Muito depois de saíres de casa o teu cheiro ainda pairava no ar. Às vezes imobilizava-me à entrada de uma divisão porque sentia no ar a tua impossível presença ali. Aliás, tu ainda estavas ali, nas tuas coisas deixadas ao acaso, nos teus gestos que a minha memória teimava em evocar, no eco inexistente da tua voz que por vezes julgava ouvir. Longe de me atormentar, a tua presença amenizava as saudades de não te poder ver. Há mais pessoas a usar o teu perfume, a vestir roupas como as tuas, a comer nos mesmos sítios que nós, a ouvir as mesas músicas e a ler os mesmos livros, mas ninguém diz o meu nome como tu o fazias. Contudo, como li recentemente algures, as saudades são preciosas de mais para as desperdiçar em memórias. Fomos felizes enquanto nos foi dado viver no mesmo tempo e no mesmo espaço, e isso é tudo o que importa.