sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Post carregadinho de statements que têm tudo para gerar polémica e me condenar às caldeiras de Pêro Botelho!

Às vezes gostava de ser uma daquelas pessoas de ideias arreigadas e de ideais ainda mais vincados. Daquelas que apostam tudo no vermelho mesmo que a probabilidade seja sair preto. Das que estão de um dos lados da barricada e não cedem milímetros ao inimigo seja a que preço for. Mas conheço bem os perigos do fundamentalismo. E, por norma, sei que a tolerância mais facilmente se pratica se formos capazes de nos colocar no lugar dos outros. Em várias matérias eu sou das que se senta no muro e desfruta do melhor dos dois espectáculos. É o caso das Touradas. Sentadinha em casa, no remanso do lar, sou dada a apreciar a lide dos forcados. Gosto dos piquenos ali, de peitaça feita, a encarar de frente o bicharoco. Depois, a páginas tantas aquilo enfastia-me porque bem vistas as coisas parece-me que são apenas uns cavaleiros a espicaçar o animal. Mudo de canal e vou à minha vidinha sem sequer me lembrar mais do bicho nem dos homens.

Eu tenho amigos aficcionados, daqueles que vibram, que dominam a terminologia tauromáquica e que consideram a tourada um espectáculo nobre. E também tenho uma irmã e um cunhado que só de se falar nisso mudam de cor, afiam as farpas e dá discussão (saudável) na certa. Convivo bem com pessoas que adoram e com pessoas que detestam. Eu tenho a minha convicção, acato as alheias, vivo com aquela com que me sinto melhor. Não entro sequer em discussões dessa natureza porque não me consigo posicionar nem contra nem a favor.
 
Ontem tive a oportunidade de ir a uma tourada digna desse nome, em espaço próprio, ao vivo e a cores, ainda por cima em lugar VIP. Eu sempre dissera que "a gente não devemos morrer estúpidos" e que gostava de um dia poder experimentar assistir a um espectáculo tauromáquico. E a Maria lá foi ver como a coisa se processa.
À porta do espaço um grupo de manifestantes armaram a chinfrineira típica. No entanto, deixo a nota, ninguém foi achicalhado e foi tudo pacífico. Entretanto hoje li alguns blogs, por curiosidade, e deixai que vos diga que há muito defensor dos animais que fica a dever muito à educação! Uma vez lá dentro percebi um bocadinho melhor aquilo que me tinham dito da "mística". Peço perdão pela fraca comparação mas já estive em alguns santuários, até na Catedral (o meu pai fez questão!) e o que senti ali foi um bocadinho o que senti nos outros locais míticos: quer se acredite ou não há uma aura, um ambiente, um respeito pelos que acreditam e se entregam. Não importa se é por motivos religiosos, desportistas ou tradicionais. A abnegação, a entrega a uma causa sempre me mereceram respeito. E foi com essa postura que ontem pisei aquele recinto. Que mais não fosse porque ao ver um bicho que é uma autêntica bizarma a apenas meia dúzia de metros de mim, ainda que protegida por uma barreira, sente-se obrigatoriamente respeito. Depois o silêncio antes de cada pega: o nosso, da audiência, em expectativa; o deles, homens destemidos, a encarar o touro. Impactante é o mínimo que se pode dizer daqueles instantes. 
 
Quanto ao sofrimento do animal prefiro não me alongar em detalhes e considerações que sei não recolherão unanimidade. Dado que não sou uma pessoa animaleira, pese embora seja incapaz de tolerar maus tratos a animais, ver o toiro com as farpas espetadas não me repugna por aí além [sim, já tenho as malas aviadas para me pôr a caminho do Inferno]. Ainda por cima ontem pude confirmar (e bem perto) que os touros não derramam aquele mar de sangue que os defensores dos direitos dos animais denunciam. Eu já ouvi vacas a parir, já as vi sofrer enquanto lhes cortam os cornos e posso afiançar que ontem nenhum dos animais esteve em momento algum em sofrimento profundo. Mas entendo que haja quem considere uma prática bárbara. E até assumo que assim seja, mas mais por ser gratuita e menos pela violência em causa.
 
Se adorei? Não. Se me arrepiei em alguns momentos? Sim. Se me entusiasmei com as pegas? Imenso. No entanto, como diria o Afonso da Maia foi uma «má estreia, péssima estreia». O primeiro grupo de forcados teve uma pega difícil, o forcado foi pisado pelo touro e ficou inanimado por longos minutos. A violência daqueles segundos impressionou-me deveras. Os restantes companheiros, visivelmente afectados, continuaram como puderam. A audiência murmurava entre dentes e rememorava acontecimentos trágicos semelhantes. A minha vontade foi sair de imediato dali. Não lido bem com a ideia de que "the show must go on" quando um deles pode ter o futuro comprometido por uma lesão vertebral irreversível. Acerca disso, nos blogs que referi anteriormente, pude ler críticas que apontavam dedos aos organizadores e que usavam como argumento as lesões de um forcado contraídas no ano anterior, quase defendendo o rapaz, quando na altura estavam em campos opostos da batalha. Caríssimos, ontem um desses rapazes esteve lá, para receber uma merecida homenagem, e creio que isso é mais do que simbólico e diz muito das convicções daquela gente. Podemos concordar ou não, mas devemos-lhe respeito. Afinal de contas, não esqueçamos que os motivos que originaram o aparecimento dos Grupos de Forcados se prendem com a defesa do Rei, com a valentia dos homens que se batiam contra os animais para defender uma pessoa.
 
Se quero voltar lá? Tão cedo não! Se sou a favor de touradas? Não sou contra. E tiro o meu barrete aos Forcados. É uma daquelas coisas que não se explica. Sente-se. E ontem, a intensidade que se vivia nas barreiras foi das coisas mais fortes que já senti.
 
 
 

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