quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Crónica de um nascimento.

De todas as alminhas que poderiam fazer o relato do nascimento a esta tia exilada, calhou logo de ser o meu pai, recém estreado Avó a assumir essa tarefa. O diálogo que se segue é da exclusiva responsabilidade dos intervenientes, sendo que um deles estava nitidamente embriagado de adrenalina e emoções várias!
- Então, Pai, conta-me tudo.
- Bem, a mana estava com aquela anestesia. Como é que vós a chamais?
- Epidural?
- Isso. Estava com isso. E até lhe puseram aquele paninho à frente, sabes como é que, para ela não ver nada. Só que quando começaram a cesariana começou a ter dores e mesmo com o paninho à frente a tapar era como se estivesse a ver tudo porque eles falavam a dizer o que estavam a fazer. Por isso tiveram de lhe dar uma das outras. Como é que vós a chamais?
- Anestesia geral? Foi isso?
- Pois. Dessas. Portanto apagaram-na. Depois a bebé nasceu. E os bebés ficam sempre com as mães e as mães com os bebés. Mas como a mana estava com a geral, teve de ser o T. a ficar com ela. Com a bebé. Enquanto a mana estava lá a fazer as coisas dela.
- Sim, estou a entender. A acabar de assar a perna de peru que tinha deixado no forno e a retocar as pestanas.
- Qual perna de peru?
- Nenhuma pai. Vá segue. E depois?
- O teu cunhado até transpirava. Duas horas nisto. Ora, num braço a bebé com 3,500kg. Tem uns bracinhos muito gordinhos!! Pois, num braço a bebé e no outro o tá-be-lé-te. Porque lhe pôs uma... como é que se diz? Uma musiquinha... Como é que vós a chamais?
- Sei lá que música lhe pôs!!!
- 'Atão... assim uma musiquinha ambiente ou lá como é para a bebé se acalmar, porque era a música que ouvia enquanto ainda estava na barriga. Que os bebés ficam sempre com as mães mas a nossa ficou com o T. até a mana acordar. Por isso ele nem podia mandar mensagens. Porque a bebé pesa e o tá-be-lé-te no outro braço... Só mandava mensagens assim a apalpar o telemóvel, tudo até com erros.
- Ah, estou a entender...
- Depois nós vimos a bebé. Tem o nosso nariz! Com aquele tracinho. E cabelo escuro e engrovinhado.
- Tem o quê??
- O cabelo assim a ficar com ondas. Que o T. tem muitos caracóis e parece que vai ser como ele. É muito, muito, muito, mesmo muito bonita.
- Pai, menos, sim?!
- Mas é mesmo muito bonita. É muito fofinha a garota! Tem uns bracinhos muito gordinhos.
- E fotos? Porque é que ninguém me manda fotos?
- Ai, eu tirei muitas e a tua mãe também. Mas eu assim não sei mandar. Tenho de ir ver primeiro as instruções que a C. me ensinou para ver como se faz. A mãe já te manda. [Estou desde ontem a receber mensagens em branco enviadas pelos meus pais.]
- E a mana?
- Ah, a mana veio depois, já acordada, depois de lá fazerem as coisas dela [a tal perna de peru e tal] e deixaram-na ficar com a bebé lá em cima dela.
- Em cima dela?
- Sim, 'atão?! Se não ficou com ela logo quando nasceu, deixaram-na ficar depois. E agora fala aqui com a tua mãe que eu ainda tenho de ir a conduzir até casa e já é tarde. Hoje já não durmo as 12 horas como é hábito.

Conclusão: doravante tenho de viver com o facto de o meu pai usar e abusar e reabusar do superlativo e do diminutivo. O linguajar familiar nunca mais será o mesmo!

Outras reacções ao feliz acontecimento [porque cada um tem a família que merece]:
Primo R. - Boa! Já sou tio!! [Este miúdo sempre teve um problema com a designação da hierarquia familiar.]
Prima C. - É um dia histórico para a família... Acabaram-se os privilégios: deixei de ser a mais nova! frown emoticon
Primo M. - Quando é que nasce a miúda, mesmo? Está para breve?
Amigas R. e T.: [Gritos ao telemóvel. E eu fiquei surda uns cinco minutinhos.]

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Benedita



No nosso peito bate para sempre mais um coração.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Minha rica caminha!

Trinta e três longos anos foi o que tempo que demorei a perceber que não tenho mau feitio. Lamento desiludir-vos, mas temos andado completamente equivocados no que a esse particular diz respeito. Acontece apenas ficar rabuja quando durmo pouco ou mal. A cabeça não funciona. O corpo não responde. A irritação começa a aflorar. Não é bonito de se ver, eu sei!

