segunda-feira, 24 de junho de 2013

Não é karma. Não é destino. Sou eu e pronto.

Se não me desgrenhei nem desatei a chorar este fim-de-semana perante a tamanha desgraça fashionista que me sucedeu, asseguro-vos desde já que será tarde que o farei e apenas por motivos de força maior. Mas mesmo assim maior de mais grande, mesmo.
Sábado foi dia de casamento de amigos. Sexta à noite - que eu é tudo assim às pressas e em cima da hora - a experimentar a saia que iria usar, dou-me conta que a desgraçada teima em encravar ali por altura das ancas. Ora, eu lambazona confessa, tive até o cuidado de me portar bem à mesa nas semanas prévias e, verdade seja dita, não estou com umas trancas a la Jennifer ou a la Beyoncé que justificassem tamanho desfasamento nas medidas! Vai de telefonar para a modista para ver o que se pode fazer já que a culpa foi dela por ter cosido o forro à medida do elástico. Pode parecer despiciendo mas este pormenor faz toda a diferença: o elástico estica, o cetim nem por isso. Nos entretantos, já dez marmanjões me aguardam na sede da Junta, esperando o início da Assembleia, enquanto eu, stressada, ando a conduzir que nem uma maluca de um lado para o outro. Três horas depois, muita ida e muita volta, eis que a saia me assenta que nem uma luva. Forro devidamente arranjado, problema resolvido.
Tarde seguinte. Vestir o top revela-se uma autêntica recriação do "E tudo o vento levou", quando a Nanny tenta ataviar a Scarlett com um corpete minúsculo para a desgraçada ficar com uma cinturinha de vespa... anoréctica e subnutrida! O verniz das unhas da S. num fanico de tanto puxar o fecho, a R. a bufar de tanto repuxar o tecido, eu à beira do desmaio com falta de ar e a desconfiar de uma costela anormalmente saliente. Mais puxão menos puxão, a coisa deu-se. Aliás, o que deu foi mesmo o filho de uma grandessíssima meretriz do fecho que, ao primeiro desvio da postura parece-que-comi-um-garfo-e-estou-mais-direita-do-que-um-poste, encomendou a sua alma ao criador. Ainda nem sequer tínhamos entrado na Igreja! A custo repetiu-se a operação de encarceramento e, tentanto mexer apenas a cabeça, lá segui - sabe Deus como! - até ao altar para fazer uma leitura. Nas "bancadas", atentas ao meu respirar compassado, a S. e a R., perdidas de riso a imaginar que era uma questão de tempo até alguma coisa sair dali disparada. Lá se aguentou e ainda não foi desta que o padre se deslumbrou com umas "margaridas" dignas desse nome. Mas como estava destinado a não correr bem e não, pimbas, o fecho fanicou pela terceira vez. Corrida até à loja de chineses mais próxima, écharpe comprada para disfarçar as costas desnudadas, vestido suplente na mala e ala para o copo-de-água. Valem-me nestas alturas de provação as almas caridosas que, muito esporadicamente, me cruzam o caminho e que entre um retoque e outro lá conseguiram solucionar o que parecia irremediável. A gota de água não foi a gamba, nem a postinha de bacalhau, nem a batatinha assada que desgustei durante o jantar. Não foi por ter comido que nem uma perdida que aquele último esticão se deu. Foi um abraço que fez finalmente disparar o fecho de vez. Corrida até ao carro, vestido trocado mesmo ali, à beira da estrada (que bem que isto agora soou), e toca a aproveitar o resto da noite que o baile ainda só agora começou. Ai, espera. Para corolário do disparatado dia, eis que me esqueci de levar sapatos confortáveis. A alternativa? Umas sandálias perdidas na mala do carro que, apesar de serem compensadas e levezinhas, não são nenhumas pantufas. Resultado óbvio: quando finalmente dei com os costados na minha caminha até a ponta das unhas me doiam. Mas tirado isso acho que (me) correu tudo maravilhosamente. Mal posso esperar pelo próximo. Estou tentada a esforçar-me para acrescentar um detalhe tipo gesso ou assim. Cuido que era capaz de compor a toilette...