Disseste-me ali, entre uma pedalada e outra - sei exactamente onde: havia raízes por todo o lado e subíamos com esforço - que estavas a pensar tatuar-te. "Resiliência" era o que deverias escrever a tinta na tua pele. Para te lembrares de todos os dias em que foste buscar forças dentro de ti e a tua mente comandou um corpo que teima em te limitar. Não os sonhos! Esses nada nem ninguém tos limita. Não pedes muito. Apenas mais força e resistência para continuares a vencer esta luta desigual.
Resiliente é o que tens sido nas noites de insónia e de dor. Nas manhãs passadas a pedalar cheia de dores. Nos dias em que te mexes apenas com o poder da mente porque todas as articulações parecem doer-te ao mínimo gesto.
Aprendeste a contornar a tua circunstância. Confessas-me que há dias de desespero, em que choras de dor e de raiva. Raiva por estares presa a um corpo que não funciona como deveria. Admites a desesperança, a depressão e a impotência. No dia seguinte estás lá, à hora combinada, como se nada fosse, como se não te doessem todos os ossos do corpo. Sem desculpas. Resiliência és tu! E por isso vamos tendo dias felizes. Dias bons, em que custa menos, em que dói menos. Dias em que embora o difícil não se torne fácil tu consegues que seja exequível.
Resiliente. Profissionalmente. Pessoalmente. Desportivamente. Ensinas-me todos os dias que não há nada que não consigamos fazer, que não há limitações para além das que nós criamos na nossa mente. Podemos ter de fazer as coisas de maneira diferente, com ritmos próprios. Podemos nem sempre arriscar tudo mas sabemos que damos o nosso melhor.
Às vezes penso em ti, em como estarás hoje e tenho pena. Não de ti. Mas da tua circunstância. E depois vejo-te enquanto te esgueiras a alta velocidade por entre as árvores. Avalio a tua cara de sofrimento quando acabamos de subir e sinto orgulho de ti e dessa força imensa que te move e que se chama Vontade. Contemplo o teu sorriso no final das descidas e sei, porque o sinto, que te divertiste e foste feliz. Não importa se foram apenas instantes.
Resiliente também por me aturares. Por te juntares ao coro de queixumes e lamúrias incessantes com que vamos chagando o nosso M. Por já me teres percebido e saberes que em dias de neura é deixá-la ir e não dizer nada.
Dizes-me que não tens a minha força de vontade, que não consegues fazer sozinha, que não tens motivação. Saberás tu, E.L., que a verdadeira inspiração dos que te rodeiam és tu, resiliência em estado puro, mulher coragem, destemida e valente? Outras haverá com mais títulos e medalhas a provarem-no. A ti bastam-te os amigos e as pessoas que te querem bem e que hoje, neste dia especial, comemoram contigo mais um ano; comemoram, como eu, o ter-te na minha vida, já tatuada num cantinho especial onde moram os que fazem parte de mim. Parabéns L. Amo você!
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