Quando era adolescente acontecia ficar a ler ou a ver TV até de madrugada. Fazia directas e ficava na mesma. Para o meu cérebro era como se nada fosse: tudo parecia funcionar sem grandes problemas. Menos o mau génio com que acordava e que, não raras vezes, se agudizava pelo dia afora. [A E. que o diga, pobrezinha.] Com o passar dos anos, sobretudo com a prática mais frequente de exercício físico, comecei a notar que quanto melhor dormia com mais energia acordava e, consequentemente, mais bem disposta também. O exercício físico funciona como causa e consequência. Cansada durmo melhor e, por conseguinte, acordo com mais energia para fazer mais coisas, incluindo massacrar o corpinho.

Pessoas: andamos a sobrevalorizar o sexo e a comida. Sim, sim, um bom regabofe conjugal faz com que se libertem aquelas tretas todas hormonais, deixa-nos nas nuvens, sendo que ainda trata a pele, dizem. A comidinha pode servir de conforto e conheço muito boa gente (incluindo eu) que com fome fica intratável. Mas não há nada que se compare a uma noite de sono bem dormida, à disposição de conquistar o mundo com que se acorda, à energia renovada logo pela fresca. É se a isso podermos juntar um acordar tranquilo, sem correrias, com tempo para saborear o novo dia, tanto melhor. Tenho em casa o melhor exemplo disso. Conta as horas que dorme e nada lhe dá mais prazer do que saber que pode estar muito tempo na cama. Madruga. Faz tudo com tempo, sem pressas. Sempre a assobiar pela casa. Tem uma energia insuportável e não pára quieto. O meu pai adora dormir e não é à toa que tem aquele ar bem conservado e é um "bicho-carpinteiro", sempre a bulir. A mim falta-me a parte da disciplina, o dormir aquele número de horas indispensável à boa disposição. Mas começo a ter mais rotinas e com tempo chego lá. Já tenho menos nódoas negras de andar à paulada nos móveis completamente esgazeada com sono logo de manhã, e quando durmo bem  acordo bem disposta e cheia de energia, pronta para atacar o dia logo cedo. Estou numa relação amorosa com a minha cama e completamente apaixonada pelos meus tampões, sem os quais já não imagino a minha vida!




quinta-feira, 29 de outubro de 2015

"morreu-Me"

Caem as primeiras chuvas e a terra, sequiosa, absorve ávida as gotas gordas. O dia amanhece a fumegar: vapores que sobem do chão e que lembram paragens tropicais. É a vida que se renova, o solo em breve atapetado de verde. Cheira a terra molhada e isso sempre me acalma a neura da manhã inteira desperdiçada a tratar das papeladas no Banco. Estou perdida nesta imagem quando Ele se senta ao meu lado na paragem do autocarro. "Doem-me as pernas." Levanto os olhos do chão para o ver e respondo que é bom sinal, é porque ainda as vai usando e há tanta gente que mal se mexe." Atira-me com um: "olhe que também sempre me saiu uma amiga da onça." Pede desculpa pela familiaridade mas já que estamos de conversa... "Morreu-me a minha querida esposa, a minha maior riqueza." Fiquei parada no "morreu-Me", que assim conjugado aumenta logo o amor e amplifica a perda. "Gostava tanto de ir ter com ela!", diz-me, prolongando as palavras, como se fizesse um pedido. "Carrego este castigo, sabe?" "As pernas?", pergunto, e logo me arrependo porque soa a trocista. "Não menina. O arrependimento de ter prolongado a agonia dela. Nove anos a gemer de dores, sem falar. O maldito Alzheimer! Que justiça há neste mundo quando uma médica me diz que não é bruxa para adivinhar o que lhe doía? Claro que todo o esqueleto lhe devia doer, coitadinha. E ela sem poder explicar." Noto-lhe os olhos a humedecerem-se. "Em pleno século XX não serem capazes de mitigar estas dores. Não há direito! E eu devia ter acabado com aquilo. Vou tratar do testamento vital - já ouviu falar disso, a menina? - para quando chegar a minha vez. Não quero que me prolonguem a vida de maneira nenhuma artificial." Não sei que dizer. Balbucio um "entendo" que não quer dizer coisa nenhuma a não ser que o estou a ouvir. Que sei eu desse desvelo contínuo, dessa impotência de nada poder fazer? Por fim, rompo o silêncio a atrevo-me a sugerir que se agarre à vida pelos que gostam dele: tem os filhos e os netos. "Todos com a vida feita. E eu com este peso que carrego." Suspira: "A minha querida esposa!" Cheira-me a velho. Não a velho de idade, mas à vida gasta. Aos fiapos da vida que lhe restam e que resistem à dor e à perda. Toco-lhe na mão e digo-lhe que ainda tem com certeza muito para viver e que me parece muito bem e cheio de saúde. Chega o autocarro. Faço um gesto a indicar que passe primeiro do que eu. "Oh, eu não vou de autocarro. Parei só para descansar das pernas e para falar um bocadinho consigo. Obrigada menina. Deus lhe dê saúde, menina. E estime-a." Sento-me à janela e vejo-o seguir pela rua, devagar. A arrastar as pernas que lhe doem, carregando nos ombros vergados o peso das saudades da mulher. O sol abriu entretanto e o céu é de um azul primaveril. O ciclo continua: é a vida que se renova. Sorrio, presa à enormidade daquele "-Me", que assim pronunciado disse o que ele deixou por dizer sobre esse Amor que lhe era e continua a ser tudo. Afinal não é isso que nos agarra à vida?

