sábado, 5 de julho de 2014

Ser mãe, ser mulher, ser pessoa, ser eu.

Eu costumava dizer a propósito de estar desempregada que só que lá está é que sabe o que custa. Maneiras que nem me atrevo sequer a supor que sei o que é ser-se mãe sem nunca o ter sido e muito menos o que é perder um filho sem nunca ter tido nenhum. Só quem lá está é que sabe! Mas não me considero menos mulher por isso e muito menos uma pessoa mais pobre ou menos rica, se preferirem. Há muitas formas de Amor, sendo o maternal apenas um deles, talvez o mais completo, por, como commumente se diz, "se passar a ter o coração fora do peito". Admito a adoração com que as pessoas falam da sua prole e das proezas das suas criancinhas. Eu cresci numa família que quase se pode considerar numerosa e adoro miudagem. Estou numa fase anti-maternal, não penso em ter filhos num futuro imediato mas confesso que já vivi uma época em que gostaria muito de ser mãe. Acontece que a vida dá muitas voltas, leva-nos para caminhos que nunca suspeitámos vir a trilhar e como tal neste momento não é uma das minhas ambições próximas. Em todo o caso, gostaria de sublinhar que, não obstante nunca ter parido ninguém, talvez saiba melhor do que muitas mães o que é ter filhos e ser responsável por outra pessoa que não nós, e viver em função disso e fazer dessa pessoa a nossa prioridade. Não é à toa que se diz que a mãe não é a que pare mas a que cria.
Já por várias vezes tinha pensado nisso e agora, com o caso mediático recentemente ocorrido, novamente me voltou à ideia este ponto. Eu acredito que as pessoas vêm ao mundo para cumprir missões, para se realizarem. Com a morte de alguém a quem queremos profundamente morre uma parte de nós. Sei do que falo. É real. Mas há, para além disso, tudo o que essa pessoa nos deu, o modo como nos marcou e como viverá para sempre em nós. Há para além disso, mais importante ainda, tudo o que nos falta por viver a nós. Sobreviver à morte de um filho deve ser (suponho eu que não tenho filhos) impensável, no mínimo. Mas não deve ser impossível. Tal como eu vejo as coisas, antes de tudo, existimos nós. Nascemos e morremos sozinhos, sempre. Não temos de viver sozinhos, nem só para nós, mas deveremos ser nós o nosso motivo para viver. Talvez esta crueza da minha visão se deva a um facto simples e no entanto tão complexo: levei 32 anos a dizer isto, mas hoje sinto-o e é a verdade com que vivo: eu sou a pessoa mais importante da minha vida. E, em última análise, apesar de todos os Amores que me batem fora do peito, o Amor por mim deve ser sempre o fio que me guie. Oxalá nunca tenha de vir a reler, com o coração desfeito e sem rumo, o que hoje digo e que a alguns parecerá tão leve, mas somos todos seres únicos e insubstituíveis, com uma missão, com uma vida, individuais. E até que se cumpra o nosso destino final acredito que a cada dia devemos abraçar alguém, dar-nos a alguém, receber de alguém. Mas, também, cumprir-nos para além dos outros, por nós e para nós e só então, plenos da grandeza do dom da Vida, sermos em função dos outros, para os outros, porque não somos nunca donos de ninguém.

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