Quem me conhece sabe que eu sou um bicho do mato em se tratando de afectos. Sou assim a descair para o curta e grossa. De uma maneira geral e com os meus em particular não ando cá com meias medidas: tomo conta deles à minha maneira, mas sempre dentro das minhas regras e com as barreiras muito bem definidas.
A P. costuma dizer que eu negligencio os meus pais. E tem toda a razão. Sou do piorio. Esqueço-me de ligar, não mando mensagens, só os informo das maleitas clínicas já elas estão curadas e por aí afora. A minha mãe discorda da P. Não acha que eu seja negligente. Acha que sou mesmo é uma mal-educadona. E sou. Infelizmente. E não creio que vá a tempo de me emendar.
Os meus pais são os meus pais. Nao são os meus melhores amigos. Nem sequer são os meus maiores confidentes. Dos meus pais espero umas lambadas valentes se algum dia falhar a sério. Da mesma forma que quando precisei de colo e alento, já mulher feita, ele lá estava. Ponto final. Parágrafo. Tal como eu não ligo sempre mas quando é preciso sou eu a resolver. Somos uma máquina bem oleada no essencial. No resto deixo os meus pais serem pais dos meus amigos todos de quem eles tanto gostam.
Obviamente o meu pai - nem que fosse apenas por ser o Meu - é o melhor pai do mundo. Quando penso nisso foco-me sobretudo em duas coisas: a liberdade que sempre me deu para eu fazer da vida o que quisesse e como sempre se esforçou tremendamente para que nada nos faltasse.
[Breve interrupção na escrita para ler mensagem da mãe que estranha que eu ainda não tenha ligado ao pai. Adiantas de bem! Ligo quando a mim me apetecer!]
Ensinou-me a andar de bicicleta. E a conduzir um carro quando era uma caganita de gente com onze anos. E mais tarde o tractor. Não me lembro nunca de me ter vestido ou penteado. Consta que tinha de me dar comida porque era uma esgoealda que chorava entre o ir e vir da colherada da mãe. Ainda hoje fica possesso quando se lembra que era ele quem acordava de noite para ver se estávamos bem mas que sempre que era preciso alguma coisa chamávamos pela mãe. Grande palerma! Nós a poupá-lo e ele ainda é mal agradecido! É a primeira pessoa a gozar com o tamanho das minhas orelhas e diz coisas horríveis sobre elas parecerem umas folhas de couve de tão grandes que são. Obrigava-me a ouvir a Renascença e a TSF a caminho da escola. E às vezes a Bola Branca antes de ir dormir. Por causa dele e por me ter posto a assistir a tudo quanto era futebolada sei o nome de mais jogadores da bola dos anos oitenta e noventa do que seria expectável. E de pilotos de Fórmula 1. E de Moto GP. Para não dizer que aprendi a jogar matraquilhos e até torneios organizámos com os amigos nos domingos à tarde. Sumariamente: não poderia ter feito mais pela minha educação do que fez. Deu cabo de mim, foi o que foi! Ou pensáveis que eu saía às pedras da calçada?
Quando penso nele com carinho - agora a sério! - penso em segurança e num afecto maior que tudo. Quando era pequena e espetava farpas nos dedos só deixava que fosse ele a tirá-las. Ainda hoje penso nele quando me espicaço toda no meio do monte. Só ele é que me podia pôr os brincos porque as outras pessoas magoavam-me. Quando penso nele penso em segurança porque sei que ele faria qualquer coisa para me ver feliz. Como sempre tem feito! Se ele não é o melhor Pai do mundo certamente não é por desmérito dele. Eu é que lhe dificulto imenso a tarefa.
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