terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

É uma esquadra portuguesa, com certeza!

Onde íamos? Ah, recapitulo para vos contextualizar: estou à entrada de uma rotunda, vem uma senhora, perdão, uma troglodita, manda-me um encosto ao de leve, põe-se a milhas, fico eu a esbracejar feita palerma no meio da rua.
 
Tão cedo recupero do baque de acabar de ter passado por parva, avaliados os estragos, considerando que não era caso para estar a armar arruaceirices mandando vir a Polícia, meto-me no carro e mando-me às bombas de gasolina. Nestas coisas temos de ser práticos e eu estava quase a ficar a pé. Ódiante. Decido então, com mais calma, dirigir-me a uma esquadra que conheço ali para aquelas bandas. Amando-me lá e - em boa hora Deus Nosso Senhor me encaminhou para aquele local - sou atendida por um rapazinho que, meninas!, era um autêntico Adónis! Claro que eu, que não faço a coisa por menos, estava toda esguedelhada, deserta por chegar a casa e enfiar o pantufo, curar a gripe demoníaca que me trazia prostradinha havia dias, apresentando-me pois, na ocasião, fanhosa e roufenha. Toda eu era uma miragem! Uma estampa! NOT!
Começa então a minha desditosa saga: o tal do miúdo bem apessoado lança de lá a bujarda que esse tipo de atendimento é feito numa outra esquadra porque tudo está dividido por sectores e mimimi... Coisa para me fazer mudar logo de cor: então uma pessoa é praticamente atacada e não pode apresentar queixa? A praguejar, lá me dirigi à tal da esquadra específica para reclamações e queixas de acidentes. Cúmulo: há um arrumador à porta, raça excomungada que abomino, e ainda tenho de largar um euro. Mesmo nas barbas da Polícia. Adoro! O senhor Agente que me recebe é todo ele uma figurinha digna de comentário. Gordo, entalado na farda, pança de fora, botões na iminência de me vazarem um vista se saltassem. Bigodaça farfalhuda. Dentes, a bem dizer, só lhe vi dois. E nem eu abrira a boca e já ele era um chorrilho de queixas: a gente não podemos trabalhar se não nos pagam, menina! Não conte com respostas rápidas! Ora portanto, a ver se entendi: uma pessoa [não sei se era bem uma pessoa] bate-me no carro, eu evito chamar a Polícia para poupar dinheiro aos contribuintes em geral, vou por minha conta à Esquadra e ainda me dizem que é coisa para demorar e não dar em nada? Bom sabê, gentji! Deixo-vos apenas com o relato final do episódio para terdes uma ideia. Depois de conseguir desencantar uma caneta que escrevesse, de preencher as papeladas, de ter feito um desenho que atesta o que sempre se suspeitou: que tenho um talento para as Artes equiparável ao de um feto de quatro meses, de ter preenchido novamente mais papeladas, de ter ensinado o senhor a procurar uns sites na net, diz-me então ele: «Lá para quarta ou quinta-feira passe a apanhar a documentação.» E como eu tenha dito, feita papalva, inocentinha da vida: «Depois de amanhã ou assim?», aniquila-me com o seu ar de espanto e esta sentença: «Olha, esta menina! Tem graça, a menina! Quarta ou quinta da próxima semana, claro! E upa upa! Já é depressa de mais que a gente se não nos pagam não podemos trabalhar!» Toma lá do que é bom para a tosse!
Depois de ter levado com a (falta de) educação de uma senhora criada pelos Hunos e com zero noção de responsabilidade social, da tal dita criatura ter insinuado que sou "dahhh" [e sou, porque se não fosse tinha-lhe pregado com a porta do meu carro com uma certa delicadeza para ver se gostava do tratamento], de uns espirros intermináveis e uma dor de cabeça mortal, de ter lidado com um senhor agente solícito que só ele, terminei o dia confusa e sem saber se mais almolgado estava o carro ou a minha auto-estima. Fora de brincadeiras: deprimi! Nós temos o país que merecemos, tenho dito frequentemente. E acredito mesmo que sim. O país somos nós, as pessoas. Como podemos exigir que quem nos dirige esteja à altura quando nos comportamos desta maneira? E por outro lado, como podem eles exigir que nos comportemos correctamente quando o exemplo vem de cima e o exemplo é, a bem dizer, uma canalhice pegada? Que país é este, Deus do Céu!?
 
 

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