sexta-feira, 27 de março de 2015

Ao L., à F e à B. que já por cá andam a espalhar magia.

Deve ter havido um apagão do qual não me apercebi. Só assim se explica que o meu círculo de amigos tenha, assim como quem não quer a coisa, dado em desovar todo ao mesmo tempo. Como por magia as minhas amizades desataram a multiplicar-se e já vamos em três nascidos e outros tantos a caminho. Nem tudo está perdido: sempre me têm a mim para lhes valer.
 
A época iniciou-se com o L. O L. quase fez o seu lindo paizinho estoirar de alegria ainda nem era gente. Deu-me a boa nova da sua concepção de peito inchado e sorriso rasgado. Olvidou-se o desgraçado de me anunciar a triunfal chegada do petiz, lapso prontamente desculpado pelas artimanhas do embevecimento de que se deixou tomar. O L. é um puto com sorte. Ainda não tem descernimento para o saber, mas um dia há-de dar-se conta de que o pai que lhe saiu em sorte é um miúdo ímpar, lindo por fora e por dentro, habilidoso, desenrascado, companheiro e, sobretudo, sonhador. Benza-o Deus e a essa capacidade de continuar a acreditar sempre. E não preciso de estar com eles a tempo inteiro para testemunhar o quão desembaraçado é com a criança. Sei o desempoeirado que é na arte de tratar do rebento. Conheço-lhe esse talento de outras épocas.
 
Depois chegou a F. A sua querida mãezinha, que conheço desde os tempos em que ainda fazia o Quebra Costas sem ofegar, achou por bem largar a novidade como quem pergunta o preço do tremoço. Na Feira do Livro, ali à beira da roulotte das farturas, toma lá disto: Estou grávida! E eu, que lhe "ligo tanto como aquele que ali vai a fugir", fiada de que era brincadeira, mais não disse do que pois 'tá, bem. E não é que estava mesmo? Maneiras que não tive mais remédio se não acostumar-me à ideia de impedir que a criança viesse a ter uma miserável existência. Ainda só era um pontinho minúsculo e já o pai tratava de lhe arruinar o futuro. Resolvi a coisa com ameaças várias e lá chegámos a acordo quanto ao nome da petiza. Depois foi só deixar passar o tempo, ir falando com ela todos os dias para se habituar à ideia de que a vida cá fora nem é má, que a titi M. cá estaria para tratar de tudo. A S. lá desovou como manda a lei e, vergonha das vergonhas: eu que não falhei um único dia enquanto a garota estava no invólucro depois de nascida ainda não lhe dei o prazer de a embalar nos meus bracinhos. Mas sei que está bem entregue. O paizinho se o deixassem não a deslargava. E a mãezinha, mau grado andar desgraçada de cansaço, faz-se toda ela uma fera ofendida se uma pessoa deixa passar em brancas nuvens qualquer pitada de informação sobre a criatura. Feta, vieste ao mundo no seio de uma família espetacular. Do lado da tia, pelo menos!
 
A B., que não pode ver nada a ninguém que também quer logo igual, prega-me com esta bela novidade de me deixar a cara à banda ainda o tempo ia quente e tínhamos meses e meses de gestação pela frente. Em vão supliquei por fotografias que me fossem dando conta do processo. Era o mandavas! A poucos dias da coisa se dar lá se dignou a excelsa mãe da B. a mandar umas pelingrafias que me atualizassem. Há coisas que nunca mudam! Apressadinha - não está posta de parte a ideia de sabotagem por parte da mãe, desejosa de voltar às lides laborais - viu a luz do dia antes do que era suposto, porque quem sai aos seus... A B. anda num sufoco porque vai-se a ver os bebés são pequeninos e frágeis e não dão sossego. Esta em particular, que tem bem a quem sair, já se impôs: come e dorme quando lhe apetece. A B. tem por mãe o ser mais racional do Universo, uma miúda inteligente e despachada, que sabe ao que vai e por onde ir. Não tem como não dar certo!

