quarta-feira, 15 de maio de 2013

Às vezes desistimos porque já demos tudo o que tínhamos para dar. E isso não faz de nós perdedores!

Eu já fiz uma maratona de bike. Na verdade era suposto ser uma meia-maratona, mas dada a distância percorrida em alguns eventos seria considerada uma inteira e não a meia. A bicicleta fora "roubada" ao primo (P., grande beijinho meu bem) e por isso era duas ou três vezes maior do que o tamanho adequado para mim. Treinos apenas um, de véspera, com o primo. Técnica zero. Um furo. Hidratação incorrecta. Acabei em fanicos, mas acabei. Se dissesse que não pensei em desistir estaria a mentir. A ideia de descer e pedir boleia à organização cruzou-me a mente quando, depois de percorrer a distância estipulada, me apercebi que ainda me faltavam mais uma dezena e uns poucos km, por lapso da organização. E só não o fiz porque acho que no fundo me diverti muito mais do que sofri. Apesar dos últimos km terem sido penosos, a mania de refilar contra tudo e todos que me é tão característica foi catártica e o tempo em que pedalei sozinha (S. eu sei que te abandonei - shame on me! - com uma corrente saltitona mas se tivesse parado não teria conseguido continuar) aproveitei-o para pensar. A verdade é que, contra as minhas próprias expectativas, acabei por cruzar a meta... ainda viva. Nesse dia senti a satisfação de ter chegado ao fim, de ter cumprido aquilo a que me propusera, de ter dado o meu melhor, por mais fraquinho que fosse.

Um dia, numa das minhas voltinhas solitárias dei de caras com um canídeo de dentuça aguçada. Ora, se há coisa que a mim me tira do sério é os donos da animalária saberem o que têm em casa e mesmo assim deixarem os cães à solta na rua. Aquele em concreto já tentara em outras ocasiões fazer o gosto ao dente nas minhas canelas. Prevenida, abrandei, desci e, quando vi ao longe o jipe de um amigo aproximar-se desisti de voltar para trás porque o poderia usar como escudo e passar a salvo da fera. Claro está que fui achincalhada até-mais-não por ter tido medo de um cão que não pesa mais de 5kg e mede meio palmo. A resposta óbvia que tive para os queridos amigos da piada fácil foi a única que continua a fazer sentido para mim: coragem não é só avançar destemidamente. Às vezes é preciso reconhecer quando tirar as tropas de campo e recuar estrategicamente para depois podermos prosseguir em combate. Coragem sem inteligência vale de pouco.

Não sou nada fundamentalista nisso de defender que "Desistir nunca!" e de ir ao limites das coisas. Para mim, tão ou mais importante do que o esforço e a tenacidade é o bom senso de saber quando já demos tudo de nós e reconhecer que atingimos os nossos limites. Quer seja numa maratona quer seja numa relação, de que importa chegar vivo ao fim se pelo caminho fomos perdendo o gosto por aquilo que estávamos a fazer e algumas partes de nós estão tão dormentes que mais parecem mortas? Persistir quando não nos restam forças nem motivação pode resultar em lesões sérias e toda a gente sabe que o coração é matéria frágil.

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