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

#vouserumavelhagaiteira

Se há dois anos atrás me dissessem que um dia iria acordar de manhã cedo ou acabar o dia bem tarde para fazer exercício haveria de me rir a bandeiras despregadas. Se nessa mesma altura me houvessem dito que um dia haveria de chegar a casa, desejosa de cozinhar coisinhas boas de que gosto, nem me daria ao trabalho de responder a tamanho disparate. Mas a vida e o mundo dão muitas voltas. E, como todas as paixões que nos apanham desprevenidas, que chegam quando menos esperamos, esta acabou por se instalar de mansinho e por se tornar numa forma de vida.
Andar de bicicleta levou-me a sítios onde provavelmente não teria ido de outra forma. Andar de bicicleta trouxe-me pessoas que provavelmente não teria conhecido noutros contextos. Andar de bicicleta mudou a minha forma de estar na vida. Trouxe-me a paciência necessária porque percebo que os resultados (por mínimos que sejam demoram a chegar). Trouxe-me um entendimento de mim que não tinha antes: a vontade de ir, fazer, arriscar. Trouxe-me contenção: nas palavras, nos actos, no deitar da toalha ao chão.
Não pedalo tanto quanto deveria. Não pedalo tanto quanto gostaria. Ainda estou a trabalhar a faceta psicológica que sustenta - mais do que a física! - qualquer coisa que façamos. E é também aí que me tenho deparado com as maiores dificuldades e com progressos muito menos palpáveis. Demoramos a conseguir mudar hábitos que fomos acumulando ao longo da vida, como tralhas que nos pesam. Estou a batalhar contra a vontade de parar quando me canso ou quando as coisas correm menos bem. E consigo fazer a cada dia mais um bocadinho. Cada km a mais é mais uma pequena vitória. Demora!, mas chego lá. Um dia chego lá. Que mais não seja porque me comprometi com o E. a acompanhá-lo num aventura e agora que remédio tenho senão ir. Não prometo acabar. Mas tentarei.

Queixam-se os que me rodeiam que de aficionada passei a viciada. Não! Nem pouco mais ou menos. A mania de querer contagiar os outros é tão somente a vontade de repartir as alegrias que nos chegam com alguma coisa de que gostamos tanto e nos faz tão bem. 

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

O meu Principezinho é Ela, que me cativou para sempre!

Nascemos com duas dezenas de meses de diferença. Separam-nos muitos mais anos do que os que o calendário marca. Eu já nasci velha. Sossegada e com ar sério. Ela há-de ser uma eterna criança. A pular pela casa e a fazer travessuras. A pele atesta-o. Eu sem nenhuma cicatriz, ela com várias marcas de tombos e do mau resultado das tropelias. Partilhamos, entre tantas outras marcas genéticas, aquele tracinho por baixo do nariz que herdámos do pai. Apesar dos olhos castanhos de uma e dos verdes de outra, apesar de uma ser loira e a outra morena, não são raras as pessoas que nos acham parecidas. Finge que a irrita que digam isso. Quando nos dão conta das semelhanças atira sempre com aquele ar pespineto que lhe conhecemos desde que se tem por gente: «Pois sim. Mas eu sou mais bonita!» E é. E mais fashion. E mais mignon, à boa maneira franciú. Como o era a Avó, com quem um dia se vai certamente parecer ainda mais. Para além do físico, dela ficou-lhe também a genica, o carácter buliçoso, o gosto pelo doméstico, a mansidão do trato. Não sei a que lado da família foi buscar o espírito alegre e inquieto. Mas sei que é o que mais a caracteriza. Entre as mais gratas recordações que levarei comigo pela vida contam-se os ataques de riso descontrolado de quando éramos miúdas e tolas. E aquela sensação incrível de que ela enche não só uma sala - à boa maneira das divas de Hollywood - mas uma casa inteira com a sua presença. É um je ne sais quoi que dispõe bem, que alegra e diverte. Serão as vozes em falsete com que teima em responder. Serão as piadas sem graça absolutamente alguma e de que sempre nos rimos que nem parvos que insiste em repetir. Serão as constantes tropelias com que constantemente nos arrelia. Não o saberia dizer. Sei que nos enche a alma e que basta para sermos felizes.

