O meu primo P., uma jóia de miúdo, costuma dizer que em Portugal as pessoas têm medo que se descubra que não fazem nada. Diz ele que se calha de haver uma hora morta no trabalho, em que não acontece nada e resta esperar, é menino para se estrebuchar ao comprido, a lanzar enquanto a acção não recomeça. E sem problemas com o hipotético aparecimento súbito de um chefe. Desde que cumpra quando é chamado a fazer o que lhe compete! De facto, não raras vezes as pessoas têm tendência a mexer aflitivamente em papéis, a revirar a secretária se calha de aparecer alguém de repente. Para dar a ideia de que sim, de que ali se trabalha. Trabalha-se, e muito. Porque as pessoas têm medo que alguém perceba que na verdade não fazem nada. E, nesse caso, descobririam também que elas, as tais pessoas, são dispensáveis e afinal não fazem ali grande falta.
Nas relações passa-se um bocadinho a mesma coisa. Temos medo que a outra pessoa descubra que não fazemos assim tanta falta, que não precisa assim tanto de nós, que a engrenagem afinal continua a mexer mesmo quando nós - que nos julgamos peça essencial - faltamos. A grande questão é: enquanto alguns fingem apenas fazer alguma coisa para ir mantendo a situação, cheios de medo mas esperançosos de nunca virem a ser descobertos, outros há que têm a coragem, a vontade de fazer de facto e não se limitam a fingir. "Dormem na forma" quando assim tem de ser, sem hipocrisias nem fingimentos, mas quando são chamados a fazer o que lhes compete, cumprem!