segunda-feira, 16 de março de 2015

O efeito legging!

Tenho para mim que Deus é um pândego como já não se fazem. Aborrecido da vida, alapado numa nuvem fofinha, cansado do tédio da existência infinita, lembrou-se um dia de inventar essa maravilha da alta-costura que é a legging. E a coisa corria bem. Enquanto foram apenas as esquálidas bailarinas a ter a feliz ideia de as usar a coisa corria bem. Vai daí o povoléu pôs o olho na dita pecinha. Tomou-lhe a textura. Operaram-se milagres na mente das criaturas: confortável mais confortável não há. Num piscar de olhos toca de produzir a legging em quantidade industrial. Dá-se o caso do material ter propriedades que lhe permitem expandir-se. O caos generalizou-se. A noção e o bom senso, como bem sabemos, não é para todos. Quando demos por ela a moda estava instalada e desde o S ao XXXLLL é vê-las passear o nalguedo e as celulitames por aí fora, todas airosas, de coxas bamboleantes. Não é bonito senhoras, ide por mim: não é bonito!

Mas Deus é um moço que se enfastia amiúde. Nova ideia genial. O unhame de meio metro. Agora o que está a dar é usar aquelas coisas a que insistem em chamar unhas mas que a mim me parecem umas garras afiadas. Em tamanho normal ainda se suporta, mas tenho visto com cada despautério! A mascote do Benfica tem-nas mais aparadas do que algumas criaturas. Em todo o caso reconheço ali alguma utilidade: serve de arma de defesa pessoal. Não tem como falhar se a ideia fora vazar uma vista a alguém.
Para o ramalhete estar completo faltava poder eternizar estas belas invenções. Nem bem o tinha pensado e já a selfie estava criada. Esta grandiosa invenção, segundo consta pelas notícias que li, deve ter sido patrocinada pelo Quitoso. O contacto entre as frondosas cabeleiras mais não tem feito do que propagar a bicharada. Ora, Deus como se sabe tinha de dar alguma utilidade aos chineses. São mais que as mães e todos bem idiotas. O que não faltam é ideias e invenções para aquelas bandas. Não tardou veio a moda dos pauzinhos para facilitar os auto-retratos (isto sou eu a inventar terminologias a ver se pega!). Again: é tudo muito lindo e tal e coisa mas com moderação, meninos, com moderação. Andar a fotografar-se com pauzinhos e coisas dá assim um ar… tolo. Só. As fotos continuam a não valer um chavelho mas pronto, temos um pauzinho. A juntar à unhaca afiada já vão em duas as armas do nosso arsenal. Há exércitos menos bem equipados!
Acto contínuo, ainda não recuperada dos poros e das tezes mal cuidadas de alguns espécimes, zás, sou confrontada com a variante da selfie que me obriga a levar com uma enchente de comida. Na maioria dos dias nem preciso de tomar o pequeno-almoço. Vejo as fotos e já fico saciada. Ou enjoada, dependendo da qualidade das mesmas. Por cada pessoinha que tem em si uma Felipa Vacondeus encontramos dez outras que nem um ovo sabem estrelar mas acham por bem dar-se a ares de Adrià (que para quem não sabe é um génio dos tachos). Pior, não só não sabem cozinhar como não têm noção disso. E para piorar o que já de si é mau: são detentores de um sentido de estética a roçar o nulo. Não raras vezes sou confrontada com a terrível provação de ter de suportar a fotografia péssima da mistela indescritível em loiças inqualificáveis sob panos horrendos. Tudo isto, estando a autora a usar uma legging!!
E podia continuar por aqui fora. Não estais livre de que o faça em oportunidade futura. Há tanto Big Brother à espera de ser analisado, tanto jogo do Sporting para discutir ao pormenor, tanto casamento do Pinto da Costa para dissecar. Basicamente, minha gente, a mensagem a reter é a da Sónia: “Tudo é para todos mas nem todos são para tudo.” Que é como quem diz: não é por existir e ser moda que eu tenho de usar ou fazer. Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe. Juizinho nessas cabeças e mais contenção na asneira, fazendo favor. Não há dinheiro para lencinhos e toca de fungar ao meu lado no autocarro e de limpar a narigueta à manga, mas temos sempre troquinhos para comprar mais um pingarelho eletrónico. E respectivo pauzinho! O que é de mais também cansa. A princípio a gente ri, mas chega uma fase em que o mau gosto enfastia. [E contra mim falo que gosto de meias de fantasia.]

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