A mana é os Natais da nossa infância. O rebuliço pela casa, a cherviscar todas as divisões até dar com as prendas dias antes da Consoada. A mana é os sorrisos dos meus pais a cada chegada dela, com aquela aura de alegria imensa, que deixa rasto e que fica até muito depois de ela partir. A mana é a alegria juvenil e os risos cristalinos de quem está de bem consigo, de quem agarra a rédea da vida a mãos ambas, de quem ama e se sabe amada. A mana é as nossas lágrimas e o coração escavacado pela morte da Avó. A mana é a vida que se renova, agora a crescer dentro dela. 

Hoje a mana faz anos. Fez-me há tempos o reparo de que escrevo sobre tudo e sobre todos e que nunca ela me mereceu umas linhas. E hoje, por ser um dia especial, que ela tanto aprecia, logo hoje, dou por mim como aqueloutra personagem do Eça, a espremer as ideias até à exaustão e a conseguir apenas umas gotinhas diminutas, que de pouco me valem para lhe fazer o merecido elogio. Não é por nada ter para dizer. É precisamente por tanto haver para dizer sobre quem nos é tudo que é tão difícil deixar escrito quem é ela. Este é, portanto, um post em construção, uma página em aberto, a que hei-de voltar, quando (como amiúde me acontece) der por mim a sorrir sozinha, no meio da rua, ao recordar um qualquer dichote dela ou um episódio caricato. E então, num dia em que as palavras se sobreponham menos aos sentimentos, em que ajudem a decalcá-los em vez disso para este "papel químico", hei-de cá voltar para deixar escrito como deve ser que a minha pessoa preferida sempre foi e sempre há-de ser a minha irmã.


quarta-feira, 6 de maio de 2015

The Mett (medo) Ball 2015

 A Rihanna ficou amorosa assim disfarçada de Sharpei. E o jeitão que esta mantinha felpuda dá nas noites frescas?

As manas Olsen desde que viram a Nicole Kidman embalsamada não sossegaram enquanto não fizeram uma versão delas em cera!

Olha, filha, compreendo-te melhor do que pensas que a mim também já me sucedeu os fechos darem de si e ter de andar com as braçadeiras coladas ao corpo para o corpete se segurar.

Depois da Pequena Sereia e do Nemo chega a nova masquote marinha: esta moçoila vestida de raia!


Querendo, Katezinha, sei de um fisioterapeuta munta bom que te trata desse problema de coluna em três tempos. Até estalas!


sexta-feira, 24 de abril de 2015

Vi eu com estes dois olhinhos! #15

Almocinho num restaurante já de si manhoso. E é claro que eu tinha de escolher a mesa colada à janela. Grandes vistas, hein?
 
 
 
 

sexta-feira, 27 de março de 2015

Ao L., à F e à B. que já por cá andam a espalhar magia.

Deve ter havido um apagão do qual não me apercebi. Só assim se explica que o meu círculo de amigos tenha, assim como quem não quer a coisa, dado em desovar todo ao mesmo tempo. Como por magia as minhas amizades desataram a multiplicar-se e já vamos em três nascidos e outros tantos a caminho. Nem tudo está perdido: sempre me têm a mim para lhes valer.
 
A época iniciou-se com o L. O L. quase fez o seu lindo paizinho estoirar de alegria ainda nem era gente. Deu-me a boa nova da sua concepção de peito inchado e sorriso rasgado. Olvidou-se o desgraçado de me anunciar a triunfal chegada do petiz, lapso prontamente desculpado pelas artimanhas do embevecimento de que se deixou tomar. O L. é um puto com sorte. Ainda não tem descernimento para o saber, mas um dia há-de dar-se conta de que o pai que lhe saiu em sorte é um miúdo ímpar, lindo por fora e por dentro, habilidoso, desenrascado, companheiro e, sobretudo, sonhador. Benza-o Deus e a essa capacidade de continuar a acreditar sempre. E não preciso de estar com eles a tempo inteiro para testemunhar o quão desembaraçado é com a criança. Sei o desempoeirado que é na arte de tratar do rebento. Conheço-lhe esse talento de outras épocas.
 
