Hei-de ter, certamente, bem perto de mim e ignoro-o talvez quem, portas adentro, sofra calado/a a ignomínia de ver a sua dignidade e segurança posta em causa pela pessoa que mais o/a devia amar. Não sei do que falo. Lá por casa o único exemplo que me foi dado ver que se assemelhe a violência doméstica foram/são as valentes bordoadas com a colher de pau que o papai apanhou/a nas manetes sempre que teima em cherviscar os tachos, enervando mamãe até à quinta casa. Somos todos palermas e destemperados pelo que em calhando soltamos umas bujardas valentes que deixam feridos para trás. Mas nada que se assemelhe a violência doméstica. Não sei, pois, do que falo. Oiço contar. Revoltam-se-me as entranhas. Mas não o compreendo como se entendem as coisas que se viveram. Não estou nem perto de imaginar. O mais parecido que tenho dessa experiência hão-de ser os relatos do meu pai, que me disse um dia: "Nunca toquei num fio de cabelo teu ou da mana, porque eu já levei porrada por mim e por vós." Sei, por me ter contado, como ele e os irmãos viviam com medo do seu pai, das sovas descabidas e desproporcionais que levaram, das fúrias destemperadas de um pai de tantos filhos a braços com uma vida difícil. Não sei o que é ter esse medo. Nem quero nunca vir a saber. Espero ter sempre a força e descernimento necessários para me defender de pessoas que sob a capa do Amor mais não fazem do que roubar-nos o que temos de melhor: nós e a nossa essência. Mas eu sou adulta e confio que saberei abrigar-me dessas desventuras acaso venham a suceder. E as crianças? Quem defende as crianças das pessoas que supostamente deveriam cuidar delas? Para mim essa é, de longe, a mais grave das violências domésticas. A que mais me entristece e preocupa. E que a mais vítimas silenciosas tem, certamente.
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