mais no blogue ou na respectiva página do Facebook. Há quem considere que deveria tentar publicar alguns escritos e levar mais a sério o facto de ter jeito para esta coisa das letras. Ainda não, filhinhos. Ainda não. Tenho demasiado respeito por quem de facto faz disto vida e o faz em bom. Não tenho a veleidade ou a pretensão de me considerar à altura de tais artistas do verbo, como dizia O outro. 
Ontem estive um par de minutos entretida a reler alguns posts do blogue. O que me ri sozinha, Senhor! Que bem me fez recordar alguns episódios, rever-me em algumas coisas que já aqui disse, surpreender-me com algumas tiradas bem conseguidas. Sim, eu sei que escrevo bem, mas não Tão Bem. E este espaço serve sobretudo para isso: para canalizar energias. Para ter um diário de bordo que um dia me recorde desta jornada. Para voltar cá quando precisar de rir, quando quiser perceber que feridas sararam, quando tiver saudades.
Um dia. Um dia partiremos para outras aventuras. Cada coisa a seu tempo. Tudo em mim leva tempo.
 

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Lá, na santa terrinha...

«Por isso nos deu Deus tão pouca terra para o nascimento, e tantas terras para a sepultura. Para nascer, pouca terra. Para morrer, toda a terra: para nascer, Portugal, para morrer, o mundo.»
Padre António Vieira, Sermão de Santo António, 1670



Há dias em que chego a casa. À casa onde cresci, onde vivi metade da minha vida. À casa a que conheço cada recanto, pese embora o pai teime em mudar permanentemente as paredes de sítio. À casa onde posso andar às escuras sem tropeçar em nada porque sei o lugar de cada objeto. À casa onde os cheiros me são familiares. À casa de onde parece que nunca saí por mais longas que se façam as ausências. À casa que há-se ser sempre a minha, dos meus pais e da mana. À nossa casa.
 
Há dias em que penso nas voltas da vida e aonde elas já me levaram e sinto saudades da casa, espaço físico e da casa, espaço afectivo. Nesses dias apetece-me voltar. Depois... depois reencontro pessoas da minha geração (como a malta entradota gosta de dizer). Ouço-as falar da vida, dos casamentos, dos filhos. Insistem uma e outra vez que de todas as pessoas do nosso ano são as únicas que casaram e têm filhos, com um indisfarçado orgulho por terem assentado arraiais. A avaliar pela insistência nos temas - filhos e casamentos - creio, melhor: sinto, que olham para mim com pena, como se a minha opção de vida me tenha sido imposta e implique solidão. Não passar pelo altar e pelas dores do parto equivale, no sítio de onde venho e para a tribo que me viu nascer, a uma sentença e a um estigma. A esta altura da vida era  suposto já se ter a vida para lá de encaminhada. E encaminhada não significa, para eles, somente ser-se feliz e estar de bem com a vida. Não! Implica ter casa, carro, marido, descendência, emprego, pouso fixo. Aos olhos deles, eu bicho-careto, dada a poucas confianças e completamente dependente da minha liberdade, sou a doidivanas que estoira os parcos rendimentos (consoante a fase da vida em que me encontro) em viagens, bicicletas, livros e bugigangas que não interessam a ninguém.
 
Há dias em que me apetece voltar. Depois reencontro pessoas que cresceram comigo, vejo o que fizeram da vida, o que a vida fez delas; não tomámos rumos melhores nem piores uns do que os outros, apenas distintos. Compreendo, por fim, que o melhor que me poderia ter acontecido foi sair, fugir das amarras do comodismo, dos clichés, do que é suposto fazer-se e do que é esperado que façamos. Sim, há dias em que me apetece tanto voltar. Mas a minha casa são as minhas pessoas. E essas vão comigo aonde eu for, arranjaremos maneira de estar juntos sempre. Para já a minha casa, essa, a de quatro paredes, numa aldeia perdida no mapa, vai continuar a ser minha apenas esporadicamente, quando o coração me pede sossego e paz. Para já a minha casa continua a ser o mundo, todas as pessoas que me estão destinadas e que ainda me falta conhecer e todos os sítios que ainda pisarei nestas andanças da vida.

 
 

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Já ganhei o dia! #4

Há amores que se consubstanciam em Amizade, em cumplicidade, que parecem ter nascido connosco independentemente de conhecermos a pessoa apenas há meia dúzia de anos, meses ou semanas. Um destes dias, numa conversa trivial, a propósito de tudo e de nada, uma amiga disse-me a propósito de outro: «Gosto mesmo do F.. Penso nele quando me vou abaixo.» Poderá havê-las mais lindas, mas não concebo declaração de amor mais sincera.