É estranho ver a malta com quem andámos na má vida, com quem partilhámos tantos dias bons e tantas gargalhadas, a quem ouvimos as mágoas, que nos ajudaram a enfrentar medos, que são uma parte de nós, assim multiplicada em mini pessoinhas, acabadas de chegar a este mundo. É estranho e uma felicidade imensa poder partilhar essa alegria de se tornarem Pais e Mães. Fantásticos. Que o são! Primeiro é avassaladora a ideia de que nada será igual. Depois é arrebatador ver a vida continuar em pequenos prolongamentos das pessoas que tanto amamos.

Sol.

Não sei se chegou com a idade. Não sei se com alguma necessidade fisiológica que desconheço. Não sei se é apenas reflexo do que me vai por dentro. O sol, o céu limpo fazem-me cada vez mais falta. Amanhecer com um dia claro aumenta-me em 300% a energia e a vontade de viver. Paradoxalmente, continuo a preferir fazer uma data de coisas à noite, no sossego da escuridão, quando o mundo parece um bocadinho mais em stand by e está tudo em paz. Mas, sim, gosto cada vez mais de dias soalheiros e do bem que me fazem à alma.

quinta-feira, 19 de março de 2015

"Só pra dizer que te amo, nem sempre encontro a melhor forma"

Quem me conhece sabe que eu sou um bicho do mato em se tratando de afectos. Sou assim a descair para o curta e grossa. De uma maneira geral e com os meus em particular não ando cá com meias medidas: tomo conta deles à minha maneira, mas sempre dentro das minhas regras e com as barreiras muito bem definidas.
A P. costuma dizer que eu negligencio os meus pais. E tem toda a razão. Sou do piorio. Esqueço-me de ligar, não mando mensagens, só os informo das maleitas clínicas já elas estão curadas e por aí afora. A minha mãe discorda da P. Não acha que eu seja negligente. Acha que sou mesmo é uma mal-educadona. E sou. Infelizmente. E não creio que vá a tempo de me emendar.
Os meus pais são os meus pais. Nao são os meus melhores amigos. Nem sequer são os meus maiores confidentes. Dos meus pais espero umas lambadas valentes se algum dia falhar a sério. Da mesma forma que quando precisei de colo e alento, já mulher feita, ele lá estava. Ponto final. Parágrafo. Tal como eu não ligo sempre mas quando é preciso sou eu a resolver. Somos uma máquina bem oleada no essencial. No resto deixo os meus pais serem pais dos meus amigos todos de quem eles tanto gostam.
 
Obviamente o meu pai - nem que fosse apenas por ser o Meu - é o melhor pai do mundo. Quando penso nisso foco-me sobretudo em duas coisas: a liberdade que sempre me deu para eu fazer da vida o que quisesse e como sempre se esforçou tremendamente para que nada nos faltasse.

[Breve interrupção na escrita para ler mensagem da mãe que estranha que eu ainda não tenha ligado ao pai. Adiantas de bem! Ligo quando a mim me apetecer!]

Ensinou-me a andar de bicicleta. E a conduzir um carro quando era uma caganita de gente com onze anos. E mais tarde o tractor. Não me lembro nunca de me ter vestido ou penteado. Consta que tinha de me dar comida porque era uma esgoealda que chorava entre o ir e vir da colherada da mãe. Ainda hoje fica possesso quando se lembra que era ele quem acordava de noite para ver se estávamos bem mas que sempre que era preciso alguma coisa chamávamos pela mãe. Grande palerma! Nós a poupá-lo e ele ainda é mal agradecido! É a primeira pessoa a gozar com o tamanho das minhas orelhas e diz coisas horríveis sobre elas parecerem umas folhas de couve de tão grandes que são. Obrigava-me a ouvir a Renascença e a TSF a caminho da escola. E às vezes a Bola Branca antes de ir dormir. Por causa dele e por me ter posto a assistir a tudo quanto era futebolada sei o nome de mais jogadores da bola dos anos oitenta e noventa do que seria expectável. E de pilotos de Fórmula 1. E de Moto GP. Para não dizer que aprendi a jogar matraquilhos e até torneios organizámos com os amigos nos domingos à tarde. Sumariamente: não poderia ter feito mais pela minha educação do que fez. Deu cabo de mim, foi o que foi! Ou pensáveis que eu saía às pedras da calçada?
 