Depois chegou a F. A sua querida mãezinha, que conheço desde os tempos em que ainda fazia o Quebra Costas sem ofegar, achou por bem largar a novidade como quem pergunta o preço do tremoço. Na Feira do Livro, ali à beira da roulotte das farturas, toma lá disto: Estou grávida! E eu, que lhe "ligo tanto como aquele que ali vai a fugir", fiada de que era brincadeira, mais não disse do que pois 'tá, bem. E não é que estava mesmo? Maneiras que não tive mais remédio se não acostumar-me à ideia de impedir que a criança viesse a ter uma miserável existência. Ainda só era um pontinho minúsculo e já o pai tratava de lhe arruinar o futuro. Resolvi a coisa com ameaças várias e lá chegámos a acordo quanto ao nome da petiza. Depois foi só deixar passar o tempo, ir falando com ela todos os dias para se habituar à ideia de que a vida cá fora nem é má, que a titi M. cá estaria para tratar de tudo. A S. lá desovou como manda a lei e, vergonha das vergonhas: eu que não falhei um único dia enquanto a garota estava no invólucro depois de nascida ainda não lhe dei o prazer de a embalar nos meus bracinhos. Mas sei que está bem entregue. O paizinho se o deixassem não a deslargava. E a mãezinha, mau grado andar desgraçada de cansaço, faz-se toda ela uma fera ofendida se uma pessoa deixa passar em brancas nuvens qualquer pitada de informação sobre a criatura. Feta, vieste ao mundo no seio de uma família espetacular. Do lado da tia, pelo menos!
 
A B., que não pode ver nada a ninguém que também quer logo igual, prega-me com esta bela novidade de me deixar a cara à banda ainda o tempo ia quente e tínhamos meses e meses de gestação pela frente. Em vão supliquei por fotografias que me fossem dando conta do processo. Era o mandavas! A poucos dias da coisa se dar lá se dignou a excelsa mãe da B. a mandar umas pelingrafias que me atualizassem. Há coisas que nunca mudam! Apressadinha - não está posta de parte a ideia de sabotagem por parte da mãe, desejosa de voltar às lides laborais - viu a luz do dia antes do que era suposto, porque quem sai aos seus... A B. anda num sufoco porque vai-se a ver os bebés são pequeninos e frágeis e não dão sossego. Esta em particular, que tem bem a quem sair, já se impôs: come e dorme quando lhe apetece. A B. tem por mãe o ser mais racional do Universo, uma miúda inteligente e despachada, que sabe ao que vai e por onde ir. Não tem como não dar certo!

É estranho ver a malta com quem andámos na má vida, com quem partilhámos tantos dias bons e tantas gargalhadas, a quem ouvimos as mágoas, que nos ajudaram a enfrentar medos, que são uma parte de nós, assim multiplicada em mini pessoinhas, acabadas de chegar a este mundo. É estranho e uma felicidade imensa poder partilhar essa alegria de se tornarem Pais e Mães. Fantásticos. Que o são! Primeiro é avassaladora a ideia de que nada será igual. Depois é arrebatador ver a vida continuar em pequenos prolongamentos das pessoas que tanto amamos.

Sol.

Não sei se chegou com a idade. Não sei se com alguma necessidade fisiológica que desconheço. Não sei se é apenas reflexo do que me vai por dentro. O sol, o céu limpo fazem-me cada vez mais falta. Amanhecer com um dia claro aumenta-me em 300% a energia e a vontade de viver. Paradoxalmente, continuo a preferir fazer uma data de coisas à noite, no sossego da escuridão, quando o mundo parece um bocadinho mais em stand by e está tudo em paz. Mas, sim, gosto cada vez mais de dias soalheiros e do bem que me fazem à alma.

quinta-feira, 19 de março de 2015

"Só pra dizer que te amo, nem sempre encontro a melhor forma"

Quem me conhece sabe que eu sou um bicho do mato em se tratando de afectos. Sou assim a descair para o curta e grossa. De uma maneira geral e com os meus em particular não ando cá com meias medidas: tomo conta deles à minha maneira, mas sempre dentro das minhas regras e com as barreiras muito bem definidas.
A P. costuma dizer que eu negligencio os meus pais. E tem toda a razão. Sou do piorio. Esqueço-me de ligar, não mando mensagens, só os informo das maleitas clínicas já elas estão curadas e por aí afora. A minha mãe discorda da P. Não acha que eu seja negligente. Acha que sou mesmo é uma mal-educadona. E sou. Infelizmente. E não creio que vá a tempo de me emendar.
Os meus pais são os meus pais. Nao são os meus melhores amigos. Nem sequer são os meus maiores confidentes. Dos meus pais espero umas lambadas valentes se algum dia falhar a sério. Da mesma forma que quando precisei de colo e alento, já mulher feita, ele lá estava. Ponto final. Parágrafo. Tal como eu não ligo sempre mas quando é preciso sou eu a resolver. Somos uma máquina bem oleada no essencial. No resto deixo os meus pais serem pais dos meus amigos todos de quem eles tanto gostam.
 
