Deve ter havido um apagão do qual não me apercebi. Só assim se explica que o meu círculo de amigos tenha, assim como quem não quer a coisa, dado em desovar todo ao mesmo tempo. Como por magia as minhas amizades desataram a multiplicar-se e já vamos em três nascidos e outros tantos a caminho. Nem tudo está perdido: sempre me têm a mim para lhes valer.
A época iniciou-se com o L. O L. quase fez o seu lindo paizinho estoirar de alegria ainda nem era gente. Deu-me a boa nova da sua concepção de peito inchado e sorriso rasgado. Olvidou-se o desgraçado de me anunciar a triunfal chegada do petiz, lapso prontamente desculpado pelas artimanhas do embevecimento de que se deixou tomar. O L. é um puto com sorte. Ainda não tem descernimento para o saber, mas um dia há-de dar-se conta de que o pai que lhe saiu em sorte é um miúdo ímpar, lindo por fora e por dentro, habilidoso, desenrascado, companheiro e, sobretudo, sonhador. Benza-o Deus e a essa capacidade de continuar a acreditar sempre. E não preciso de estar com eles a tempo inteiro para testemunhar o quão desembaraçado é com a criança. Sei o desempoeirado que é na arte de tratar do rebento. Conheço-lhe esse talento de outras épocas.
Depois chegou a F. A sua querida mãezinha, que conheço desde os tempos em que ainda fazia o Quebra Costas sem ofegar, achou por bem largar a novidade como quem pergunta o preço do tremoço. Na Feira do Livro, ali à beira da roulotte das farturas, toma lá disto: Estou grávida! E eu, que lhe "ligo tanto como aquele que ali vai a fugir", fiada de que era brincadeira, mais não disse do que pois 'tá, bem. E não é que estava mesmo? Maneiras que não tive mais remédio se não acostumar-me à ideia de impedir que a criança viesse a ter uma miserável existência. Ainda só era um pontinho minúsculo e já o pai tratava de lhe arruinar o futuro. Resolvi a coisa com ameaças várias e lá chegámos a acordo quanto ao nome da petiza. Depois foi só deixar passar o tempo, ir falando com ela todos os dias para se habituar à ideia de que a vida cá fora nem é má, que a titi M. cá estaria para tratar de tudo. A S. lá desovou como manda a lei e, vergonha das vergonhas: eu que não falhei um único dia enquanto a garota estava no invólucro depois de nascida ainda não lhe dei o prazer de a embalar nos meus bracinhos. Mas sei que está bem entregue. O paizinho se o deixassem não a deslargava. E a mãezinha, mau grado andar desgraçada de cansaço, faz-se toda ela uma fera ofendida se uma pessoa deixa passar em brancas nuvens qualquer pitada de informação sobre a criatura. Feta, vieste ao mundo no seio de uma família espetacular. Do lado da tia, pelo menos!
A B., que não pode ver nada a ninguém que também quer logo igual, prega-me com esta bela novidade de me deixar a cara à banda ainda o tempo ia quente e tínhamos meses e meses de gestação pela frente. Em vão supliquei por fotografias que me fossem dando conta do processo. Era o mandavas! A poucos dias da coisa se dar lá se dignou a excelsa mãe da B. a mandar umas pelingrafias que me atualizassem. Há coisas que nunca mudam! Apressadinha - não está posta de parte a ideia de sabotagem por parte da mãe, desejosa de voltar às lides laborais - viu a luz do dia antes do que era suposto, porque quem sai aos seus... A B. anda num sufoco porque vai-se a ver os bebés são pequeninos e frágeis e não dão sossego. Esta em particular, que tem bem a quem sair, já se impôs: come e dorme quando lhe apetece. A B. tem por mãe o ser mais racional do Universo, uma miúda inteligente e despachada, que sabe ao que vai e por onde ir. Não tem como não dar certo!
É estranho ver a malta com quem andámos na má vida, com quem partilhámos tantos dias bons e tantas gargalhadas, a quem ouvimos as mágoas, que nos ajudaram a enfrentar medos, que são uma parte de nós, assim multiplicada em mini pessoinhas, acabadas de chegar a este mundo. É estranho e uma felicidade imensa poder partilhar essa alegria de se tornarem Pais e Mães. Fantásticos. Que o são! Primeiro é avassaladora a ideia de que nada será igual. Depois é arrebatador ver a vida continuar em pequenos prolongamentos das pessoas que tanto amamos.
É estranho ver a malta com quem andámos na má vida, com quem partilhámos tantos dias bons e tantas gargalhadas, a quem ouvimos as mágoas, que nos ajudaram a enfrentar medos, que são uma parte de nós, assim multiplicada em mini pessoinhas, acabadas de chegar a este mundo. É estranho e uma felicidade imensa poder partilhar essa alegria de se tornarem Pais e Mães. Fantásticos. Que o são! Primeiro é avassaladora a ideia de que nada será igual. Depois é arrebatador ver a vida continuar em pequenos prolongamentos das pessoas que tanto amamos.