Quando penso nele com carinho - agora a sério! - penso em segurança e num afecto maior que tudo. Quando era pequena e espetava farpas nos dedos só deixava que fosse ele a tirá-las. Ainda hoje penso nele quando me espicaço toda no meio do monte. Só ele é que me podia pôr os brincos porque as outras pessoas magoavam-me. Quando penso nele penso em segurança porque sei que ele faria qualquer coisa para me ver feliz. Como sempre tem feito! Se ele não é o melhor Pai do mundo certamente não é por desmérito dele. Eu é que lhe dificulto imenso a tarefa.

segunda-feira, 16 de março de 2015

O efeito legging!

Tenho para mim que Deus é um pândego como já não se fazem. Aborrecido da vida, alapado numa nuvem fofinha, cansado do tédio da existência infinita, lembrou-se um dia de inventar essa maravilha da alta-costura que é a legging. E a coisa corria bem. Enquanto foram apenas as esquálidas bailarinas a ter a feliz ideia de as usar a coisa corria bem. Vai daí o povoléu pôs o olho na dita pecinha. Tomou-lhe a textura. Operaram-se milagres na mente das criaturas: confortável mais confortável não há. Num piscar de olhos toca de produzir a legging em quantidade industrial. Dá-se o caso do material ter propriedades que lhe permitem expandir-se. O caos generalizou-se. A noção e o bom senso, como bem sabemos, não é para todos. Quando demos por ela a moda estava instalada e desde o S ao XXXLLL é vê-las passear o nalguedo e as celulitames por aí fora, todas airosas, de coxas bamboleantes. Não é bonito senhoras, ide por mim: não é bonito!

Mas Deus é um moço que se enfastia amiúde. Nova ideia genial. O unhame de meio metro. Agora o que está a dar é usar aquelas coisas a que insistem em chamar unhas mas que a mim me parecem umas garras afiadas. Em tamanho normal ainda se suporta, mas tenho visto com cada despautério! A mascote do Benfica tem-nas mais aparadas do que algumas criaturas. Em todo o caso reconheço ali alguma utilidade: serve de arma de defesa pessoal. Não tem como falhar se a ideia fora vazar uma vista a alguém.
Para o ramalhete estar completo faltava poder eternizar estas belas invenções. Nem bem o tinha pensado e já a selfie estava criada. Esta grandiosa invenção, segundo consta pelas notícias que li, deve ter sido patrocinada pelo Quitoso. O contacto entre as frondosas cabeleiras mais não tem feito do que propagar a bicharada. Ora, Deus como se sabe tinha de dar alguma utilidade aos chineses. São mais que as mães e todos bem idiotas. O que não faltam é ideias e invenções para aquelas bandas. Não tardou veio a moda dos pauzinhos para facilitar os auto-retratos (isto sou eu a inventar terminologias a ver se pega!). Again: é tudo muito lindo e tal e coisa mas com moderação, meninos, com moderação. Andar a fotografar-se com pauzinhos e coisas dá assim um ar… tolo. Só. As fotos continuam a não valer um chavelho mas pronto, temos um pauzinho. A juntar à unhaca afiada já vão em duas as armas do nosso arsenal. Há exércitos menos bem equipados!
Acto contínuo, ainda não recuperada dos poros e das tezes mal cuidadas de alguns espécimes, zás, sou confrontada com a variante da selfie que me obriga a levar com uma enchente de comida. Na maioria dos dias nem preciso de tomar o pequeno-almoço. Vejo as fotos e já fico saciada. Ou enjoada, dependendo da qualidade das mesmas. Por cada pessoinha que tem em si uma Felipa Vacondeus encontramos dez outras que nem um ovo sabem estrelar mas acham por bem dar-se a ares de Adrià (que para quem não sabe é um génio dos tachos). Pior, não só não sabem cozinhar como não têm noção disso. E para piorar o que já de si é mau: são detentores de um sentido de estética a roçar o nulo. Não raras vezes sou confrontada com a terrível provação de ter de suportar a fotografia péssima da mistela indescritível em loiças inqualificáveis sob panos horrendos. Tudo isto, estando a autora a usar uma legging!!
E podia continuar por aqui fora. Não estais livre de que o faça em oportunidade futura. Há tanto Big Brother à espera de ser analisado, tanto jogo do Sporting para discutir ao pormenor, tanto casamento do Pinto da Costa para dissecar. Basicamente, minha gente, a mensagem a reter é a da Sónia: “Tudo é para todos mas nem todos são para tudo.” Que é como quem diz: não é por existir e ser moda que eu tenho de usar ou fazer. Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe. Juizinho nessas cabeças e mais contenção na asneira, fazendo favor. Não há dinheiro para lencinhos e toca de fungar ao meu lado no autocarro e de limpar a narigueta à manga, mas temos sempre troquinhos para comprar mais um pingarelho eletrónico. E respectivo pauzinho! O que é de mais também cansa. A princípio a gente ri, mas chega uma fase em que o mau gosto enfastia. [E contra mim falo que gosto de meias de fantasia.]