Obviamente o meu pai - nem que fosse apenas por ser o Meu - é o melhor pai do mundo. Quando penso nisso foco-me sobretudo em duas coisas: a liberdade que sempre me deu para eu fazer da vida o que quisesse e como sempre se esforçou tremendamente para que nada nos faltasse.

[Breve interrupção na escrita para ler mensagem da mãe que estranha que eu ainda não tenha ligado ao pai. Adiantas de bem! Ligo quando a mim me apetecer!]

Ensinou-me a andar de bicicleta. E a conduzir um carro quando era uma caganita de gente com onze anos. E mais tarde o tractor. Não me lembro nunca de me ter vestido ou penteado. Consta que tinha de me dar comida porque era uma esgoealda que chorava entre o ir e vir da colherada da mãe. Ainda hoje fica possesso quando se lembra que era ele quem acordava de noite para ver se estávamos bem mas que sempre que era preciso alguma coisa chamávamos pela mãe. Grande palerma! Nós a poupá-lo e ele ainda é mal agradecido! É a primeira pessoa a gozar com o tamanho das minhas orelhas e diz coisas horríveis sobre elas parecerem umas folhas de couve de tão grandes que são. Obrigava-me a ouvir a Renascença e a TSF a caminho da escola. E às vezes a Bola Branca antes de ir dormir. Por causa dele e por me ter posto a assistir a tudo quanto era futebolada sei o nome de mais jogadores da bola dos anos oitenta e noventa do que seria expectável. E de pilotos de Fórmula 1. E de Moto GP. Para não dizer que aprendi a jogar matraquilhos e até torneios organizámos com os amigos nos domingos à tarde. Sumariamente: não poderia ter feito mais pela minha educação do que fez. Deu cabo de mim, foi o que foi! Ou pensáveis que eu saía às pedras da calçada?
 
Quando penso nele com carinho - agora a sério! - penso em segurança e num afecto maior que tudo. Quando era pequena e espetava farpas nos dedos só deixava que fosse ele a tirá-las. Ainda hoje penso nele quando me espicaço toda no meio do monte. Só ele é que me podia pôr os brincos porque as outras pessoas magoavam-me. Quando penso nele penso em segurança porque sei que ele faria qualquer coisa para me ver feliz. Como sempre tem feito! Se ele não é o melhor Pai do mundo certamente não é por desmérito dele. Eu é que lhe dificulto imenso a tarefa.

segunda-feira, 16 de março de 2015

O efeito legging!

Tenho para mim que Deus é um pândego como já não se fazem. Aborrecido da vida, alapado numa nuvem fofinha, cansado do tédio da existência infinita, lembrou-se um dia de inventar essa maravilha da alta-costura que é a legging. E a coisa corria bem. Enquanto foram apenas as esquálidas bailarinas a ter a feliz ideia de as usar a coisa corria bem. Vai daí o povoléu pôs o olho na dita pecinha. Tomou-lhe a textura. Operaram-se milagres na mente das criaturas: confortável mais confortável não há. Num piscar de olhos toca de produzir a legging em quantidade industrial. Dá-se o caso do material ter propriedades que lhe permitem expandir-se. O caos generalizou-se. A noção e o bom senso, como bem sabemos, não é para todos. Quando demos por ela a moda estava instalada e desde o S ao XXXLLL é vê-las passear o nalguedo e as celulitames por aí fora, todas airosas, de coxas bamboleantes. Não é bonito senhoras, ide por mim: não é bonito!

