quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Também eu poderia ter sido convidada para continuar "Os Maias", mas dá-se o caso que eu acho que eles já são perfeitos tal como foram escritos.

«Depois Carlos, outra vez sério, deu a sua teoria da vida, a teoria definitiva que ele deduzira da experiência e que agora o governava. Era o fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada recear... Não se abandonar a uma esperança - nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves. E, nesta placidez, deixar esse pedaço de matéria organizada, que se chama o Eu, ir-se deteriorando e decompondo até reentrar e se perder no infinito Universo... Sobretudo não ter apetites. E, mais que tudo, não ter contrariedades.
Ega, em suma, concordava. Do que ele principalmente se convencera, nesses estreitos anos de vida, era da inutilidade do todo o esforço. Não valia a pena dar um passo para alcançar coisa alguma na terra - porque tudo se resolve, como já ensinara o sábio do Eclesiastes, em desilusão e poeira
 
Os Maias, Cap. XVIII

 
Dei-me conta ontem que é mesmo verdade aquilo que se diz sobre as coisas mais surpreendentes da vida sucederem quando estamos distraídos. E também é verdade que as maiores lições chegam de onde/quem menos se espera. Se para o Eça (pela boca das suas personagens) nada há nesta vida que valha a pena o esforço, já eu, depois de atentar nas palavras do Sheldon (Big Bang Theory), conclui que tudo na vida de resume ao poder de encaixe. Já o Carlitos - cá beijinho Maia querido - aflora esse ponto de vista, ali quando afirma que não se deve ter apetites e menos ainda contrariedades. É que, vistas bem as coisas, grandes depressões se arranjam por compararmos a vida real com a idealizada, a que vivemos com a que poderia ser ou ter sido, e, em última instância, a nossa e a dos outros. Esta última ideia pelos vistos até é uma teoria que tem um nome impronunciável em alemão. E não poderia estar mais certa. Tudo depende do grau de aceitação ou negação, de conseguirmos ou não lidar com as frustrações, as contrariedades e até mesmo com a felicidade. Porque (também) há quem tenha medo de ser feliz e não desfrute do momento com receio do que a vida lhe poderá cobrar em troca dessa alegria.