sexta-feira, 6 de março de 2015

"Quem te ama não te agride!"

Hei-de ter, certamente, bem perto de mim e ignoro-o talvez quem, portas adentro, sofra calado/a a ignomínia de ver a sua dignidade e segurança posta em causa pela pessoa que mais o/a devia amar. Não sei do que falo. Lá por casa o único exemplo que me foi dado ver que se assemelhe a violência doméstica foram/são as valentes bordoadas com a colher de pau que o papai apanhou/a nas manetes sempre que teima em cherviscar os tachos, enervando mamãe até à quinta casa. Somos todos palermas e destemperados pelo que em calhando soltamos umas bujardas valentes que deixam feridos para trás. Mas nada que se assemelhe a violência doméstica. Não sei, pois, do que falo. Oiço contar. Revoltam-se-me as entranhas. Mas não o compreendo como se entendem as coisas que se viveram. Não estou nem perto de imaginar. O mais parecido que tenho dessa experiência hão-de ser os relatos do meu pai, que me disse um dia: "Nunca toquei num fio de cabelo teu ou da mana, porque eu já levei porrada por mim e por vós." Sei, por me ter contado, como ele e os irmãos viviam com medo do seu pai, das sovas descabidas e desproporcionais que levaram, das fúrias destemperadas de um pai de tantos filhos a braços com uma vida difícil. Não sei o que é ter esse medo. Nem quero nunca vir a saber. Espero ter sempre a força e descernimento necessários para me defender de pessoas que sob a capa do Amor mais não fazem do que roubar-nos o que temos de melhor: nós e a nossa essência. Mas eu sou adulta e confio que saberei abrigar-me dessas desventuras acaso venham a suceder. E as crianças? Quem defende as crianças das pessoas que supostamente deveriam cuidar delas? Para mim essa é, de longe, a mais grave das violências domésticas. A que mais me entristece e preocupa. E que a mais vítimas silenciosas tem, certamente.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Como, logo existo.

Virou moda, é quase um vírus, fotografar tudo quanto é comida. Em calhando fotografai mais bebida. Se calhais de vos hidratar melhor pode dar-se o caso dos resultados serem um nadinha mais proveitosos. Para além de eliminar toxinas. Tomara eu que a cura para esta virose maldita que invadiu tudo quanto é rede social fossem umas simples litradas de água da boa!