Mas Deus é um moço que se enfastia amiúde. Nova ideia genial. O unhame de meio metro. Agora o que está a dar é usar aquelas coisas a que insistem em chamar unhas mas que a mim me parecem umas garras afiadas. Em tamanho normal ainda se suporta, mas tenho visto com cada despautério! A mascote do Benfica tem-nas mais aparadas do que algumas criaturas. Em todo o caso reconheço ali alguma utilidade: serve de arma de defesa pessoal. Não tem como falhar se a ideia fora vazar uma vista a alguém.
Para o ramalhete estar completo faltava poder eternizar estas belas invenções. Nem bem o tinha pensado e já a selfie estava criada. Esta grandiosa invenção, segundo consta pelas notícias que li, deve ter sido patrocinada pelo Quitoso. O contacto entre as frondosas cabeleiras mais não tem feito do que propagar a bicharada. Ora, Deus como se sabe tinha de dar alguma utilidade aos chineses. São mais que as mães e todos bem idiotas. O que não faltam é ideias e invenções para aquelas bandas. Não tardou veio a moda dos pauzinhos para facilitar os auto-retratos (isto sou eu a inventar terminologias a ver se pega!). Again: é tudo muito lindo e tal e coisa mas com moderação, meninos, com moderação. Andar a fotografar-se com pauzinhos e coisas dá assim um ar… tolo. Só. As fotos continuam a não valer um chavelho mas pronto, temos um pauzinho. A juntar à unhaca afiada já vão em duas as armas do nosso arsenal. Há exércitos menos bem equipados!
Acto contínuo, ainda não recuperada dos poros e das tezes mal cuidadas de alguns espécimes, zás, sou confrontada com a variante da selfie que me obriga a levar com uma enchente de comida. Na maioria dos dias nem preciso de tomar o pequeno-almoço. Vejo as fotos e já fico saciada. Ou enjoada, dependendo da qualidade das mesmas. Por cada pessoinha que tem em si uma Felipa Vacondeus encontramos dez outras que nem um ovo sabem estrelar mas acham por bem dar-se a ares de Adrià (que para quem não sabe é um génio dos tachos). Pior, não só não sabem cozinhar como não têm noção disso. E para piorar o que já de si é mau: são detentores de um sentido de estética a roçar o nulo. Não raras vezes sou confrontada com a terrível provação de ter de suportar a fotografia péssima da mistela indescritível em loiças inqualificáveis sob panos horrendos. Tudo isto, estando a autora a usar uma legging!!
E podia continuar por aqui fora. Não estais livre de que o faça em oportunidade futura. Há tanto Big Brother à espera de ser analisado, tanto jogo do Sporting para discutir ao pormenor, tanto casamento do Pinto da Costa para dissecar. Basicamente, minha gente, a mensagem a reter é a da Sónia: “Tudo é para todos mas nem todos são para tudo.” Que é como quem diz: não é por existir e ser moda que eu tenho de usar ou fazer. Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe. Juizinho nessas cabeças e mais contenção na asneira, fazendo favor. Não há dinheiro para lencinhos e toca de fungar ao meu lado no autocarro e de limpar a narigueta à manga, mas temos sempre troquinhos para comprar mais um pingarelho eletrónico. E respectivo pauzinho! O que é de mais também cansa. A princípio a gente ri, mas chega uma fase em que o mau gosto enfastia. [E contra mim falo que gosto de meias de fantasia.]

sexta-feira, 6 de março de 2015

"Quem te ama não te agride!"

Hei-de ter, certamente, bem perto de mim e ignoro-o talvez quem, portas adentro, sofra calado/a a ignomínia de ver a sua dignidade e segurança posta em causa pela pessoa que mais o/a devia amar. Não sei do que falo. Lá por casa o único exemplo que me foi dado ver que se assemelhe a violência doméstica foram/são as valentes bordoadas com a colher de pau que o papai apanhou/a nas manetes sempre que teima em cherviscar os tachos, enervando mamãe até à quinta casa. Somos todos palermas e destemperados pelo que em calhando soltamos umas bujardas valentes que deixam feridos para trás. Mas nada que se assemelhe a violência doméstica. Não sei, pois, do que falo. Oiço contar. Revoltam-se-me as entranhas. Mas não o compreendo como se entendem as coisas que se viveram. Não estou nem perto de imaginar. O mais parecido que tenho dessa experiência hão-de ser os relatos do meu pai, que me disse um dia: "Nunca toquei num fio de cabelo teu ou da mana, porque eu já levei porrada por mim e por vós." Sei, por me ter contado, como ele e os irmãos viviam com medo do seu pai, das sovas descabidas e desproporcionais que levaram, das fúrias destemperadas de um pai de tantos filhos a braços com uma vida difícil. Não sei o que é ter esse medo. Nem quero nunca vir a saber. Espero ter sempre a força e descernimento necessários para me defender de pessoas que sob a capa do Amor mais não fazem do que roubar-nos o que temos de melhor: nós e a nossa essência. Mas eu sou adulta e confio que saberei abrigar-me dessas desventuras acaso venham a suceder. E as crianças? Quem defende as crianças das pessoas que supostamente deveriam cuidar delas? Para mim essa é, de longe, a mais grave das violências domésticas. A que mais me entristece e preocupa. E que a mais vítimas silenciosas tem, certamente.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Como, logo existo.

