domingo, 18 de agosto de 2013

Manual de sobrevivência às festas do Agosto na terrinha.

Quais gnus, andorinhas ou avecs, chegado Agosto, inevitavelmente, o grupinho da maltosa ruma à santa terrinha para a desgraça colectiva. Desde as mesas fartas e bem regadas, às solas gastas nos bailaricos, passando pelo internamento colectivo na ala de transplantes hepáticos, as Festas são, todas elas, caso de sério estudo antropológico. Mas como me falte o tempo para tal investigação e dado que o soro no braço não facilita a redacção limito-me a algumas regras básicas para sobreviver a esses dias tenebrosos.
  • Se calhas de ser professora e por acaso as desnudadas dancenetes que se abanicam no palco forem tuas alunas, dado que também elas te viram a ser transportada de carro com os pés fora do vidro visivelmente animada e já sem sede, aplica-se a milenar regra de que "o que acontece in VM stays in VM".
  • Há, invariavelmente, entre o público quem cante efectivamente melhor do que aquela ave rara agarrada ao microgaitas em altos berros. E, na volta, está disposto a desfiar o repertório Tony-Carreiriano à borliú e em versão afinadinha. 
  • A única ocasião em que não pareceremos rebarbadas por pedirmos que a vedeta nos assine o colo ebúrneo (no caso das restantes amigas é bem moreno, que eu sou a única copo-de-leite) ou que faça um filho a uma de nós (com quem por acaso a vedeta até vive) é se essa criatura, imbuída de grande espírito altruísta (também conhecido entre nós por Sagres), achar por bem subir ao palco e deleitar-nos com uma voz de rouxinol. 
  • Se um senhor de idade mas com ar respeitável te perguntar "a menina dança?" por menos que te apeteça, acede ao pedido. E se porventura o tal senhor fizer questão de dançar bem agarradinho enche-te de paciência e pensa que, a avaliar pela idade, há décadas que não deve ter oportunidade de sentir um busto decente que não lhe dê pelo umbigo. 
  • Havendo um cromo que não deslarga e ronda o osso à espera de nos vencer por exaustão só há uma coisa a fazer: dependendo do tamanho do marmanjo ou lhe aviamos uma porrada com a mala ou o liquidamos com um: "filhinho, tu não terias dinheiro que chegue para me pagar e de graça nem o cão trabalha". A cara aparvalhada com que ficam dá um toque final perfeito ao episódio.
  • Há sempre um bêbedo, com borbulhas na cara, menos dez dentes do que as outras pessoas, de pipo saliente, a dançar de modo frenético e que, inevitavelmente, acha que é boa ideia convidar-te para dançar. É atirar-lhe logo com um "Je comprends pas ce que vous me dites, monsieur" ou, em caso de maior impaciência uma versão mais breve: "Antes dá-la aos pássaros, carééédu!"