Virou moda, é quase um vírus, fotografar tudo quanto é comida. Em calhando fotografai mais bebida. Se calhais de vos hidratar melhor pode dar-se o caso dos resultados serem um nadinha mais proveitosos. Para além de eliminar toxinas. Tomara eu que a cura para esta virose maldita que invadiu tudo quanto é rede social fossem umas simples litradas de água da boa!

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Vi eu com estes dois olhinhos! #14


* Um grande bem-haja à R. que foi temerosa o suficiente para, a apenas um par de metros, sacar do tlm, eternizando este já de si inolvidável modelito.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Água quente com gotas de limão!

Parece complicado mas não é. Na verdade é até bem simples. Podes até pensar que sim mas de nada adianta começar o ano com um sumo detox. Não há nenhuma mistela verde ou de qualquer cor que seja que te purgue de ti mesma e do que te tolhe. Podes ter formulado mentalmente desejos e objectivos. Podes ter acordado cheia de vontade de colocar tudo em prática já hoje. Sabemos bem que lá para Março já as resoluções têm mofo e nunca chegaram a sair do lóbulo ou hemisfério ou lá como se chama esta zona da cabecinha que se põe a magicar planos estupendos. 
Parece complicado mas não é. Na verdade é até bem simples. Tomaste algumas decisões erradas. Pagaste caro essas ousadias. Desfizeste-te em mais lágrimas e sentiste mais dor e revolta do que imaginavas conseguir suportar. Deste por ti a sentir-te amparada e levada ao colo pelos teus. Aprendeste a confiar.

Não é nenhum bicho de sete-cabeças. É bem simples até. Chama-se foco. Chama-se vontade. Não interessa se o que queres é ser feliz. Ou correr a meia-maratona. Ou fazer uma travessia. Ou ler mais. Ou ser mais tolerante e paciente. Ou levar-te a sério. Ou ter um rabo zero por cento gordura. Ou ganhar mais dinheiro. Ou encontrar o amor da tua vida. [risque-se de acta esta última porque é aleatória e não depende só de nós]. Ou mudar de cidade. Ou conseguir emprego. Ou aprender a cozinhar. Ou viajar mais. Ou ser melhor filha. Ou ser melhor pessoa. Ou tentar escrever mais e melhor. Ou o diabo a quatro. Qualquer que seja a tua resolução ou desejo não adianta pensar apenas nisso. Não te mexas tu e não faças pela vidinha que logo vês onde vais parar! 
Parece complicado mas não é. Na verdade é até bem simples. Podes até pensar que sim, mas começar o dia com água quente e gotas de limão só por si não é de grande proveito. Rodeia-te dos teus, dos que amas e fá-los felizes. Treina mais e melhor. Volta a treinar e a treinar, não inventes desculpas, supera-te. Em vez de brincares com o comando continua o jogo de ir passando os livros que já leste para a prateleira de baixo com uma boa média, como costumavas fazer [és tão feliz a ler]. Respira fundo antes de falares e sê ponderada. Ri-te mais de ti mesma e dos teus erros. Mexe-te mais. Poupa mais (ganhar mais dinheiro não estou a ver como). Se tiveres de mudar, de armas e bagagens, lembra-te que já o fizeste antes e foste capaz. Se ficares sem emprego pensamos nisso na altura. Começa por tentar esperar que a massa coza mesmo e logo passas à fase dos souffles (ou não). Poupa mais. Sê mais presente, mais atenta, mais solícita. Escreve mais. Lê mais que logo escreves melhor. 

A verdade é que o mundo vai puxar-te o tapete debaixo dos pés muitas vezes. A verdade é que as pessoas adoecem, morrem, partem, deixam-nos. A verdade é que o essencial permanece, as emoções são um combustível poderoso e o Amor move mesmo montanhas. Tal como a Fé. Em ti. No que trazes dentro de ti. Ainda te falta aprender tanto, ir a tantos sítios. Ainda há tanto sobre ti que ignoras. Quase aposto que este ano vais chorar e ter medo e ser triste. Mas não preciso de te relembrar que já reaprendeste a ser feliz, a estar em paz, a relativizar e a superar quer o medo quer as frustrações. Às vezes vais querer cruzar os braços, dormir até mais tarde, hibernar da vida e de todos. Palerma! Esse será, como bem sabes, um dia perdido. E todos contam. Não são só aqueles em que conseguiste. Portanto não somes dias de lixo aos outros de trabalho árduo nesta coisa do viver. Foca-te. E lembra-te: mereces ser feliz. Mas só tu podes fazer-te feliz antes de outros terem o condão de o fazer. Parece complicado mas é bem simples: Começa já hoje. Agora!